As relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos (EUA) atravessam um momento delicado desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca. O governo americano anunciou um novo pacote de tarifas sobre produtos importados, atingindo vários países, incluindo o Brasil.
Em resposta, o Congresso Nacional aprovou a Lei da Reciprocidade e a Lei dos Direitos Humanos e da Reciprocidade Econômica, que agora aguardam sanção presidencial.
A nova medida dos Estados Unidos impõe uma tarifa de 10% sobre os produtos brasileiros exportados para o país.
Outros mercados
Outros mercados foram afetados de forma ainda mais significativa: a China, que aplica tarifas de 67% sobre produtos americanos, sofrerá uma taxa de 34%, enquanto a União Europeia será taxada em 20% e o Vietnã, em 46%.
“As barreiras comerciais impostas por outros países, por décadas, causaram um desequilíbrio que devastou nossa economia”, justificou Donald Trump ao anunciar as novas tarifas.
De acordo com ele, a “reciprocidade gentil de tarifas” busca estimular investimentos e trazer indústrias de volta aos Estados Unidos, com uma previsão de US$ 6 trilhões em investimentos.
Mercado financeiro e diplomacia
O impacto imediato da medida foi sentido no mercado financeiro, com oscilações na Bolsa de Nova Iorque. Enquanto isso, a diplomacia brasileira busca entender as conseqüências e avaliar suas próximas ações.
“O Brasil sempre procurou mecanismos multilaterais para resolver disputas comerciais e, neste momento, priorizamos o diálogo”, afirmou o professor de Relações Internacionais da PUC Goiás, Pedro Pietrafeza, durante participação no Pauta 2 do Sistema Sagres.
A Lei da Reciprocidade, que aguarda sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, permitirá ao Brasil retaliar as novas tarifas americanas, caso seja necessário.
“O governo federal terá condições de impor taxas sobre produtos americanos, se for o caso”, explicou Pietrafeza. No entanto, a postura inicial do governo brasileiro é evitar uma escalada na disputa comercial.
Reações globais
A estratégia de Trump tem provocado reações globais. A China e a União Europeia já expressaram forte oposição às novas tarifas e estudam contramedidas.
“Os países estão buscando alternativas ao mercado americano, diversificando suas exportações”, explicou Pietrafeza. No Brasil, setores-chave como agronegócio, aço e petróleo acompanham de perto a situação, apoiando uma abordagem negociadora.
A crise pode se aprofundar nos próximos meses, dependendo da resposta das grandes economias afetadas. “Se União Europeia e China adotarem medidas retaliatórias, o cenário global pode se tornar ainda mais complexo”, alertou o especialista.
Enquanto isso, a diplomacia brasileira busca manter a competitividade de seus produtos, apostando no diálogo como principal ferramenta de negociação. O desdobramento dessa crise comercial terá impacto direto sobre as relações internacionais do Brasil.
Tramitação no Congresso
Aprovada primeiramente na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e posteriormente pela Câmara dos Deputados, a lei foi defendida pelo relator, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP).
“Trata-se de um instrumento que permite ao país reagir quando medidas unilaterais contra ele são adotadas, o que já é prática na União Europeia e nos Estados Unidos”, afirmou Jardim.
O líder do PL na Câmara, deputado Sostiniz Cavalcanti, expressou apoio ao projeto, apesar de manter a estratégia regimental de obstrução em outras pautas. “Nós do PL continuaremos o nosso trabalho de obstrução, mas apoiamos a medida porque o agronegócio brasileiro precisa dessa proteção”, declarou.
Instrumento de negociação
Entretanto, nem todos concordam com a iniciativa. O deputado Gilson Marques (Novo-SC) criticou o aumento de tarifas como resposta a disputas comerciais. “O que estamos votando é uma autorização para o consumidor pagar mais. Se aumentamos o tributo sobre produtos importados, o custo final sobe para a população”, argumentou.
Por outro lado, o líder do PT destacou que a medida será um instrumento de negociação para o Brasil. “Reciprocidade não significa necessariamente retaliação, mas dá ao governo brasileiro uma ferramenta de pressão para evitar prejuízos”, explicou.
Agora, o texto segue para sanção presidencial. Com a nova lei, a diplomacia brasileira e a Camex (Câmara de Comércio Exterior) poderão decidir sobre a aplicação das regras de proteção comercial em negociações futuras com outros países e blocos econômicos.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 08 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico; ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis
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