O caso de estupro coletivo sofrido por um jovem de 16 anos no último sábado (21) no Rio de Janeiro, e que vem sendo investigado pela polícia nesta semana, trouxe à tona a discussão sobre a violência sexual contra a mulher e questões comportamentais do ser humano.

Para o psicólogo jurídico criminal, Shouzo Abe de Souza, que concedeu entrevista ao vivo ao jornalista e apresentador Vinícius Tondolo, no programa Super Sábado da Rádio 730, o crime de estupro tem consequências mais graves do que o homicídio.

Ouça na íntegra a entrevista deste sábado (28): {mp3}Podcasts/2016/maio/28/shouzoabedesouzaentrevistasupersabado{/mp3}

 

 “O homicídio é doloroso, é difícil, é terrível, mas você sabe que foi o fim. Acabou ali e então você vai ter que trabalhar com o luto, para que você consiga vivenciar esse luto. Agora o estupro, na verdade você vai vivenciá-lo todos os dias da sua vida. É uma marca como se fosse uma morte em vida”, ressalta.

Só nesta semana, foram noticiados no país pelo menos três crimes de violência sexual contra mulheres. Além do caso do Rio de Janeiro, outro estupro coletivo ocorreu no Piauí, em que a vítima foi atacada por um grupo de cinco homens.

Em Goiás, no município de Catalão, sudeste do estado, uma mulher foi queimada nas partes íntimas e em outras regiões do corpo com soda cáustica e cola instantânea. O autor mantinha um relacionamento extraconjugal com ela, que está internada em estado gravíssimo no Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), em Goiânia.

O psicólogo acredita que os autores dos crimes cometidos perderam a noção de humanidade. Para Shouzo Abe de Souza, o que predomina nestes casos é tão somente a vontade do criminoso de se satisfazer e nada mais.

“Eles têm visto simplesmente um desejo, uma vontade, um querer deles, em detrimento do outro. E nessa parte sexual, eu creio que nós temos um complicador, porque a energia sexual é uma energia que nós carregamos. Especificamente o homem tem um agravante de que essa energia é muito forte muitas vezes age meio irracional ou por instinto. E se a pessoa é violenta e age por instinto, com a sua sexualidade, provavelmente vai causar lesão, danos, e cometer crimes como nós temos visto”, explica.

Os atos de crueldade choraram o país não só entre o público feminino, mas também ao masculino que não concorda com este tipo de comportamento. O psicólogo argumenta que o desrespeito por parte do homem para com a mulher dificilmente poderá ser combatido na fase adulta, e que o ensinamento sobre valores e o respeito ao sexo feminino deve ser incentivado desde a infância.

“Isso tem que ser combatido lá no início. É de pequeno que nós homens aprendemos a respeitar as mulheres, porque não é depois de adulto que esse respeito vai surgir. Isso vem de uma referência. Por exemplo, o meu pai respeitando a minha mãe, eu entendo que eu tenho que respeitar as mulheres. É algo meio inconsciente, mas vai acontecendo dessa forma”, pondera.

Manifestação

Neste domingo (29), mais de 2,3 mil pessoas confirmaram presença em um protesto no Parque Lago das Rosas, a partir das 16h, no Setor Oeste, em Goiânia, por meio de página no Facebook denominada “Repúdio ao Estupro Coletivo – Um basta a cultura do estupro”. A movimentão é um ato de repúdio contra o estupro coletivo a uma jovem de 16 anos, ocorrido no último sábado (21) no Rio de Janeiro.

Em outras capitais brasileiras, já foram realizados protestos na sexta-feira (27) depois do caso de violência sexual contra a adolescente no Rio. Em Salvador (BA), centenas de maninfestantes foram às ruas com o lema “Por Todas Elas”. Na capital paulista, no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo, pessoas que passavam na rua recebiam papel e caneta para escrever uma frase sobre estupro. As mensagens foram afixadas em uma parede em reforma do museu. 

Cidades como Fortaleza, Curitiba e Rio de Janeiro também já têm protestos marcados para este final de semana.