Quando iniciei a atuação no jornalismo esportivo, Fernandinho já havia encerrado a carreira de jogador de futebol, há quase 10 anos. Jamais o entrevistei, embora, a exemplo de todos os que o viram jogar, fosse seu admirador ferrenho, mas a vida não me deu esta oportunidade.

Muito criança, o vi jogar no Campinas e depois no Vila Nova. Chegou com a luz que acompanha as grandes estrelas, fazendo parte de um elenco que conquistou um título histórico, em 1973, naquela decisão que começou na noite de quarta-feira, foi madrugada adentro e terminou nas primeiras horas da quinta-feira. O Vila Nova venceu o Goiás nos pênaltis: Fernandinho e Carlos Alberto do Vila foram expulsos, ou seja o Vila foi campeão jogando com 9 jogadores contra um Goiás com 11.

Com o mesmo brilho com que chegou no Vila, Fernandinho saiu para se juntar a outra luz que iluminava os gramados, no Santos – um certo camisa 10, conhecido como Pelé e depois voltou para o Vila Nova, e novamente brilhou como titular absoluto num time que ganhou quatro campeonatos goianos seguidos: 1977, 1978, 1979 e 1980. Somando estas quatro conquistas regionais com a de 1973, Fernandinho ganhou cinco títulos goianos no Vila Nova. Ainda na condição de torcedor, conhecia a sua trajetória. Veio do futebol Anapolino onde jogou no Anápolis e Grêmio, para o Campinas, que no final de 1972 foi encampado pelo Vila Nova e foi assim que ele se tornou atleta do Tigrão. Foi para o Santos em 1974 e depois retornou ao Vila para ser tetra.

Conheci Fernandinho numa situação inusitada que me deu consciência que o pequeno grande craque era também um grande homem. Havia saído da TV Serra Dourada para ir trabalhar na TBC. Cheguei a um supermercado próximo à minha casa e vi que um homem baixinho, com entradas salientes na testa se encaminhou em minha direção. Chamou-me pelo nome e estendeu a mão: “Prazer. Sou Fernandinho, ex-jogador do Vila Nova e gosto muito do seu trabalho”. Tremi diante de tanta humildade.

Ele estava esperando pelo comprador do supermercado. Trabalhava como representante comercial e, ao me ver, veio com toda aquela simpatia. Quando soube que estava esperando, não perdi tempo e o convidei para um lanche, lá mesmo no supermercado. Foi aí que soube que não ficou no Santos porque a ida foi por empréstimo e quando terminou o Vila Nova se negou a remprestar, pois tinha um Campeonato Brasileiro para disputar. Falou sobre a admiração por Pelé e da humildade do Rei. Contou que veio de Santa Maria da Vitória – BA, aos sete anos. O pai tinha um caminhão e trazia nordestinos para trabalhar na construção de Brasília (o conhecido pau de arara) e como ficava mais aqui do que lá, trouxe a família para Anápolis. Falou sobre os outros dois irmão que também foram jogadores de futebol: Zé Teodoro e Gilson Bonfim. Sobre a esposa e os três filhos, relatou que tinha nove irmãos e falou com brilho no olhar sobre o amor pelo Vila Nova. À medida que fui perguntando ele foi respondendo e aproveitei para perguntar o que o tempo me propiciou. O comprador pelo supermercado chegou, Fernandinho fez questão de pagar os quatro pastéis e os dois sucos de laranja.

Fiquei impressionado com a humildade daquele homem, com sua atenção, com sua educação e sua disposição para fazer amigos. Depois desta, o encontrei outras vezes, mas nunca mais conversamos por tanto tempo. Tinha uma característica marcante: não cumprimentava ninguém com aceno de mão distante. Vinha até a pessoa estendia a mão para um aperto afetivo e respeitoso.

Quando vim para a Rádio 730 – hoje Rádio Sagres 730 – nos encontramos na porta do prédio onde a Rádio funcionava, no centro de Goiânia. Estendeu a mão e cumprimentou pela mudança: “Está no lugar certo. Sou fã desta rádio. Ouço todos os programas esportivoS e fiquei feliz com sua contratação”.

Não conheci homem com tamanho carisma, atenção para com as pessoas, e a cada encontro o encantamento que nasceu vendo o craque jogar futebol cresceu pelo ser humano único e incomparável.

Na sexta-feira (5) desta semana, dia 5 de junho de 2020, vem a notícia da sua morte, em função de um câncer. Cumprindo o isolamento obrigatório pela pandemia, não pude levar meu adeus ao fã/ídolo e sobretudo ao amigo querido. Faço aqui este relato para dizer ao Fernandinho o quanto ele foi grande e importante como atleta e como homem. Vai com Deus, querido amigo.