Don Policarpo é escritor, geógrafo e autor da obra infantojuvenil “A Árvore dos Alados”, que narra a história de Dom, um menino de três anos que tem a responsabilidade de defender a humanidade num tribunal sobre biodiversidade. Com o livro, o escritor leva para o universo das crianças reflexões sobre o meio ambiente através da literatura lúdica.
Policarpo afirma que a obra tem essa pretensão. Meio ambiente é um assunto que envolve consumo, produção, uso de recursos naturais, contaminação do solo e da água, uso adequado dos recursos hídricos, etc. Mas para as crianças, ele simplifica o que está acontecendo com o planeta.

“O livro traz informações importantes. Por exemplo, cada animal que vai fazer uma reclamação na árvore traz subsídios locais. Então o peixe, a minhoca e o pássaro vem reclamar que os seus ambientes naturais estão sendo contaminados por poluição, detritos e por contaminações”, disse.
A Árvore dos Alados
A família de Dom tem uma árvore no quintal de casa. Ela é alta e tem troncos largos, galhos longos e folhagem espessa. O menino brinca no quintal perto da árvore e observa que todos os dias vários animais entram e saem dela. Na linguagem lúdica do livro o local é chamado de “A Árvore dos Alados” e funciona como se fosse um condomínio, mas de animais de várias espécies.
No ápice da história acontece um julgamento das ações dos seres humanos contra o meio ambiente e o responsável por defender toda a humanidade é o menino Dom. Diante das acusações, Dom passa a ter conhecimento do impacto das ações humanas em todo o ecossistema.
Na vida marinha, o Sr. Peixe reclama do lixo e das substâncias tóxicas na água; no solo, o Sr. Minhoca reclama da contaminação pelos agrotóxicos e a poluição do ar é a reclamação do Sr. Pássaro.
É com essa história que o escritor Don Policarpo insere numa obra infantojuvenil a importância da conservação do planeta e a necessidade da educação familiar e ambiental.
Presença no ambiente
A posição de Dom no início da história é a mesma de muitas pessoas na realidade, daquelas que não compreendem os efeitos de ações como desmatamento, queimadas, descarte irregular de resíduos na vida de outras pessoas. O problema para Don, o escritor, se resolve com educação ambiental em casa e na escola.
“Educação ambiental é educar para viver no ambiente. Você tem que saber o que pode usar, como tratar os animais, como descartar os seus resíduos. Então educar ambientalmente não é só falar de plantinha e bichinho, é colocar a criança no ambiente e informá-la que no ambiente onde ela vive existem regras”, disse o escritor.

Ariana Cárita Marinho concorda que educação ambiental vai para além da conservação e proteção do meio ambiente. A professora e especialista em ciências ambientais observa que o tema da proteção da natureza é tratado com uma perspectiva de contemplação.
“E a ideia não é contemplação. A ideia é que o indivíduo se sinta parte do ambiente no qual ele está inserido. Ele é parte desse meio ambiente. E o meio ambiente não é formado só pela natureza intacta, é um ambiente construído e transformado. Então a gente não está falando de preservar o que é natural, mas de conservar o meio em que estamos inseridos em vista de conservar a própria vida humana”, destacou.
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Consciência ambiental
A formação em educação ambiental parte do princípio da construção da consciência desse pertencimento, que para Ariana não é individual, mas coletiva. “A conscientização individual é importante, mas se não houver uma conscientização de uma ação coletiva não vai ter impacto nenhum no ambiente como um todo”, explicou.
Ariana Cárita Marinho é formada em ciências biológicas, portanto, licenciada para dar aula de ciências da natureza. Ela contou que na profissão pensa no meio ambiente de forma muito natural e que o estudo naturalmente mostra o quanto ele está sendo degradado. Diante disso, ela quis levar os estudos adiante e se especializou ainda mais na área ambiental.
“A gente tem que refletir sobre a mobilização de recursos para a melhora ambiental. Nesse sentido, me atentou ao fato da educação ambiental quando eu fui fazer o mestrado, então fiz o mestrado em ciências ambientais. Eu busquei essa perspectiva da educação ambiental porque eu via dentro da minha área de trabalho, que é o ensino de ciências, um meio de promover algum tipo de mudança”, destacou.
Embora tenha consciência de que a mudança é coletiva, Ariana afirmou que de alguma maneira ela precisa existir. No caso dela, se tornou professora. “Os sistemas de ensino abarcarem a promoção dessa mudança já é o início de um processo para formar cidadãos conscientes que questionam e mobilizam as suas ações em prol dessa mudança”, disse.
Como pensar a educação ambiental?
O Brasil tem uma Política Nacional de Educação Ambiental que estabelece a construção de valores sociais, conhecimentos, habilidades e competências voltadas à conservação do meio ambiente e ao bem de uso comum do povo. A lei diz que educação ambiental “é um componente essencial e permanente da educação nacional”.
“Ela estabelece que a educação ambiental deve ser desenvolvida com uma prática educativa integrada contínua e permanente em todos os níveis e modalidade de ensino formal, que são as escolas, mas também os processos educativos não formais, aí a gente fala de museus e parques. E também os informais, que é a educação promovida nas famílias, nas igrejas, nos grupos e coletivos”, explicou Ariana.
Segundo a professora, a educação ambiental abarca um grupo de disciplinas porque trata-se do meio ambiente em que o ser humano está inserido. O senso comum coloca o assunto em ciências. No entanto, Ariana afirmou que o tema requer conceitos de ciências, geografia, sociologia, filosofia, matemática, português, ciências da natureza e história para fundamentar o processo formativo ambiental.
“A educação ambiental não é sobre uma natureza intocada”, disse. São necessários os conceitos de história para que o indivíduo entenda o processo histórico o qual foi desenvolvido até chegarmos onde estamos hoje, os processos produtivos que levaram aos modos de produção, a exploração ambiental, os processos de espaço da geografia. Então todas as disciplinas devem contemplar esse aspecto da educação ambiental porque o ambiente faz parte do núcleo central de todos os conceitos de todas as disciplinas”, explicou.
Experiência lúdica para as crianças

No livro “A Árvore dos Alados”, o escritor Don Policarpo evoca a participação da família na formação ambiental das crianças. Policarpo disse que a primeira infância, faixa etária do garoto da história, é a mais importante para aprender porque a criança começa a perceber o mundo em que vive e é necessário informá-la sobre o que está acontecendo nele.
É da educação informal que ele fala e que a professora Ariana contou que é prevista na lei. Para o escritor, essa educação é a ambiental de fato e a educação escolar vem para complementar o que é recebido em casa. Para ele, no ambiente escolar as informações são entregues em cartilhas e, então, é preciso simplificar. “O papel da escola é fundamental desde que se faça com que a criança entenda as informações que estão nas cartilhas”, afirmou.
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A linguagem lúdica é a mais acessível para as crianças e Don Policarpo exemplificou lembrando que os livros para crianças não letradas são de pintura. “Temos que entender que para que elas nos entendam, nós precisamos falar a mesma língua. Porque senão a gente vai estar só jogando informação no ar e informação jogada que talvez não seja compreendida”, disse.
O escritor destacou que duas coisas são necessárias para atingir a educação ambiental: que se passe a informação correta e que depois quem aprendeu consiga reproduzir a informação. “Nós temos que nos preocupar com isso. Não adianta você falar e a criança não conseguir reproduzir o que você está falando”, apontou.
Qual é o papel da escola na educação ambiental?
“Eu acho que seria ingênuo da nossa parte pensar que a escola dá conta de resolver todos os problemas da sociedade”, respondeu a professora Ariana Cárita Marinho. “A escola tem como principal objetivo transmitir os conceitos das disciplinas, fazer essa conexão entre os conceitos, essa interdisciplinaridade e promover esse desenvolvimento da consciência”. disse.

Mas a professora ressaltou novamente que a questão ambiental é coletiva, principalmente porque o ser humano é um ser de vivência social e a vida humana está fundamentada na coletividade.
“Ao orientar um aluno sobre a reciclagem, sobre a coleta seletiva em casa, isso vai resolver a questão ambiental? Não, não vai. A gente está desenvolvendo no aluno uma consciência individual, que é muito importante, porque o somatório dessas consciências individuais podem trazer algum resultado”, destacou.
Há várias formas dos diversos atores da sociedade contribuir com a educação ambiental. Don Policarpo faz sua parte com a literatura infantojuvenil e a professora Ariana Cárita Marinho na sala de aula.
“É preciso uma consciência coletiva, não bastando ser o indivíduo pessoa física, tem que ser uma consciência coletiva geral, para que seja mobilizado as reivindicações mesmo dos grandes predadores da natureza, que são de fato os grandes consumidores dos recursos naturais”, disse a professora.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 04 – Educação de Qualidade.
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