Cobrança. Este é o tipo de chamada que ninguém gosta de atender. No entanto, diante do aumento da inadimplência no país nos últimos anos, as ligações exigindo pagamento por serviços ou bens de consumo fizeram com que os telefones dos brasileiros não parassem de tocar.

Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostrou que, em outubro deste ano, o percentual de famílias brasileiras endividadas chegou a 58,6%.

Conforme levantamento feito pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) em parceria com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), a maior parte dos inadimplentes é formada por mulheres, com idade entre 25 e 49 anos, integrantes das classes C, D, e E. A maioria dos débitos corresponde ao pagamento de empréstimos, financiamentos e juros do cartão de crédito.

A pesquisa revelou ainda que 71% dos devedores estão negativados pela primeira vez na vida. Além disso, cerca de 69% do total de homens e mulheres endividados sofrem de ansiedade por não conseguir arcar com as despesas. Este é o caso de Lindomar Rosa, que atualmente tenta encontrar maneiras de limpar o nome.

“Se me derem uma oportunidade para negociar a dívida com certeza eu vou aproveitar. É preciso preservar o nome limpo, isso é o mais importante”, declara Lindomar.

Segundo o economista Adriano Paranaíba, a facilidade de acesso ao crédito não só impulsionou o aumento da inadimplência como também produziu uma geração que não sabe cuidar do bolso e da saúde mental.

“Antigamente você refinanciava sua dívida a uma taxa de juros menor e ainda pegava dinheiro emprestado. Você fazia isso tranquilamente no passado porque as taxas de juros eram baixas. Agora, como as taxas de juros estão altas, se a pessoa fizer isso várias vezes as parcelas podem consumir todo o orçamento dela. As taxas de juros estão caindo, mas não como no passado. Isso pega as pessoas desprevenidas”, argumenta Adriano.

Tendo em vista o atual cenário econômico, o brasileiro necessita educar-se financeiramente para evitar a compra de produtos desnecessários, de modo a priorizar o pagamento de contas básicas tais como água, energia e telefone. A educadora financeira Dayane Godinho explica como é possível poupar dinheiro e se planejar para não ficar inadimplente.

“Ter um propósito é importante para poder fugir do consumo vazio, ou seja, quando você está juntando dinheiro para fazer um curso ou faculdade, você se torna capaz de resistir aos impulsos menores de consumo, aqueles que tiram o foco da sua atenção do seu objetivo principal”, pontua a educadora financeira.

Inadimplência em Goiânia

Na Capital o comércio também teve que se reinventar diante dos desafios postos pela crise econômica.

Segundo a gerente de relacionamento da Câmara de Dirigentes Logistas de Goiânia (CDL), Dina Marta Correia Batista, na cidade a inadimplência atinge principalmente os homens com idade superior a 30 anos. Ela cita ainda as medidas que comerciantes e lojistas podem implantar para auxiliar a reduzir o número de consumidores inadimplentes.

“Facilitar os processos de venda, fazer o cadastro completo com todos os dados do consumidor, e principalmente, os comerciantes e lojistas devem orientar os clientes para a importância do consumo consciente. Melhor do que vender, é receber. Não se trata de simplesmente vender para fazer números. É necessário fazer uma boa venda, com contratos bem feitos e pesquisas ao SPC. Por fim, o comerciante pode também dar descontos”, exemplifica a gerente de relacionamento da CDL.

Além disso, Dina Marta Correia apresenta soluções para os casos em que a inadimplência já está instaurada. “Para prevenir a inadimplência nós temos o SPC Monitora,que funciona como um acompanhamento da carteira de clientes. Temos também o CDL Cobrança, a Cobrança Autorizada e o Negociar online, que são ferramentas que ajudam as empresas quando a inadimplência já aconteceu. Muitas empresas não conseguem ter uma central de cobranças porque isso tem custos. Na Cobrança Autorizada, que é quando o consumidor vem até os nossos balcões para saber se tem dívidas com alguma empresa, a CDL pode efetuar essa cobrança para o associado, ganhando tempo sem que o associado tenha que fazer investimentos. Da mesma forma na plataforma online, na qual os consumidores usufrem dos benefícios sem a necessidade de ir até a CDL”, comenta. 

Ter uma equipe de funcionários treinada para lidar com situações de inadimplência também pode ser um diferencial. De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista no Estado de Goiás (Sindilojas-GO), José Carlos Palma, o investimento em treinamento de pessoal é fundamental para a fidelização de clientes adimplentes. “Para que uma venda seja segura, o comerciante deve ter uma equipe treinada, capaz de verificar por exemplo, a veracidade dos documentos. Há casos em que homens fazem compras com cartões que estão no nome de pessoas do sexo feminino, geralmente a esposa, e depois negam ter contraído o débito. O comerciante precisa verificar se o cliente tem condições de fazer a compra e o jeito mais eficaz de se fazer isso é através da CDL, do SPC”, opina Palma.

Casos de sucesso

Os especialistas defendem que o diálogo entre consumidor e empresa é essencial para que se tenha êxito em processos de negociação de dívidas. No intuito de auxiliar o consumidor a driblar a crise e consequentemente aquecer o mercado, muitos comerciantes e lojistas têm criado alternativas para renegociar as dívidas dos clientes.

Seguindo essa orientação, a Novo Mundo decidiu oferecer descontos ao negociar com os devedores. Segundo o diretor financeiro da empresa, Marcelo Yamada, as negociações podem ser feitas inclusive por telefone, durante o ano todo. “Depois de feita a negociação por telefone, basta que o consumidor procure uma de nossas lojas. Estamos fazendo uma entrada facilitada, com desconto de até 100% no valor dos juros, fazendo com que o cliente volte para o mercado com crédito liberado”, relata.

Já a gerente de marketing da empresa Triagem, Róssia Oliveira, diz ter comprovado na prática o poder das ações de melhoria no pós-atendimento. “Estamos fazendo um atendimento mais personalizado, as vezes vamos até a casa do cliente. Temos feito ações relacionadas ao oferecimento de descontos especiais também”, salienta.

Direitos do Consumidor

Em Goiás, o órgão responsável por avaliar as negociações de dívidas é o PROCON estadual. Assim que é acionado pelo consumidor, a entidade busca intermediar a situação com o credor.

O gerente de pesquisa e cálculos do órgão, Gleidson Tomaz, destaca que em mais de 80% dos casos, comerciantes e consumidores que buscam o PROCON para negociar dívidas chegam à um acordo. “Mesmo quando as empresas elevam a dívida do consumidor, em 85% dos casos em que o consumidor nos procura, ele já sai daqui com o boleto da entrada referente ao acordo que foi feito por intermédio do PROCON”, afirma.

O consumidor que deseja limpar o nome pode acessar mais informações no site da CDL Goiânia.

Reportagem: Jerônimo Junio e Larissa Artiaga

Edição: Roberval Silva

Ouça o áudio da reportagem:

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