2021 pode ser um ano perdido na saúde pública, com inúmeras vidas sendo ceifadas Brasil afora. A economia também pode ter diversos reflexos na economia. A avaliação é da goiana Ana Carla Abrão que assinou em conjunto com um grupo de economistas uma carta elaborada com críticas e sugestões para a condução do combate à pandemia no país. O documento tem o seguinte título: “O País Exige Respeito; a Vida Necessita da Ciência e do Bom Governo — Carta Aberta à Sociedade Referente a Medidas de Combate à Pandemia”

O texto assinado por economistas e empresários contém informações e análises econômicas que usam os dados mais recentes sobre o avanço da doença e os efeitos sobre a atividade no Brasil. Para a ex-secretária da Fazenda de Goiás, economista Ana Carla Abrão, sócia da Oliver Wyman, o Brasil precisa acelerar o ritmo da vacinação para preservar a vida das pessoas e ainda recuperar a economia.

“É preciso resgatar a verdade e a ciência de forma a acelerar a vacinação, pois será a única forma de acelerar a economia. O ano de 2021 será novamente perdido se não conseguirmos acelerar o processo de imunização da população. O que pedimos é a convergência. Isso vai permitir a gente sair de uma situação de estagnação e miséria”, avaliou Ana Carla.

Na carta, os economistas sugerem: antecipar o ritmo de vacinação; incentivar o uso de máscaras; implementar medidas de distanciamento social no âmbito local com coordenação nacional e criar um mecanismo de coordenação do combate à pandemia em âmbito nacional. Ana Carla Abrão defende o embasamento científico para tomada de ações e não falsas notícias ou de cunho negacionista.

“A economia está sofrendo enormemente com esse atraso e portanto esse deveria ser o grande foco. Afinal de contas é a vacinação que vai permitir que a atividade econômica seja retomada, e não só isso, o Brasil tem uma capacidade de vacinação que é referência mundial, e nós não estamos podendo fazer uso da capacidade, por decisões equivocadas que foram tomadas no passado, baseadas em negacionismo e em falsas informações, que a vacina não era segura. Baseou-se uma decisão de política pública de extrema importância para salvar vidas e a economia em fatos errados, falsos”, argumentou a economista.

Ana Carla Abrão ressalta que “não há mais como defender ou falar nesta dicotomia de economia e saúde”. Ela reforça que é importante o controle da pandemia, para termos a efetiva retomada da economia.

“Não é liberando o comércio, tirando da frente as medidas de isolamento que vamos resolver o problema. Não temos mais condições de conviver com o colapso do sistema de saúde”, destacou.

Os economistas e empresários criticam a “liderança política maior no país”, ou seja, o presidente Bolsonaro por desdenhar a ciência, fazer apelos aos tratamentos sem evidência de eficácia, estimular aglomerações e flertar com o movimento antivacina.

Reformas

Paralelo a pandemia, do ponto de vista estrutural na economia, reformas estruturais importantes estão previstas, por exemplo, a Administrativa, a Tributária (o governo enviou apenas uma parte, e há propostas na Câmara e no Senado), além da revisão do Pacto Federativo.

Após a morte do senador Major Olímpio (PSL-SP) na última semana, em decorrência de complicações da Covid-19, houve aumento a insatisfação de parlamentares diante da postura do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento da Covid-19.

Senador cogitam a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para avaliar a conduta do presidente. Outra possibilidade é travar as pautas governistas que não tiverem relação direta com a crise, entre elas algumas reformas importantes, como a do Marco das Ferrovias, que tem discussão mais amadurecida.

A economista Ana Carla Abrão discorda do travamento das pautas reformistas. Ela ressaltar que é preciso caminhas numa única direção, ainda que há vias paralelas. Ana Carla defende o combate a Covid-19, mas ao mesmo tempo a continuidade nas reformas. Para ela, o presidente não demonstra interesse no assunto e o ministro da Economia, Paulo Guedes tem sido voz isolada.

“Nós temos que caminhar numa única direção e a direção pode ter vias paralelas, ela tem o enfrentamento que é de posição, como vamos nos colocar frente a uma crise sanitária, as mensagens precisam estar coordenadas, em primeiro lugar. Paralelamente temos uma agenda de reformas que pode andar e não precisa parar e não pode parar como forma de pressionar o governo. Até porque cá entre nós, esse governo não quer reforma, o presidente da República não quer Reforma Administrativa, Reforma Tributária, é uma agenda de país, não é uma agenda de governo, o ministro Paulo Guedes está falando sozinho há bastante tempo”, finalizou a economista.

A secretária de Economia de Goiás, Cristiane Schmidt, também assinou a carta. O movimento teve a participação de banqueiros e empresários, como Roberto Setúbal (Itaú), Pedro Moreira Salles (Itaú), Jose Olympio Pereira (Crédit Suisse), Armínio Fraga (Gávea), Fabio Barbosa (Gávea), Luís Stuhlberger (Verde) e Horácio Lafer Piva (Klabin).

Politicamente, a avaliação nesta segunda-feira (22), em Brasília é de que a carta colaborou para isolar ainda mais o presidente Jair Bolsonaro que no último domingo, ao conversar com apoiadores disse que “só Deus” o tiraria do cargo.