Uma boa noite de sono garante um descanso físico de qualidade. A otorrinolaringologista, Juliana Caixeta, explicou que o cérebro trabalha intensamente e que o período de sono é importante para a retenção da memória. Por isso, perceber os sinais que indicam distúrbios no sono ajuda a diminuir os impactos do problema na saúde e no bem-estar.
O momento que acordamos é uma boa medida para saber se o sono foi bom, pois quando o descanso acontece com qualidade gera disposição e sensação de descanso. Quando o sono é inadequado, por sua vez, o sentimento é de irritabilidade, sonolência durante o dia, dificuldade de concentração e retenção de informação.
“A memória é consolidada durante o sono REM (Rapid Eye Movement), que é aquele sono que a gente sonha. Além disso, muitos hormônios de saciedade e de crescimento só são produzidos durante o sono profundo. Então, é muito comum que as pessoas que têm distúrbio do sono também tenham distúrbios alimentares porque elas não têm essa regulação da saciedade realizada de forma adequada. Então existe uma relação direta entre a qualidade do seu sono e a sua qualidade de vida durante o dia”, contou. Assista a entrevista completa no Tom Maior.
Sinais de problema no sono
Acordar cansado é o principal sintoma de problema na qualidade do sono. Juliana Caixeta apontou que a necessidade de tirar um cochilo, deitar durante o dia, cochilar assistindo TV, no banco de passageiro do carro e qualquer cochilo fácil, acordar muitas vezes durante à noite e dificuldade de iniciar e manter o sono são sintomas de que a qualidade não está boa.
“E tem um sintoma que é muito importante que é o ronco, tem gente que acha que roncar é normal, mas na verdade o ronco pode fazer parte da síndrome da apnéia obstrutiva do sono que acomete 50% dos brasileiros acima dos 50 anos. Então, roncar não é normal e é preciso procurar ajuda”, disse.
O ronco é um ruído produzido durante a respiração que facilita a ocorrência de problemas cardiovasculares, explicou a otorrinolaringologista.
“O ronco significa que o ar está passando por uma via aérea com áreas de obstrução, então esse ronco nada mais é do que o ar tentando chegar no seu pulmão e não conseguindo fazer isso de forma efetiva. A pessoa que ronca muitas vezes tem paradas respiratórias, queda da saturação de oxigênio durante a noite e isso vai incorrer num risco aumentado de doenças cardiovasculares como infarto e derrame”, explicou.
Bons hábitos para o sono
Juliana Caixeta disse que não tem uma pílula mágica para tratar os distúrbios de sono. O segredo é ter um estilo de vida adequado, como dormir e acordar em horários semelhantes, ou seja, evitar dormir um dia às 22 horas, em outro às duas da manhã e no seguinte às 21h. Esse hábito gera um sono desregulado.
“Outro problema que a gente tem é a falta de atividade física ou fazer exercício muito próximo à hora de dormir. Então, se você quer ter um sono de qualidade faça exercício físico no período matutino”, disse.
Caixeta destacou que durante o exercício o corpo libera muita adrenalina antes de liberar endorfina e dopamina, ou seja, a liberação dos hormônios relaxantes ocorre tardiamente, entre seis e oito horas depois da atividade. Além disso, Juliana citou as dicas clássicas, como evitar as bebidas estimulantes: uso de cafeína, energético, refrigerante, chá estimulante, chá mate verde e branco.
“Mas sem dúvida nenhuma a maior tragédia que nós temos hoje para o sono é o uso das telas. Então, usar a tela antes de dormir vai atrapalhar completamente o seu sono porque isso vai dar um monte de informações que o seu cérebro não precisa naquela hora, vai atrasar o seu sono e vai fazer com que você relembre essas imagens durante à noite”, contou.
Quantidade de horas do sono
A melhor forma de dormir bem, disse Juliana, é ler um livro, pensar em coisas boas e ter um período de relaxamento antes de iniciar o sono. Para as pessoas que não dormem bem, ela recomendou procurar imediatamente ajuda médica. Portanto, a recomendação é para quem ronca e tem insônia.
No caso da insônia, ela contou que o problema é a sensação de ter dormido pouco. Tem pessoas que vão se sentir bem dormindo por cinco horas e outras que sentem mal dormindo sete horas. Então, Juliana Caixeta disse que a quantidade de horas não é o mais importante e sim a sensação da pessoa ao acordar e o cansaço durante o dia. Ela também comentou a média de oito ideal de oito horas de sono.
“Esse é um número que a gente utiliza como média, então a gente faz uma média populacional, mas a gente sabe que um bebê pode dormir 20 horas por dia, uma criança de quatro, cinco anos dorme de 10 a 12 horas por dia. Um adolescente vai dormir às mesmas 8 a 10 horas, mas vai dormir horários atrasados. Então o adolescente tem sono depois da meia-noite e quer acordar 10 horas da manhã, isso é normal”, afirmou.
As pessoas idosas em geral têm noites de sono de cinco a seis horas, mas para todas as idades citadas, Juliana disse que são quantidades suficientes para que as pessoas se sintam descansadas.
O risco dos indutores de sono
Um dos maiores problemas de quem não dorme bem é recorrer aos medicamentos indutores de sono para conseguir dormir. Eles são para casos específicos e com prescrição médica. Contudo, Juliana disse que estamos vivendo uma “epidemia de uso indiscriminado de indutores do sono e benzodiazepínicos”.
“O mais famoso é o zolpidem, um medicamento que está na boca de todo mundo e se você pesquisar na internet você vai encontrar”, contou. Juliana também ressaltou o grande uso de benzodiazepínicos, medicamentos que aumentam os risco de queda e demência.
“Em relação aos outros indutores do sono eles existem uma série de efeitos colaterais como dependência, necessidade de doses maiores para se manter o sono, mas principalmente amnésia”, disse. “Essas medicações só podem ser utilizadas sob prescrição médica com indicações muito restritas e principalmente com o objetivo de se utilizar por um tempo e depois que sejam retiradas”, finalizou.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 03 – Saúde e bem-estar.
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