O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participou de videoconferência com padres, leigos conservadores, sacerdotes, parlamentares e demais representantes da Igreja Católica. No encontro, ocorrido no último dia 21 de maio, o chefe do Executivo recebeu propostas de sistemas de emissoras católicas para a realização de parcerias e alianças em troca de recursos públicos.

Estamos um pouco enciumados. Hoje a gente fica um pouco feliz de fazer essa reunião. Enxergamos essa reunião como um gesto importante de aproximação, mas ao mesmo tempo também como uma grande oportunidade de nós potencializarmos o trabalho e atuação dos católicos nas mais diversas áreas. Sempre atuamos nos temas da defesa da vida e da família, temas estes que o senhor defende sempre”, disse o deputado federal por Goiás, Francisco Jr. (PSD-GO).

A reunião pública foi transmitida pelo canal no Youtube do Palácio do Planalto e pela TV Brasil, e mediado pelo líder do governo, deputado Vitor Hugo (PSL-GO). No encontro, os participantes prometerem “mídia positiva” para o governo federal. Em contrapartida, pediram anúncios estatais e outorgas para tentar expandir a rede de comunicação.

Temos aqui representantes de uma rede de comunicação fantástica, capaz de alcançar todo o país com muita qualidade, com um diferencial muito grande. Rede Vida, Século 21, Canção Nova, TV Aparecida, Pai Eterno, Rede Vida, Evangelizar”, destacou o deputado goiano.

A Secretaria Especial de Comunicação Social do Governo Federal do Brasil (Secom) do Governo Federal possui o quinto maior orçamento do Executivo, com R$ 123,7 milhões em contratos com agências de publicidade.

O presidente disse que trataria do assunto pessoalmente (Foto: Reprodução/Youtube/Palácio do Planalto)

O presidente Jair Bolsonaro, que diz ser de família católica, prometeu tratar pessoalmente do assunto pessoalmente e delegou ao deputado Vitor Hugo a tarefa de conversar com o secretário Fábio Wajngarten e com o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.

Me sinto muito honrado, fortalece a nossa política, rejuvenesce a nossa alma, porque quando tem pessoas maravilhosas que têm Deus acima de tudo no coração e falam conosco, obviamente nós aqui nos sentimos fortalecidos e protegidos”, conclui.

CNBB

Por meio de nota enviada a pedido do jornal Estadão, que também veiculou matéria sobre o assunto, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação, juntamente com a SIGNIS Brasil e a Rede Católica de Rádio (RCR), associações que reúnem as TVs de inspiração católica e as rádios católicas no Brasil, “esclarecem que não organizaram e não tiveram qualquer envolvimento com a reunião entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, representantes de algumas emissoras de TV de inspiração católica e alguns parlamentares, e nem ao menos foram informadas sobre tal encontro”.

No documento, a CNBB afirma ainda que “as emissoras intituladas “de inspiração católica” possuem naturezas diferentes” e que algumas “são geridas por associações e organizações religiosas, outra por grupo empresarial particular, enquanto outras estão juridicamente vinculadas a dioceses no Brasil” e que estas “seguem seus próprios estatutos e princípios editoriais”.

Ainda segundo a nota, a CNBB afirma que “nenhuma delas e nenhum de seus membros representa a Igreja Católica, nem fala em seu nome e nem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que tem feito todo o esforço, para que todas as emissoras assumam claramente as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil”.

A CNBB diz ainda que recebe “com estranheza e indignação a notícia sobre a oferta de apoio ao governo por parte de emissoras de TV em troca de verbas e solução de problemas afeitos à comunicação” e que a “Igreja Católica não faz barganhas” e que “estabelece relações institucionais com agentes públicos e os poderes constituídos pautada pelos valores do Evangelho e nos valores democráticos, republicanos, éticos e morais”.

A Confederação conclui dizendo que não aprova “iniciativas como essa, que dificultam a unidade necessária à Igreja, no cumprimento de sua missão evangelizadora, “que é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (Papa Francisco, EG, 176), considerando todas as dimensões da vida humana e da Casa Comum” e que é “urgente, sim, nestes tempos difíceis em que vivemos, agravados seriamente pela pandemia do novo coronavírus, que já retirou a vida de dezenas de milhares de pessoas e ainda tirará muito mais, que trabalhemos verdadeiramente em comunhão, sempre abertos ao diálogo”.

Assista a reunião a seguir

Atualizada às 08h55 do dia 7 de junho de 2020, para acréscimo de nota da CNBB