O impacto do aquecimento global sobre o Pantanal foi significativo em junho, quando o bioma enfrentou um número recorde de incêndios. De acordo com um índice climático que monitora a probabilidade de queimadas, o risco de incêndios foi 40% maior devido às mudanças climáticas provocadas pela emissão de gases de efeito estufa.

O aumento da temperatura, a seca prolongada e os ventos intensificados criaram condições ideais para a propagação dos incêndios, mesmo em um período do ano que geralmente apresenta menor incidência de queimadas.

Pesquisas recentes revelam que eventos extremos como esses, que eram raros em um cenário sem aquecimento global antrópico (ocorrendo a cada 161 anos), agora têm maior probabilidade de se repetir a cada 35 anos. Isso indica que o aquecimento global multiplicou de quatro a cinco vezes o risco de condições climáticas extremas no Pantanal.

Estudo

Esse aumento no risco foi confirmado por um estudo conduzido por uma equipe internacional de pesquisadores do Brasil, Reino Unido e Países Baixos, parte da iniciativa World Weather Attribution (WWA). A WWA se dedica a analisar a influência das mudanças climáticas sobre eventos climáticos extremos em todo o mundo.

“As alterações no uso da terra e as mudanças climáticas estão fazendo o regime de fogo se modificar no Pantanal. Hoje a frequência e a intensidade das queimadas são maiores e mais áreas são afetadas”, comenta a meteorologista Renata Libonati, do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ), uma das autoras do estudo.

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Pantanal registrou cerca de 3.300 focos de incêndio apenas em junho, enquanto um levantamento do Lasa apontou que mais de 4.100 quilômetros quadrados foram queimados durante o mês. A metodologia da WWA envolve a utilização de modelos climáticos para avaliar a probabilidade e a intensidade de eventos extremos em dois cenários: com e sem o aquecimento global.

Temperatura média global

Desde meados do século XIX, a temperatura média global subiu cerca de 1,2 °C, impactando diretamente a frequência e intensidade de fenômenos como os incêndios no Pantanal. Se o aquecimento global continuar a aumentar e atingir 2 °C acima dos níveis pré-industriais, o risco de condições extremas como as de junho no Pantanal se repetirem aumentará ainda mais, com uma previsão de ocorrerem a cada 17 anos, e com uma intensidade 17% maior do que a observada em 2024.

Imagem: Alexandre Affonso/Revista Pesquisa FAPESP

“Num passado recente, eventos extremos como esse no Pantanal eram tratados apenas como parte das oscilações naturais do clima. Hoje, com uma melhor compreensão do sistema climático e o avanço das técnicas científicas, podemos, por meio dos estudos de atribuição, diferenciar as variações naturais do clima dos efeitos decorrentes de atividades humanas”, comenta o climatologista Lincoln Muniz Alves, do Inpe, coautor do estudo.

“Para avaliar essas características, utilizamos uma combinação desses fatores que chamamos de índice meteorológico de incêndio”, explica Libonati. “Ele quantifica a dificuldade de controlar o fogo diante das condições meteorológicas.”

Ações imediatas

Essa situação preocupante não é uma previsão catastrofista, segundo Friederike Otto, climatologista do Imperial College London e coordenadora da WWA. Ela destaca a necessidade de ações imediatas para mitigar os impactos das mudanças climáticas e proteger ecossistemas como o Pantanal.

“Os números provavelmente estão no ponto mais conservador de nossa escala. Isso porque os modelos [climáticos] têm dificuldade de representar bem os níveis de precipitação”, disse Otto durante coletiva de imprensa on-line para divulgar os resultados do trabalho sobre o Pantanal.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática

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