A desigualdade social e a dificuldade de acesso à saúde tornam um enorme desafio a ser vencido para o tratamento do câncer de colo de útero. Mas não só isso. Informações falsas também dificultam esse combate. É o que conclui a médica oncologista e oncogeneticista Isabella Tavares. 

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“Afinal estamos falando de informação, de prevenção à saúde, e essa é uma informação muito importante. Quanto mais pessoas tiverem acesso, consequentemente a gente consegue diminuir o risco e esses números que temos tido cada vez mais expressivos. A campanha Março Lilás é importante, ela tem sim cumprido seu papel, mas ainda há muito mais espaço a ganhar até que se consiga erradicar essa doença”, afirma. 

A médica Isabella Tavares (Foto: Sagres Online)

A preocupação com as fake news não é para menos, já que a tendência é de aumento de casos no Brasil. Também conhecido como câncer cervical, o câncer de colo de útero é terceiro tipo mais incidente entre mulheres, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Só perde para o colorretal e o de mama.  

“Temos uma estimativa de 17 mil casos aproximados novos [de câncer cervical] nos anos 2023, 2024 e 2025, conforme essa publicação. É um número que realmente nos impressiona e precisamos de campanhas como essa do Março Lilás para justamente conscientizar a população para assim tomar as devidas providências”, avalia.

HPV

O câncer de colo de útero é um tumor que ocorre a partir de alterações causadas pela infecção persistente do HPV (vírus do papiloma humano), considerada a infecção sexualmente transmissível de maior incidência e prevalência no mundo. A boa notícia, contudo, é que ela pode ser prevenida com medidas simples, como exame de Papanicolau e vacinação, que também é alvo frequente de fake news. 

Vacina contra o HPV está disponível nos postos de saúde para meninas e meninos de 9 a 14 anos (Foto: Pexels/RF._.studio)

“É sempre importante para as mulheres buscarem a prevenção, as consultas de rotina para que assim a gente consiga detectar essas alterações no início e, consequentemente, aumentar as taxas de cura”, analisa Isabella Tavares. 

A vacina contra o HPV está disponível nos postos de saúde para meninas e meninos de 9 a 14 anos. Além disso, a proteção nesses grupo é maior do que em adultos.

De acordo com a especialista, consultas periódicas e de rotina com o ginecologista são fundamentais para a identificação precoce do câncer. Por isso, Isabella Tavares reforça a importância de se ter atenção a possíveis sintomas. 

“Desconforto abdominal, alterações relacionadas à evacuação ou até mesmo sangramento uterino. A mulher pode ter sintomas como uma perda de sangue acima do normal e também a perda de peso, que é um ponto bastante marcante quando se fala em câncer”, enumera. 

Papanicolau

Para mulheres acima dos 25 anos até os 64, e que já tenham iniciado atividade sexual, a recomendação é fazer o exame Papanicolau a cada três anos. Isso vale para quem possui dois exames consecutivos normais. O exame é simples e rápido.

“Casos de pessoas que tiveram alguma lesão previamente devem ser avaliados de forma individual e esse rastreio deve ser feito de forma mais precoce”, complementa. 

O Papanicolau é um teste para detectar alterações nas células do colo do útero. Ademais, o exame também pode ser chamado de esfregaço cervicovaginal e colpocitologia oncótica cervical. O nome “Papanicolaou” é uma homenagem ao patologista grego Georges Papanicolaou, criador do método no início do século passado.

Gestação

A fertilidade também é uma preocupação das mulheres quando o assunto é câncer de colo de útero. Entretanto, Isabella Tavares explica que quando o acompanhamento médico é feito corretamente, em caso de existência da doença, as taxas de cura e de preservação da condição fértil aumentam. 

Foto: Pexels/freestocks.org

“Quando se pode remover [apenas] uma pequena porção do colo, é possível que se preserve a fertilidade da mulher. No entanto, em algumas circunstâncias, é necessário fazer a cirurgia e remover todo o útero. Nessas situações, a gente não consegue preservar o órgão e, com isso, pode sim prejudicar a possibilidade de uma gestação”

Cuidados com a saúde

Segundo a médica oncologista e oncogeneticista, ter uma boa alimentação, ou seja, uma dieta saudável, realizar atividades físicas diárias, manter um peso ideal fazem muita diferença. No caso do HPV, porém, a proteção com uso de preservativo é fundamental para evitar a transmissão do vírus. 

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“Evitar substâncias nocivas como o cigarro, bebida alcoólica, sexo desprotegido são medidas comportamentais muito importantes que impactam de forma significativa na transmissão do HPV”, afirma. 

Colaborou o repórter Júnior Kamenach

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