Iniciativas de educação ambiental no espaço de trabalho podem gerar mudanças culturais e estimular mais pessoas a se engajarem em novos hábitos. Esses resultados foram obtidos em projetos ambientais criados por empresas de Goiânia, através dos próprios trabalhadores. As ações envolvem a redução e o reaproveitamento de resíduos e deram origem até mesmo a uma horta suspensa em um shopping.
O projeto Eco Flamboyant foi criado há 7 anos e desenvolve uma horta no terraço do prédio, que fica no Jardim Goiás, região sul da capital. Diversas variedades de hortaliças e frutas são cultivadas pelo ‘seu’ Miguel, agricultor do shopping. Ao todo, trabalhadores de 19 lojas do shopping recebem a cada dois meses uma cesta de alimentos produzidos na horta.
O sistema produz alimentos orgânicos e foi projetado para ser sustentável. De acordo com o gerente de operações Roberto Lourenço, responsável pelo projeto, não são utilizados agrotóxicos na horta.
As caixas que formam os canteiros são recicláveis e a fertilização da terra é feita com adubo orgânico que é produzido por meio da compostagem de resíduos orgânicos do shopping.
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Todo o processo começa na praça de alimentação, onde uma equipe faz a separação entre os resíduos comuns e os orgânicos. O material é encaminhado para a Central de Resíduos, um local destinado à separação de todos os resíduos gerados no shopping. Mais de 200 toneladas de resíduos são separadas por mês na Central, segundo Lourenço.
Desse total, 20% é reciclado e 2%, cerca de quatro toneladas do total separado mensalmente, é encaminhado para a compostagem, um processo que transforma resíduos orgânicos em adubo natural.
De toda a compostagem, 15% do adubo é utilizado na fertilização da horta suspensa, e o restante é doado.
“Nós doamos para instituições que têm hortas, como Cmei’s (Centro Municipal de Educação Infantil), escolas municipais, a Amma (Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia), a Saneago. Nós fazemos questão de dar uma destinação para todo o nosso composto para que eles possam servir a outras famílias e fazer parte do nosso projeto social também.”
Engenharia sustentável
Políticas de redução e reaproveitamento de resíduos podem ser adaptadas conforme a dinâmica de cada setor econômico. No caso da construção civil, por exemplo, a alta quantidade de resíduos exige ainda mais esforço para mitigar os impactos ambientais dessa atividade.
Uma construtora de Goiânia adota medidas de separação e descarte de lixo eletrônico que vão desde o escritório até os canteiros de obras. A empresa possui a certificação ISO 14001, uma norma técnica que especifica os requisitos para a implementação de um sistema de gestão ambiental com práticas sustentáveis em produtos e serviços.
No escritório e nas obras, as lixeiras comuns foram substituídas por recipientes inspirados nas latas da coleta seletiva para separação dos resíduos recicláveis, não recicláveis e da matéria orgânica, além de recipientes específicos para o descarte de pilhas, equipamentos eletrônicos e fios elétricos.
Descarte adequado
Além de possibilitar o descarte adequado e a reciclagem, a separação dos resíduos garante maior eficiência na reutilização dos materiais.
“O papel a gente reutiliza as caixas, os canos a gente reutiliza porque nós fazemos lixeiras e vasos de plantas com eles. Materiais metálicos a gente reutiliza também, fazemos proteções de periferias com as sobras do metal, fazemos prateleiras, nosso almoxarifado foi tudo feito com sobras de vergalhões usados na obra”, explica a técnica de segurança Ana Cristina.
Um dos maiores vilões do meio ambiente no espaço de trabalho é o copo descartável. Os trabalhadores recebem um copo reutilizável e dobrável. Ele pode ser transportado até mesmo no próprio bolso. A meta é acabar com o uso do copo descartável.
“O profissional pode andar com esse copo dentro da obra. Ele toma água, no final do dia ele pode usar, pode lavar”, explica o engenheiro Luiz Antônio.
Um kit de emergência ambiental é posicionado ao lado do armazenamento de produto químico. É o local em que há mais probabilidade de vazamentos.
“Temos um profissional habilitado, treinado pelo Corpo de Bombeiros para manusear esse kit. Se tiver um derramamento, ele tem que colocar a luva, os óculos para proteger os olhos, a bota de borracha e usar a serragem, que é reutilizável”, explica Ana Cristina.
Outra iniciativa adotada nos canteiros de obra, é a utilização de banheiros modulares, que são reutilizados em outras obras e não geram resíduos.
A empresa instalou um bicicletário para estimular o transporte não-poluente e monitora semanalmente o nível de ruído no entorno da obra. O isopor está em processo de suspensão nas construções, devido à dificuldade de descarte adequado.
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A estagiária da área jurídica, Thamires Almeida, conta que as práticas adotadas na empresa acabam se incorporando na rotina.
“É muito bacana enxergar como isso vira uma rotina, trazendo para o nosso dia a dia a naturalidade para levar daqui pra casa. Em todos os níveis e modalidades, não só educacional, mas profissionais também, a educação ambiental precisa estar presente e a gente precisa abrir os olhos pra isso”, avalia a estudante de Direito, de 22 anos.
Práticas sustentáveis no ambiente de trabalho, como o projeto Eco Flamboyant e as ações da Sousa Andrade, se alinham aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 8 e 11 da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
Repense
Esta reportagem integra a segunda temporada da série Repense desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Renapsi e da Fundação Pró Cerrado.
Ao longo de 48 episódios abordamos temas relativos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) da Organização das Nações Unidas ONU. Nesta reportagem a temática inclui o ODS: 04 – Educação de Qualidade.