Futebol Feminino: conheça histórias que têm mobilizado a capital do Tocantins

TOCANTINS – No coração do Brasil, a capital do Tocantins se tornou, nesta semana, o berço de um sonho coletivo – que tem diferentes sotaques, diferentes cores, diferentes origens, mas uma só paixão: o futebol.

Até o próximo dia 30 de abril, Palmas será a sede do Campeonato Brasileiro Escolar de Futebol Feminino, que conta com a participação de representantes de 26 estados e do Distrito Federal, totalizando mais de 600 pessoas entre atletas, comissão técnica e organizadores.

Meninas de norte a sul do país estão em solo tocantinense para a disputa da competição, que dará à equipe vencedora o título de campeã brasileira e a vaga na competição mundial da modalidade, que será disputada no Marrocos.

Morando na cidade de Bonfim (RR), no extremo norte do país, Yohane enfrentou horas de vôo e trocas de fuso horário para chegar a Palmas – Foto: Izabela Martins

Aos 17 anos, Yohane Rodrigues enfrentou uma verdadeira maratona a partir do extremo norte do país para chegar à disputa do Brasileiro. Ela é uma das atletas do C.E.M XVII Aldébaro J. Alcantara, da cidade de Bonfim, em Roraima, na divisa com a Guiana.

Algumas trocas de avião e de fuso horário depois, a equipe desembarcou em Palmas disposta a aproveitar a oportunidade e a visibilidade da competição.

“Foi uma experiência nova pra gente que mora em um município que não tem muita oportunidade de mostrar o nosso talento. Porque lá no nosso município de Bonfim tem várias pessoas também, joga futebol, vôlei, handebol. Essa é uma oportunidade pra gente mostrar pra todos que o nosso município também pode representá-los. A viagem foi um pouco cansativa. E também nunca fiquei tão longe da minha família, mas vale a pena”, contou.

A atleta conta que a paixão pelo futebol aconteceu bem cedo em sua vida. Criada na fazenda, jogava junto com meninas e meninos. A jogadora declara ainda que Marta e Formiga são suas referências, mas logo em seguida revela que na verdade, o esporte e a inspiração estão no sangue.

“A minha mãe é minha referência na minha posição (zagueira). Ela também jogava desde pequena, ela chegou a ir pra Georgetown (capital da Guiana) jogar. Aí eu sempre me inspirei nela. Cada vitória, cada contribuição nesse campeonato vou dedicar primeiramente a Deus, que nos trouxe aqui, e nos deu essa oportunidade, e depois para minha mãe e minha irmã, Savana e Yohara”, afirmou.

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Apoio incondicional

Aos 15 anos, Victória comemora o apoio da mãe na sua trajetória de atleta – Foto: Izabela Martins

As mães são frequentemente lembradas pelas atletas quando falam sobre quem as incentivou a seguir o sonho de jogar futebol, como é o caso da paranaense Victória Borges, de 15 anos.

“Sempre tive apoio da minha família, principalmente da minha mãe. A minha mãe, juro, não tem uma mulher tão forte, às vezes ela deixava de trabalhar pra me levar do outro lado da cidade para treinar, ela sempre me buscou, largou algumas coisas da vida dela pra me dar a oportunidade de jogar e se você me perguntar se eu tenho gratidão por uma pessoa, vai ser a minha mãe. Se sair um gol é pra ela que vou dedicar. E pra minha irmã”, afirmou.

Neste Campeonato Brasileiro, Victória está vivendo novas experiências, graças à oportunidade que teve jogando pelo colégio Tsuru Oguido, de Londrina.

“A primeira vez que viajo para tão longe, foi inexplicável, a primeira vez no avião. Deu medo, eu chorei, porque tenho medo de altura. As meninas do time até me zoam por isso. Eu só sinto gratidão pela oportunidade. Cinco anos atrás quando eu comecei eu não imaginaria estar no brasileiro, nem imaginaria que ia estar num time tão importante, se eu encontrasse a Victória de cinco anos atrás eu sentiria muito orgulho de mim mesma”, pontuou.

E projetando os próximos cinco anos, Victoria já sabe muito bem o que deseja ouvir: “Que sente muito orgulho por não ter desistido, porque apesar das dificuldades, este sempre foi o meu sonho”.

Jogando em casa

Giovanna é de Palmas e conta com o apoio da mãe, Elaine, na torcida pelo Colégio São José – Foto: Izabela Martins

Enquanto a maioria das atletas se divide entre buscar o sonho e sentir saudades da família, algumas atletas do Tocantins, mais especificamente do Colégio São José, de Palmas, têm a sorte de jogar “em casa” e poder contar com o apoio dos familiares.

Esse é o caso da Giovanna, centroavante do time da capital tocantinense que contou com a torcida da mãe, Elaine Moretz-Sohn, do outro lado do alambrado, desde a estreia.

“É uma sensação muito boa contar com o apoio dela. Não é sempre, todas as mães que apoiam as filhas e eu agradeço muito a ela por me apoiar até o fim. Quando sair o gol a comemoração já está preparada para dedicar a ela”, prometeu a atleta.

Já a mãe, admite o nervosismo à beira do campo mas reforça que sua principal missão é apoiar a filha.

“O coração está bem acelerado, bem apertado, nervosa, mas é uma experiência única e as meninas estão arrasando. Sobre a Giovanna jogar futebol, agora estou mais tranquila, mas no início confesso que a preocupação era grande. Mas é o sonho dela e eu incentivo sempre”, admitiu Elaine.

Visibilidade

Thina vê no campeonato a oportunidade de dar visibilidade ao seu futebol e das outras meninas – Foto: Izabela Martins

Em comum, as atletas de todas as regiões brasileiras têm a consciência de que o Campeonato Brasileiro Escolar de Futebol Feminino pode trazer oportunidades e visibilidade.

“Ser jogadora de futebol é meu sonho desde pequena, que eu tinha sete anos, jogando com os meninos maiores, 15, 16 anos, então tipo, eu agora com 17 tenho a experiência que eu queria ter. Eu vim com esse intuito de me mostrar para outras pessoas e quem sabe conseguir um espaço nessa área que eu gosto muito, de coração”, afirmou a jogadora Thina Ketely, que aos 17 anos, também viajou de avião pela primeira vez, partindo de Recife para Palmas.

A zagueira Maria Geovanna, do Piauí, já participou em competições de futsal, mas é a sua primeira vez em competições de futebol de campo. Dividida entre a sensação de ser experiente e ser estreante, a atleta também considera o Brasileiro uma grande vivência.

“Está sendo uma experiência muito incrível. Eu acho que pra quem quer esse ramo e pra quem vê isso como sonho, é algo muito grande. E eu quero muito ganhar isso aqui, porque eu não estou aqui não só por mim, não só por minhas companheiras, mas por todo o Piauí, por todas as meninas queriam estar aqui, nesse lugar onde a gente está, que é altamente incrível, experiência de vida de atleta, realmente profissional”, pontuou.

Seleção Brasileira

Luíza e Duda Calazans são algumas das mais experientes na competição e já dividiram a emoção de uma convocação para seleção brasileira – Foto: Adriano Fontes /CBF

O que para muitas atletas que estão em Palmas ainda é um sonho, para as irmãs gêmeas Luíza e Duda Calazans, já é realidade. Ambas compartilharam em 2022, pela primeira vez, a experiência da convocação para Seleção Brasileira de Futebol Feminino Sub 17 em 2022.

Compondo a delegação do Rio de Janeiro, a dupla joga no Fluminense, e chegou com o objetivo de conquistar a vaga para o Mundial no Marrocos.

Acostumada aos grandes campeonatos, Luíza pontuou a importância da competição para as meninas de todo o país.

“É uma competição muito importante pra abrir portas para todas as meninas, que podem ser vistas, com transmissão, podem buscar oportunidades melhores, e que seja um bom campeonato pra todas”, afirmou.

As duas compartilham um sentimento positivo quando se trata de dividir o campo: “A gente se conhece desde a barriga, temos uma afinidade muito grande, a gente se comunica pelo olhar”, pontuou a meio campo Duda.

Aos quatro anos Luíza e Duda começaram a brincar de bola na pracinha em frente ao prédio em que moravam com os pais, e nunca mais pararam. Quando a família percebeu que as meninas estavam levando o esporte a sério e que tinham talento, começaram a investir e buscar oportunidades.

Em Palmas, as irmãs dividem a experiência com atletas que estão estreando em competições nacionais – Foto: Izabela Martins

Hoje, com tantos sonhos já alcançados, elas ainda querem ir mais longe: jogar pela seleção principal, atuar no Lyon (França) e estabilidade financeira para dar melhores condições à família estão entre os planos.

Apesar da pouca idade, a experiência das irmãs Calazans as permite aconselhar outras tantas meninas que querem seguir os passos como atletas.

“Acho que eu aconselharia a nunca desistir dos seus sonhos e acreditar até o final. E resiliência também, porque nem tudo vem fácil e rápido. É assim, é só acreditar mesmo e ter fé em Deus e assim não desistir”, completou Luíza.

Além da competição, a programação do Campeonato Brasileiro Escolar de Futebol Feminino conta com passeios culturais e momentos de integração entre as delegações. O evento é organizado pela Confederação Brasileira de Desporto Escolar (CBDE) em parceria com a Federação Tocantinense de Desporto Escolar (FTDE), Governo Federal, pelo Ministério do Esporte, e conta com apoio do Governo do Estado do Tocantins, por meio da Secretaria de Educação e Juventude do Estado do Tocantins (Seduc) e Secretaria de Esportes e Juventude (Sejuv) e patrocínio da Pronto Fibra.