Os promotores de grandes encontros religiosos em Goiânia arrecadam milhões de reais com eventos semelhantes à Conferência Radicais Livres, programada para os próximos dias 06 e 07 de setembro. A média de publico desses eventos gera em torno de 70 mil fieis e, geralmente, são realizados no Estádio Serra Dourada.
Desde o início da semana, centenas de operários erguem a gigantesca estrutura preparada para receber as atrações da festa, que deve atrair cerca de 60 mil pessoas. Os organizadores, originários da igreja Videira, usaram a influência de pastores e integrantes influentes do governo, como o procurador-geral do Estado, Alexandre Tocantins, para alterar o rígido calendário da Confederação Brasileira de Futebol e realizar o evento no estádio.
Por conta da Conferência Radicais Livres o jogo do Goiás contra o Grêmio, pela Série A do Campeonato Brasileiro, foi antecipado de quarta-feira (04) para ontem, terça-feira (03). Prejuízo maior terão os torcedores do Atlético e Palmeiras que se prepararam para assistir o jogo de sábado no Serra Dourada. Com a autorização do clube atleticano, a competição foi transferida para o JK em Itumbiara. “Fomos procurados pelo André Pitta, presidente da Federação Goiana de Futebol, propondo que o jogo fosse transferido para outro local. Depois de conversa com o procurador-geral, Alexandre Tocantins, resolvemos colaborar com o evento. Não haverá prejuízo porque jogos em Itumbiara atraem grande público e também ficamos bem com os torcedores do atlético que frequentam a Videira”, justifica o presidente do Atlético, Valdivino de Oliveira.
O presidente do clube esmeraldino, João Bosco Luz, também não se impôs a antecipação do jogo. “Não houve prejuízo para o clube e não vi motivos para não colaborar,” conclui. André Pitta, presidente da FGF, não quis gravar entrevista, mas explicou à reportagem da Rede Clube de Comunicação que a solicitação veio do próprio governo e a ele coube apenas repassar a solicitação aos clubes envolvidos.
O contrato entre Agência Goiana de Esportes e Lazer e a Igreja Videira só foi formalizado no dia 26 de agosto, data em que a CBF oficializou as alterações e uma semana depois que a reportagem da Rede Clube de Comunicação fez questionamento sobre os termos da locação. Mesmo antes da assinatura do contrato, os idealizadores da conferência não tinham dúvida sobre a locação do Serra Dourada para o evento, tanto que iniciaram a divulgação e as inscrições há dois meses.
A discussão se deu em torno do pagamento do aluguel. A meta dos organizadores da Conferência Radicais Livres era ocupar estádio público sem pagar nada. Um funcionário que pediu para não ser identificado afirmou que pastores da Igreja Videira solicitaram à diretoria do estádio a dispensa do pagamento pela locação. Procurado pela reportagem da Rede Clube de Comunicação, o pastor Naor Pedroza, líder da Igreja Videira, por meio de sua assessoria de comunicação, chegou a agendar entrevista, mas depois que recebeu os questionamentos por e-mail desmarcou o encontro e, por nota, esclareceu que todas as taxas foram pagas de acordo com as exigências do Estado e da Prefeitura de Goiânia.
A Rede Clube de Comunicação teve acesso ao contrato de locação. Numa das cláusulas, os organizadores do evento se comprometem a entregar o estádio nas mesmas condições e usar proteção no gramado. Quanto ao pagamento, o governo não cedeu aos apelos de isenção, todavia foi benevolente. Para o uso da parte interna e externa cobrou R$ 120 mil, sendo R$ 45 mil pagos através de Documento Único de Recursos Estaduais ( DARE), ou seja, dinheiro depositado direto na conta da Secretaria da Fazenda e, posteriormente, revertido para a Agel, sendo que não há garantias de que esse valor será investido na manutenção do estádio.
Os R$ 75 mil restantes serão pagos em mídia para o Governo do Estado, que deve ser inserida em toda a promoção do evento, estratégia do governo para melhorar a própria imagem com o segmento que não para de crescer.
Diante da arrecadação do evento, que pode ultrapassar a cifra de R$ 5 milhões, a locação do Serra Dourada é irrisória. De acordo com os preços disponibilizados no site do evento, http://www.radicaislivres2013.com/, se o público chegar aos 60 mil estimados, considerando o menor valor cobrado na arquibancada, que é de R$ 37 a arrecadação mínima será de R$ 2, 2 milhões.
Veja tabela de preços do evento:
E a bancada dos evangélicos na Assembleia Legislativa quer muito mais do governo. Essa semana, o deputado estadual Simeyzon Silveira ( PSC), filho do apóstolo Sinomar Silveira, da Igreja Luz para os Povos, apresentou um projeto para que eventos culturais religiosos sejam bancados pela Lei Goyazes, programa estadual de incentivo à cultura.