Fundado em 6 de abril de 1943, o Goiás Esporte Clube completa 78 anos nesta terça-feira (6). Maior campeão goiano, com 28 títulos, é também o recordista de participações no Campeonato Brasileiro entre os clubes do Centro-Oeste, com 41 temporadas na elite do futebol nacional. Bicampeão da Série B, bateu na trave em finais de Copa do Brasil e Copa Sul-Americana, além de ter participado uma vez da Copa Libertadores da América.

De um clube amador após a sua criação, com muitas dificuldades nas duas décadas seguintes antes da ascensão nos anos 1970, o Goiás talvez viva hoje o seu pior momento desde então. Com graves problemas financeiros ampliados pela pandemia, os esmeraldinos foram rebaixados à segunda divisão nacional pela terceira vez em dez anos e tiveram um processo político atribulado nas últimas eleições para a diretoria executiva.

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Com a missão de restabelecer o clube em todos os setores, Paulo Rogério Pinheiro tem um legado importante para carregar da sua família, em especial através das figuras do pai, Hailé, e do tio, Edmo. Diante de tantos problemas a serem solucionados, a torcida pressiona por resultados imediatos depois do pior início do Goiás no campeonato estadual em uma década e a queda precoce na Copa do Brasil, ainda na primeira fase.

Em uma entrevista exclusiva ao Sistema Sagres de Comunicação nos 78 anos do ‘Verdão’, através do comentarista Charlie Pereira, o atual presidente executivo esmeraldino falou do passado, presente e futuro do clube.

Paulo Rogério Pinheiro, presidente do Goiás (Foto: Reprodução/Sagres TV)
As primeiras lembranças com o Goiás

Criado em um berço esmeraldino, Paulo Rogério acompanha o Goiás desde a sua infância. “Eu lembro de um jogo no estádio Olímpico ainda, quando tinha algo em torno de cinco anos de idade, um ou dois antes da inauguração do Serra Dourada, entre Goiás e Goiânia, pelo Campeonato Goiano. Lembro que fui para comer pipoca, queria ir para o estádio para comer pipoca. Fui com o meu avô, Edmundo Pinheiro, com um ‘punhado’ de primos. O meu avô três anos depois veio a falecer, então isso me marcou”, recordou.

Questionado sobre o porquê do clube hoje ser uma referência no Centro-Oeste, o dirigente ponderou que “primeiro pela inteligência e vontade do Lino Barsi e os seus amigos, debaixo daquele poste à noite, de criar um clube de futebol para concorrer com Goiânia e Atlético, que na época eram os grandes times. Começou ali. Acho que cada um que passou no Goiás desde a época do amadorismo, seja presidente ou colaborador, deu um pouquinho de si, todos eles foram importantes para o clube”.

“Lógico que tivemos algumas pessoas que fizeram uma história no Goiás, várias famílias abraçaram o Goiás, não foi só a Pinheiro. As pessoas que vinham ao Goiás vinham com a intenção do clube crescer, de investir o tempo e até mesmo o próprio dinheiro. Essas pessoas que passaram pelo clube foram importantes e pensaram em remar para o mesmo caminho. Por isso que o Goiás Esporte Clube, nesses 78 anos, cresceu tanto e se tornou essa potência que é hoje nacionalmente falando”, destacou.

Além da família Pinheiro, presente no clube desde os anos 1960, a equipe do Futebol de Goyaz, site especializado no estudo da história do futebol goiano, também ressalta a importância das famílias Barsi, Amaral Muniz e Segurado desde os primórdios, assim como Monteiro, Sebba, Chaer, Goia e Bessa. Sem esquecer também de presidentes históricos como Melchior Luiz Duarte de Abreu, Ruarc Douglas Ferreira e Joviro Rocha.

Parceria Edmo-Hailé

Importantes dirigentes na ascensão do Goiás, os irmãos Edmo e Hailé foram exemplo para o pequeno Paulo Rogério na década de 70. O atual presidente esmeraldino brincou que “é a parceria do Tom e Jerry. Brinco com o meu pai sobre isso, porque sempre gostei muito do desenho animado. O meu pai e o meu tio têm personalidade bem diferentes. O meu pai seria o Tom, o ranzinza e mais sistemático. O meu tio, o Jerry, o mais esperto, e esse casamento deu certo”.

“É incrível como os dois discutiam e duas horas depois estavam tomando um vinho, conversando sobre outras coisas. Até aprendi muito com eles, porque na minha casa são quatro irmãos e quatro empresários. Com o tanto de empresa que temos, dava conflito por interesses comerciais, mas quando chegávamos em casa era como se nada tivesse acontecido. O meu pai e o tio Edmo tinham essa sinergia, um completava o outro. O meu pai fugia, mas o tio Edmo adorava uma briga, igual o Edminho. Eram dois empresários de sucesso e que trouxeram esse sucesso para o Goiás”, completou.

Os irmãos Hailé e Edmo Pinheiro, históricos dirigentes do Goiás (Foto: Arquivo Pessoal)
Grandes lembranças com o clube

Para Paulo Rogério, o maior jogador que viu com a camisa alviverde, “em matéria de brilhantismo com a bola no pé, eu era apaixonado pelo Carlos Magno. Com aquelas passadas largas e uma condução de bola linda, se não tivesse machucado o joelho naquela época teria tido um caminho tão brilhante quanto do Luvanor, Uidemar, Fernandão, Araújo e tantos outros”. Marcado por lesões, o talentoso meio-campista fez parte de uma das grandes gerações do Goiás, nos anos 80.

O dirigente recordou ainda de Uidemar, “magrinho, baixinho e com aquela técnica toda. Um dia, vi um jogo entre Goiás e Flamengo, no Serra Dourada, em que anulou o Zico. Tem o Harlei, que depois do Edison não vi um goleiro tão bom quanto, com 800 e tantos jogos pelo clube e muitos títulos. O próprio Luvanor: se o Goiás tem hoje um patrimônio bom, começou com o dinheiro do Luvanor. É difícil falar nomes, porque magoa muita gente, mas que vi de beleza em jogar bola é o Carlos Magno. Agora, não tem jeito de não falar do Luvanor”.

Sobre o grande momento que viveu no clube, afirmou que o pentacampeonato goiano em 2000, “em que eu era diretor administrativo do clube, junto com o João Gualberto, presidente. Ali foi um período que marcou, porque o tetra do nosso concorrente machucava muita gente, e hoje somos penta. A vaga para a Libertadores (em 2006, depois do 3º lugar no Brasileirão), por ser a primeira competição internacional do clube, também. Não estava no clube na época, mas me marcou e fui em todos os jogos”.

Por outro lado, “talvez o jogo que mais sofri na vida, depois daquele contra o Inter, quando o Goiás venceu aqui (em 2007, quando evitou o queda à Série B e por consequência rebaixou o Corinthians), foi o vice-campeonato da Copa Sul-Americana (em 2010), porque o Goiás foi melhor do que o time argentino (Independiente), tinha tudo para ser campeão, ir para a Libertadores de novo, jogar uma Recopa e tudo que tinha época pelo torneio”.

“Agora, de emoção, aquele jogo entre Goiás e Inter, por ser diretor na época, ter passado o que passei, brigando com o Corinthians e o futebol inteiro. Eu, Edminho e Pedrinho, com Harlei, Paulo Baier, André Leone e o Élson, fechamos um grupo, quando decidimos tirar o técnico do Goiás na época (Paulo Bonamigo) e entrar em campo sem treinador. Esses quatro jogadores assumiram a responsabilidade para não deixar o Goiás cair, e naquele jogo acabou não foi rebaixado e ali o meu mundo desabou”, finalizou.

Mensagem aos torcedores

“Infelizmente, o Goiás se apequenou na última década. Ou parou de crescer, ou cresceu muito abaixo do que deveria. Gostaria muito de neste 6 de abril estar na Série A, e se estivesse na Série A hoje o time estaria 100% montado já, então ao torcedor, por mais que esteja me criticando, e com toda a razão, pelo Goiás não ter contratado e não ter um montado um time ainda, quero dar de um presente não é em 6 de abril não, quero estar no dia 30 de novembro gritando com a torcida e batendo no peito que estamos de volta à Série A, com uma administração enxuta e eficaz para o Goiás voltar a crescer”.

“A meta desses primeiros meses foi colocar o Goiás no trilho, e estamos colocando. Vou montar um time para a Série B antes do Brasileiro. Os jogadores estão contratados, o problema é que não vamos procurar jogador só para trazer e não jogar para fazer graça para a imprensa. Vou trazer jogador que vai pegar a camisa e jogar. As apostas, já vieram sete, jogadores de base. Confie em mim, torcedor: vou montar um time para subir para a Série A. O Goiás tem que subir este ano. Nada na minha vida entrei para perder: como empresário e pai de família, sou sério e honesto, e estou aqui por você, torcedor. Por você e por esse time, o Goiás vai voltar a crescer. Nestes três anos, teremos orgulho desse clube”.

Segue o presidente executivo esmeraldino, “infelizmente, estou passando por um momento financeiro terrível agora, mas não é desculpa, já sabia que estava assim. Por exemplo, queria fazer uma festa em 6 de abril: não terá nada, faremos só nas redes sociais. Todo o dinheiro sobrando está sendo canalizado para o futebol, para vocês terem esse orgulho. Então, torcedor, vamos comigo: dia 30 de novembro estaremos na Série A comemorando, se possível até antes disso. E eu não aceito outra conversa aqui dentro do clube que não seja subir para a Série A”.

“Abri mão do Goiano, falei para vocês na minha posse não se preocuparem com o Goiano. Se for campeão ou chegar na final, maravilha. Infelizmente, a Copa do Brasil este ano começou em março, e não em maio, então não podíamos pegar um dinheiro para contratar cinco jogadores correndo para a Copa do Brasil. Tentei no dia do jogo do Boavista contratar dois para irem direto ao estádio, mas não deu certo. Então, torcedor, vamos parar um pouco com as críticas, vamos junto com a gente, que no dia 30 de novembro estaremos comemorando. No dia 6 de abril de 2022, aí sim com uma grande festa após a pandemia ter terminado, com o estádio cheio. O Goiás tem que voltar a ser grande, e voltará a ser comigo. Custe o que custar, vou fazer o Goiás ser grande”, finalizou Paulo Rogério Pinheiro.