Mesmo após um 2020 turbulento em razão da Covid-19, 2021 pode se mostrar um novo ano de incertezas na economia e política brasileiras. Esse foi o tema do primeiro Debate Super Sábado da Sagres 730 deste mês de janeiro.

De acordo com o administrador e especialista em Economia, Luiz Carlos Ongaratto, o Brasil não começou bem em janeiro de 2020, mesmo com a pandemia ainda a cerca de dois meses de distância do país. O motivo, segundo ele, tem a ver com o desgaste causado pela aprovação de reformas como a da Previdência em 2019 e a baixa articulação política.

“Já teve um conflito pré-pandemia. O Brasil também não vem de uma década muito boa em relação a crescimento. Nós tivemos uma virada de governo, criamos muitas expectativas e elas não foram colocadas em prática principalmente nos planos econômicos do ministro Paulo Guedes no que tange às privatizações, às questões orçamentárias, o teto de gastos. Enfim, foi um descompasso muito grande que a gente chega na pandemia muito mais fragilizado em questões econômicas”, analisa.

Na opinião do economista, o auxílio emergencial segurou uma queda ainda maior, já que chegou a 67 milhões de brasileiros, um terço da populção. As parcelas de R$ 600 e posteriormente de R$ 300 ajudaram a tirar 15 milhões de pessoas da pobreza absoluta.

“Teve uma injeção muito grande de capital, uma das maiores, creio que a maior da história do Brasil, que foi um dos países que mais investiu nesse tipo de auxílio. Automaticamente ele colhe os frutos de curto prazo, como se ele injetasse bilhões na economia diretamente no consumo, e o consumo é o nosso principal pilar dentro do nosso PIB”, afirma.

O auxílio emergencial chegou ao fim junto com 2020. Para o cientista político e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Pedro Célio, não prorrogar o benefício pode trazer consequências negativas na economia, já que a pandemia continua. Ele aponta três fatores complicadores para 2021. O principal deles é a vacina, que ainda não chegou.

“Primeiro: sem o auxílio emergencial. A função de contenção que ele tem feito nesses meses, não haverá mais. Segundo: o horizonte de soluções para a pandemia não está ainda claro ou definido. Nós sequer temos um cronograma de vacinação e muito menos uma certeza sobre os procedimentos básicos para essa vacinação. Terceiro: a economia já não é a mesma de nove meses atrás. No final de fevereiro para março, parece que o país foi alertado para os problemas previsíveis com a pandemia. Isso modificou o desempenho de vários setores da economia e para um aspecto muito negativo, muito mais de desativação, de perda de investimento, de desincentivo aos cenários produtivos”, conclui.

Para Pedro Célio, até que o país tenha uma vacina contra a Covid-19, até o fato de 2021 ser um ano pré-eleitoral, pode ser um atenuante para a crise.

“É um ano em que os dirigentes políticos, os governantes, as elites políticas nos vários segmentos, vão estar de olho na sucessão do poder, nas formas de reordenamento do Estado brasileiro e das relações desse Estado com a sociedade brasileira, que estão afetadas também gravemente dado o modo de gestão da crise que o atual governo federal imprimiu no país”, avalia. “Pelo menos no primeiro trimestre, até que alguns desses pontos sejam esclarecidos, eu prevejo que teremos um cenário nebuloso e mais cheio de interrogações”, conclui.

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