A comunidade da Universidade Federal de Goiás (UFG) vai escolher, nos dias 24 e 25 de junho, os novos nomes que devem comandar a instituição a partir de 2026. O edital da consulta foi publicado na última semana e estabelece as regras para a formação da lista de indicados aos cargos de reitor(a) e vice-reitor(a). A atual gestão, encabeçada pela professora Angelita Pereira de Lima, encerra o ciclo de quatro anos no fim de 2025.
A escolha envolve voto direto e secreto de professores, técnicos e estudantes, com pesos proporcionais entre os segmentos. A chapa mais votada costuma embasar a decisão final do Conselho Universitário, que envia uma lista tríplice a Brasília. Cabe ao presidente da República a nomeação oficial. No governo Lula, a tendência é que o nome mais votado pela comunidade acadêmica seja respeitado. A consulta marca um dos momentos mais importantes da vida institucional da universidade.
Lista tríplice e escolha presidencial
Apesar de ser chamada de “eleição”, a consulta na UFG tem caráter consultivo. O resultado não define automaticamente quem será o reitor ou reitora. O nome mais votado serve de referência para o Conselho Universitário da instituição, que tem a prerrogativa de elaborar uma lista tríplice com três candidatos.
Essa lista é então enviada ao Ministério da Educação e, em seguida, à Presidência da República. Cabe ao presidente da República nomear um dos nomes listados. Na prática, o costume tem sido o de respeitar a vontade da comunidade universitária, indicando o primeiro colocado da consulta.
A exceção mais recente foi em 2021, quando a atual reitora da UFG, Angelita Pereira de Lima, foi nomeada apesar de ter sido a terceira colocada na consulta interna. À época, a decisão foi tomada pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), gerando reações críticas dentro e fora da universidade.
Desde então, o tema da autonomia universitária voltou com força ao debate. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que assumiu o governo em 2023, se comprometeu publicamente a respeitar a escolha da comunidade acadêmica em todas as universidades federais. Até agora, em nomeações feitas no seu mandato, tem seguido essa linha.
Comunidade vai às urnas em junho
O processo começa com uma consulta à comunidade universitária — docentes, técnicos administrativos e estudantes — por meio do sistema eletrônico da universidade, o SIGEleição. O pleito será realizado a partir das 8h do dia 24 até às 21h do dia 25 de junho.
A consulta pública é organizada por entidades representativas da própria comunidade acadêmica, entre elas o Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (ADUFG-Sindicato), o Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos (SINT-IFESgo), o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e a Associação de Pós-Graduandos (APG). Juntas, essas entidades formam a Comissão Organizadora da Consulta (COC), responsável por conduzir todo o processo.
Conforme previsto no edital, podem votar os docentes e técnicos ativos e aposentados da UFG, além de estudantes de graduação, pós-graduação stricto sensu e do CEPAE, com idade a partir de 16 anos. Servidores aposentados sem acesso ao SIGEleição terão a opção de participar por meio de urnas presenciais, em locais ainda a serem definidos pela comissão.
Consulta paritária entre segmentos
O modelo adotado pela UFG é o da consulta paritária. Isso significa que o peso dos votos é dividido igualmente entre três segmentos da comunidade: docentes, técnicos administrativos e estudantes. Cada grupo representa um terço do total. A apuração considera o índice de votação proporcional de cada chapa dentro de cada segmento. A chapa que alcançar a maior soma dos três índices é considerada a mais votada.
Caso haja empate, o critério de desempate leva em conta, primeiro, a antiguidade do candidato ao cargo de reitor no magistério superior da UFG. Persistindo o empate, é considerada a idade dos candidatos, vencendo o mais velho.
As candidaturas devem ser inscritas em chapas, compostas obrigatoriamente por um(a) candidato(a) à reitoria e um(a) à vice-reitoria. O prazo de inscrição será entre os dias 20 e 21 de maio, e as chapas devem apresentar toda a documentação exigida no edital, como fichas funcionais e comprovação de vínculo ativo com a universidade.
Debate sobre projetos e futuro da UFG
Durante o período eleitoral, a universidade será palco de debates e apresentações de propostas das chapas. Os encontros serão organizados pelas entidades que compõem a COC e poderão ser realizados de forma presencial, online ou híbrida. Os temas costumam girar em torno de políticas de assistência estudantil, expansão de vagas, gestão de orçamento, transparência e relacionamento com a sociedade.
A legislação interna proíbe práticas comuns em eleições convencionais, como uso de brindes, camisetas, outdoors, faixas, colagens em muros ou propagandas em mídias comerciais. Nas redes sociais, é permitido o impulsionamento de até três peças publicitárias a cada sete dias, desde que até o dia 20 de junho. A divulgação das candidaturas é restrita ao ambiente da universidade e à internet, com exigência de comunicação prévia à COC.
O uso de espaços institucionais oficiais, como canais da UFG ou unidades acadêmicas, é vetado para qualquer campanha. Também não é permitido o uso de som automotivo ou material que cause dano ao patrimônio público. Veículos de imprensa só poderão entrevistar candidatos com autorização expressa da comissão.
O papel da reitoria e os desafios da gestão
O cargo de reitor(a) é o mais alto posto administrativo dentro de uma universidade federal. A pessoa escolhida passa a ser responsável por representar a instituição em órgãos públicos e privados, definir a composição de pró-reitorias, coordenar políticas acadêmicas e administrativas e tomar decisões que afetam diretamente os rumos da instituição.
A gestão também lida com temas como orçamento, manutenção de infraestrutura, definição de políticas de inclusão, combate à evasão, ampliação de projetos de pesquisa, extensão e inovação. Em tempos de cortes de recursos federais e instabilidade orçamentária, o cargo exige, além de liderança, habilidade política para articular apoios internos e externos.
Por isso, o processo de escolha mobiliza diferentes setores da universidade. Mais que uma formalidade institucional, a consulta é vista como um momento de disputa de projetos, visões de universidade e estratégias de inserção da UFG na sociedade brasileira.
Participação
A Comissão Organizadora da Consulta reforça a importância da ampla participação da comunidade no processo. O voto de cada segmento é essencial para garantir legitimidade ao resultado e fortalecer a autonomia da instituição diante do poder público.
A lista de eleitores será divulgada até o dia 13 de junho, nos canais oficiais das entidades organizadoras. Qualquer contestação ou solicitação de inclusão deverá ser feita em até 48 horas após a publicação. A expectativa é que o processo ocorra dentro da normalidade, com lisura e transparência, como tem sido nas consultas anteriores.
Ao final da apuração, a COC elaborará um relatório final com os resultados, que será encaminhado às entidades organizadoras e ao Conselho Universitário. A partir daí, o processo segue para Brasília, onde será tomada a decisão final.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 04 – Educação de Qualidade.