A edição goiana da Expo Favela debateu as oportunidades e os riscos surgidos a partir do desenvolvimento tecnológico, além da inovação na economia e na educação. Nascida no Rio de Janeiro, a feira de negócios ocorre em todo o Brasil e busca conectar empreendedores da favela e do asfalto.

Nesse sentido, entre os debates, destaque para a perda ou criação de empregos, além da formação de novos profissionais, a partir do avanço da Inteligência Artificial.

A conferência, realizada na tarde desta sexta-feira (19) reuniu mesa formada pelos empresários Marcelo Baiocchi e Rubens Fileti. Assim, os dois são representantes classistas e presidem, respectivamente, a Federação do Comércio do Estado de Goiás (FECOMERCIO) e da Associação Comercial e Industrial de Goiás (Acieg). Além deles, estavam presentes o secretário de Tecnologia e Inovação do Estado de Goiás, Zé Frederico, e o professor de Inteligência Artificial da UFG, Anderson Soares.

Eixos

A conversa teve mediação do fundador do app Rurax, Juliano Guimarães, e teve foco em três eixos. Sendo eles, o futuro do mercado de trabalho; formação de uma nova geração de trabalhadores e a participação do Estado na construção de ambiente favorável ao desenvolvimento e inovação. “Favela não é carência, é potência”, indicou Juliano, sobre as novas possibilidades, principalmente nas periferias.

“Alguns empregos vão sumir, mas outros vão ser criados e mais qualificados”

O secretário Zé Frederico rebateu o temor surgido entre trabalhadores a partir das capacidades de ferramentas com Inteligência Artificial, como o ChatGPT. “É o que chamamos na economia de destruição criativa. Alguns empregos vão sumir, mas outros vão ser criados e mais qualificados. É aí que entra a parte mais importante, que é a formação dos profissionais que vão ocupar as novas vagas”, afirma.

Educação tecnológica

O mediador, Juliano Guimarães, destacou que a inovação é responsável pela criação de novas oportunidades e novos negócios. Logo depois, comentou: “Tecnologia não retira emprego. Se perde qualificados, por outros mais qualificados. E temos que fazer esse trabalho educacional como a China fez, na base da população, nessa formação mais tecnológica”, disse durante a Expo Favela.

Marcelo Baiocchi durante fala em evento da Expo Favela (Foto: Sagres Online)

Único da mesa fora da área de tecnologia, Marcelo Baiocchi questionou sobre o perfil de estudantes e futuros profissionais que serão formados em meio às ferramentas de IA. Nesse sentido, pontuou: “Claro que sem tecnologia e inovação, qualquer empresa vai ficar desatualizada e fora do mercado”.

“Quando o José Frederico fala de fazer 10% ou 20% do trabalho, e que a maior parte será feita por IA, eu pergunto: qual vai ser a juventude que vai ser formada?”, indagou o presidente da FECOMERCIO. “Somos do tempo em que éramos muito forçados a aprender e acumular conhecimento. Não vamos produzir uma juventude com preguiça de pensar?”, provocou Baiocchi.

Evolução

O professor Anderson Soares relatou que observa as mudanças entre gerações e que avalia o perfil dos estudantes do curso de IA, na Universidade Federal de Goiás (UFG).

“Também faço esse questionamento. Eu, por exemplo, nasci em 1983 e peguei a onda da informatização. A gente deixou de escrever, enviar e-mail e outras ações analógicas. E diziam que a gente ia ficar ruim. A evolução é natural e essas inquietações são naturais”, disse.

A Expo Favela está entre as maiores feiras de negócios do 4º setor (Foto: Sagres Online)

“Nós tivemos ganhos substanciais em todas as grandes transformações. Esses aspectos geracionais da inteligência artificial são muito interessantes”, completou o professor.  O secretário Zé Frederico avalia que é fundamental ampliar as oportunidades de formação técnica e superior, a fim de que a geração formada esteja preparada para as inovações.

“Para termos o Vale do Silício do Cerrado, nós precisamos ter formação técnica para isso. Estamos planejando uma estrutura nova exatamente par ampliar as oportunidades para essa educação em setores de tecnologia e inovação. Uma obsessão minha é que a tecnologia possa ser uma forma de transformação social”, defendeu.

“Não vamos produzir uma juventude com preguiça de pensar?”

E a favela?

Ao longo da Expo Favela, a única pergunta durante a conferência foi feita pela Débora, moradora de Senador Canedo (GO). Ela relatou que a filha adolescente não consegue ter acesso à educação especializada em inovação e tecnologia. A viagem até a Escola do Futuro mais próxima, do Governo Estadual, demora cerca de duas horas diárias. “O que se faz realmente para a galera que está na base?”, perguntou.

O secretário Zé Frederico admitiu que, de fato, são poucas as unidades de Escolas do Futuro. “Elas são lindas, mas realmente, pra você que mora em Senador Canedo, fica longe. No nordeste goiano, não tem nenhuma”, considerou.

“O que nós estamos fazendo é uma escola do futuro volante, tipo uma carretinha, só que bonita. E aí vamos levar isso para essas regiões. E depois, nós vamos fazer um trabalho de alfabetização digital nas comunidades. Não vamos fingir que a gente já faz tudo, que está tudo certo. Isso tudo é um processo e precisamos mesmo que vocês falem e nos digam o que não está funcionando”, concluiu.

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