O anúncio do o cardiologista Marcelo Queiroga como o futuro Ministro da Saúde, o quarto do país desde o início da pandemia do novo coronavírus, em de março de 2020, tornou o Brasil a nação latino-americana com mais trocas na pasta dentre os países que não tiveram uma mudança de governo.

Vale ressaltar que Queiroga ainda não tomou posse oficialmente. O novo ministro só poderá assumir o cargo quando deixar a função de sócio-administrador de uma empresa de serviços médicos em João Pessoa (PB), o Cardiocenter – Centro de Diagnóstico e Tratamento das Doenças Cardíacas.

Na pré-pandemia, Luiz Henrique Mandetta já comandava o Ministério da Saúde, mas em abril foi removido do cargo após discordâncias com o governo sobre o manejo da pandemia.

Nelson Teich assumiu a pasta e menos de um mês depois renunciou por também discordar do governo em relação ao combate à Covid-19. Desde então, Eduardo Pazuello ocupa o cargo. Ele foi nomeado ministro interino em junho e efetivado em setembro do ano passado.

Entretanto, a instabilidade no Ministério da Saúde não é uma exclusividade do Brasil, de acordo com o levantamento do site Giro Latino, ao longo deste ano, 20 países da porção latina da América já tiveram 43 nomeados para comandar os esforços diante maior crise sanitária mundial da nossa época.

A mudança mais recente foi oficializada na sexta-feira (21), após a renúncia do equatoriano Rodolfo Farfán, apenas três semanas depois de ter assumido o cargo, em meio a um escândalo de furo de fila na vacinação, que também já havia derrubado seu antecessor.

O Brasil lidera – ao lado do próprio Equador – o ranking de trocas de ministro entre os países que mantiveram o mesmo governo no período. Porém, campeões absolutos de trocas são justamente aqueles que passaram por instabilidade política ou por trocas de comando por eleições.

Já outras mudanças vieram depois de escândalos. Em fevereiro de 2021, Argentina, Equador e Peru viram a renúncia de seus ministros após a constatação de que atuaram para promover furos na fila de vacinação, em alguns casos para benefício próprio ou de seus familiares.

Peru

No Peru, as quedas de governo também foram acompanhadas de alterações no Ministério. O país chegou a ter três presidentes em uma semana em novembro de 2020 e seis ministros em sucessão ao longo de um ano.

Em novembro de 2020, Abel Salinas durou apenas cinco dias no comando da pasta, ele renunciou durante um protesto contra a repressão violenta às manifestações contra o afastamento de Vizcarra e o governo interino de Manuel Merino, que acabou entregando o cargo.

Outra saída repentina foi a da ministra Pilar Mazzetti, reconduzida ao cargo sob o novo presidente, Francisco Sagasti, que renunciou após escândalo de furo de fila na vacinação. Sua gestão durou apenas três meses.

Bolívia

A Bolívia passou por uma virada no governo após as eleições presidenciais de outubro. As mudanças também refletirão no Ministério da Saúde, o país já está no quinto ministro desde que a pandemia foi oficialmente declarada. Três deles sob Jeanine Áñez e já estão no segundo ministro desde a posse de Luis Arce, em novembro.

O primeiro nomeado do novo presidente foi Édgar Pozo, que permaneceu no cargo somente por dois meses. Após ser infectado pela covid-19, ele abriu caminho para o atual ministro, Jayson Auza.

Antes disso, Marcelo Navajas, o segundo a ocupar o cargo desde o começo da pandemia, foi removido (e preso) ainda em maio de 2020, após compras superfaturadas de respiradores.

El Salvador

Algumas trocas foram realizadas ainda no início, quando governantes acharam melhor colocar alguém com mais experiência para a crise que se instalava no mundo. Caso de El Salvador, que conta uma troca na pasta desde o início da pandemia, mas a efetivou ainda durante o mês de março de 2020.

Chile

No Chile, Jaime Mañalich caiu em junho após ser acusado de manipular os números para estatisticamente passar a imagem de que a situação estava melhor do que na realidade. Atualmente, Enrique Paris comanda o Ministério da Saúde desde a queda de seu antecessor.

Paraguai

No Paraguai, Julio Mazzoleni entregou o cargo no início deste março após o sistema hospitalar entrar em colapso e os paraguaios irem às ruas protestar em vários dias. Julio Borba é o atual titular da pasta.

A continuidade é positiva?

Embora trocas constantes costumem ser indício de fracasso no combate à pandemia, (o Peru, campeão em mudanças, finalizou 2020 como o líder em mortes por milhão de habitantes, e o Brasil não vem muito melhor), manter os ministros em seus cargos também não equivale a uma boa resposta no enfrentamento à Covid-19.

Países com números ruins, como o México, ou acusados de esconder informações por sabotar qualquer esforço de testagem, como o Haiti, nunca alteraram o comando da Saúde.

No entanto, há bons exemplos, como Cuba e Uruguai, que atualmente lutam com uma subida acelerada da proliferação do vírus, mas ainda mantêm números acumulados entre os menores do continente.

Portanto, as exaustivas mudanças no cargo mais importante no último ano até funciona como uma forma de analisar países aspectos políticos relacionados direta ou indiretamente com a pandemia, mas não determinam como cada nação tem enfrentado a doença.

Nessa perspectiva, o mais concreto é observar pacto entre instituições, a solidez das medidas de combate a Covid-19 e o tempo de reação às oscilações do vírus. O que só confirma uma realidade comum aos países latinos.