A tecnologia está em todos os cantos das nossas vidas, de aplicativos de comida e transporte a plataformas de filmes e informações. Mas, a variedade de conexões que a tecnologia permite chegou também nas roupas e acessórios. Então, um grupo de estudantes da Universidade Estadual de Goiás (UEG) em Trindade conectaram moda, tecnologia e saúde e venceram a competição Fashion Tech, na Campus Party, em São Paulo.

Os estudantes criaram o protótipo de uma peça de roupa que detecta crises de ansiedade e ataques de pânico. A tecnologia está na presença de sensores de temperatura e batimentos cardíacos, responsáveis pelo mecanismo que acalma a pessoa. O projeto nasceu e saiu do papel em três dias da Campus Party Goiânia 2023, que ocorreu entre 7 e 11 de Junho.

A estudante Ana Luiza de Andrade Costa contou que o grupo foi para o evento de última hora, após sorteio aleatório da coordenação do curso. Assim, os estudantes só souberam o que iria acontecer quando chegaram no local da Campus Party.

“Chegando lá a gente viu como funcionava as coisas. Mas foi uma experiência muito bacana para todo mundo, o primeiro evento de competição entre outras faculdades, então eu achei muito interessante. Foi muito significante para todos porque mostrou a nossa dedicação e o nosso esforço chegou em um resultado positivo. E ainda conseguimos alcançar aquilo que a gente desejava, foi uma vitória para todo mundo”, celebrou.

Fashion Tech

Ana Luiza de Andrade Costa, João Henrique de Oliveira, Victoria Constantino de Souza e Enzo Coelho são estudantes do curso de Design de Moda da UEG em Trindade. Junto com Jonatas de Assis, que se formou em games pelo Senac, eles formam o grupo que venceu as etapas regional e nacional da competição Fashion Tech da Campus Party 2023.

A Campus Party é o maior festival de tecnologia, cultura digital e empreendedorismo do mundo, com mais de 70 edições em 30 países. O evento ocorre no Brasil desde 2008. A Campus Party já destaca a conexão da tecnologia com relógios e, então, desafiou estudantes de moda a levarem essa ideia para roupas e acessórios.

Assim nasceu o Campus Party Fashion Tech, um lugar para estudantes universitários de moda colocarem em prática ideias inovadoras. A proposta da competição é imersiva, e tudo acontece com teoria e prática em três dias. O primeiro dia apresenta os estudantes ao universo da eletrônica e da programação. Já no segundo dia, os grupos desenvolvem a ideia de um protótipo e no terceiro ocorre um desfile de apresentação dos protótipos produzidos.

“Uma das provas do concurso era desenvolver uma roupa que fosse útil e ajudasse a sociedade. Então nós pensamos em desenvolver uma roupa que ajudasse não só quem sofre com o transtorno de ansiedade generalizada, mas pessoas que estão em volta. Então elas podem ter uma noção de como ajudar nos momentos de crise”, destacou a estudante Victoria Constantino de Souza.

Protótipo

Foto: Divulgação

O protótipo dos estudantes é uma peça de roupa com sensores. João Henrique de Oliveira explicou que a roupa serve para auxiliar pessoas com crise de pânico e de ansiedade. Então, ela identifica crises e pode ajudar as pessoas que possuem o transtorno.

“A roupa tem sensores, sendo um de batimento cardíaco e um sensor de temperatura, um sensor térmico, para que a junção desses dois sinais quando o seu corpo eleva a temperatura e o seu batimento acelera por causa dessa crise, você tem esse aviso no aplicativo e esse mecanismo já começa um processo de massagem cardíaca, ativa um mecanismo de luz para poder te auxiliar na respiração”, detalhou João Henrique.

Antes de desenvolverem a peça, os estudantes pesquisaram sobre os principais sintomas do transtorno generalizado de ansiedade. Victoria, que faz parte do grupo, afirmou que sofre com ansiedade e achou a ideia útil. 

“Eu achei incrível e de forma muito útil porque a nossa roupa vem com sensores que avisam quando o nosso batimento cardíaco acelera e quando a nossa temperatura aumenta, que são sintomas de ansiedade”, disse.

” E ela mesma entrega recursos para amenizar a crise, para a pessoa se acalmar e avisar uma pessoa próxima o que está acontecendo e ter ajuda da forma mais rápida e precisa possível. E então foi pensando nisso para que fosse realmente algo extremamente útil para a sociedade”, completou.

Moda e saúde

Victoria ressaltou que os transtornos psicológicos afetam não só as pessoas que convivem com o problema de saúde como também amigos e familiares. Por outro lado, João Henrique lembrou que uma parcela significativa da população mundial sofre com algum tipo de distúrbio mental.

“É um projeto extremamente importante para a sociedade visto que 14% da população mundial, em média, sofre com algum tipo de distúrbio mental. E a gente sabe que a pandemia trouxe muitos problemas e um deles foi o aumento das crises de ataques de pânico e a ansiedade. Então é interessante essa peça que detecta isso porque o número de pessoas com esse problema aumentou muito”, pontuou.       

Imagem: Campus Party Brasil

O projeto dos estudantes une moda e saúde para combater um problema em alta na sociedade, sobretudo por causa da pandemia. João Henrique afirmou que a Campus Party foi uma oportunidade de trazer uma visão diferente da moda.

“Algo que eu sempre prezei desde que entrei na faculdade e defendo é que moda não é para ser algo fútil, tem todo o conceito por trás das coisas. A moda é extremamente importante para a comunicação e agora a gente vê também a moda para a saúde. Então a moda vem se tornando cada vez mais importante no nosso dia a dia”, destacou.       

Apoio

Moda (Imagem: Campus Party)

Os estudantes foram sorteados aleatoriamente pela professora e coordenadora do curso de Design de moda, Carla Barros Nascimento, e tiveram o apoio dela desde o início do projeto Campus Party Goiânia. “Ela deu muito apoio em todo o processo, tanto na regional quanto na nacional, e eu acho que se não fosse por ela a gente não teria conseguido alcançar os nossos objetivos”, afirmou Ana Luiza.

Carla contou que os prêmios trouxeram um orgulho muito grande para todos da UEG de Trindade, e que foram recebidos com alegria e surpresa. “A gente sabe que cada vez mais a tecnologia está fazendo parte da nossa vida, mas a moda não é o que a gente pensa quando a gente fala de tecnologia.”, disse.

A professora destacou que não havia projeto que envolvesse moda e tecnologia na UEG em Trindade, mas que os estudantes aceitaram o desafio mesmo assim. 

“A gente não tinha um projeto estruturado a respeito disso, fomos convidados meio de supetão, aceitamos participar e tivemos muita sorte com o grupo de alunos que também aceitou participar dessa empreitada conseguir executar muito bem esse desafio e ganhar a etapa aqui e ganhar a etapa nacional. Então isso nos deixou muito orgulhosos, inclusive plantar uma sementinha de que a gente de fato tem que trazer mais essa tecnologia, pensar mais nesse tipo de projeto no curso e eu acho que isso vai ser um marco para o nosso curso”, contou.

Tecnologia na moda

A UEG possui o curso de Design de Moda e também tem curso relacionado a tecnologia, mas não tinha nenhum projeto que unisse as duas áreas. A professora ressaltou o mérito dos estudantes em desenvolver um projeto inovador a partir da ideia de unir moda e saúde.

“O projeto mostra que a moda pode ser usada não só com a função de proteção do corpo e estética, mas também por uma questão de saúde, bem-estar, qualidade de vida e ajudar a salvar vidas ao acalmar uma pessoa”, afirmou. 

Carla elogiou o tema escolhido pelos estudos, pois a tecnologia já faz parte do cotidiano das pessoas e atrelar isso a um problema de saúde que está aumentando mostra que os jovens realmente têm percepção das necessidades da sociedade. 

“É interessante ver essa ideia dos alunos que estão começando suas carreiras e porque foi um projeto totalmente pensado por eles. E a ideia de trabalhar a ansiedade partiu dos alunos, então isso mostra que eles estão preocupados em trazer um bem-estar para a sociedade, em coisas que a gente sabe que está permeando a nossa vida e melhorar isso”, destacou.

Futuro do protótipo

Protótipo (Foto: divulgação)

O protótipo da roupa com sensores que detectam ansiedade e ameniza os sintomas foi a grande vencedora da competição Fashion Tech da Campus Party Goiânia. Como premiação, eles ganharam a viagem para apresentar o projeto na mesma categoria, entre 25 e 30 de julho, na Campus Party em São Paulo. 

O protótipo foi o grande vencedor novamente, e os estudantes foram premiados com medalhas, materiais de estudo e um curso na Escola Britânica de Artes Criativas e Tecnologia. Enzo Coelho contou que o próximo passo é melhorar o protótipo.

“A gente já está conversando com a incubadora da UEG para possibilitar que ele seja utilizado em uma maior quantidade de peças. E a gente não atua somente dentro dessa área, a gente trabalha e desenvolve peças para o cotidiano. Então, o nosso próximo passo agora é tentar desenvolver a peça e trazer ela de verdade para o público geral”.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU); Nesta matéria, o ODS 03 – Saúde e bem-estar, o ODS 04 – Educação de qualidade e o ODS 09 – Indústria, inovação e infraestrutura.

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