“O enfrentamento dos desafios colocados pelo aquecimento global é um imperativo ético”, definiu Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, em sua participação na conferência O Brasil e a COP 30, primeiro seminário da terceira edição do USP Pensa Brasil 2024, evento que teve início nesta segunda-feira, 12 de agosto, na Cidade Universitária. “Vivemos um momento desafiador em que o aumento da temperatura da Terra em 1,5ºC deveria ocorrer em 2028, mas já se deu em 2003”. 

Na terceira edição do evento USP Pensa Brasil, a proximidade da Cúpula Climática da ONU (COP 30), que acontecerá em novembro de 2025 em Belém, Pará, serviu como inspiração para o tema “COP 30: Desafios para o Brasil.” “As mudanças climáticas recentes são generalizadas e intensificadas, e sem precedentes em milhares de anos; vivemos no tempo da Emergência Climática”.

O climatologista Carlos Nobre, do Inpe, do Instituto de Estudos Avançados da USP e do Instituto Amazônia 4.0, apresentou uma visão alarmante sobre a evolução das mudanças climáticas globais.

“Estamos vivendo um novo normal? O que será o novo normal?”, perguntou, em sua palestra, a ministra Marina Silva, referindo-se às emergências climáticas. Respondendo, acrescentou: “O que acontece agora, deveria ocorrer depois”, ou seja, só daqui a alguns anos. Como exemplo das calamidades que estão ocorrendo atualmente, no Brasil, lembrou as enchentes no Rio Grande do Sul, os incêndios no Pantanal, a existência de 1.500 municípios no País em situações de perigo climático. “São situações que podem se agravar ora com chuvas, ora com secas, ora os dois até combinados.”

Referindo-se à questão do ponto de vista internacional, lançou críticas: “Todos mostram exemplos do que fazem, que cada um faz o melhor de seu melhor; todos contam que fazem mais do que o necessário”. Mas ressaltou: “Um balanço das COPs anteriores mostra que o que se está fazendo é insuficiente; o dever de casa não foi feito”.  Para ela, “o desafio da COP 30 deve ser visto como se fosse um batelão (um barco) que tem que ter um bom motor de popa, potente”. E sentencia: “O motor de popa tem que ser potente, ir além da ciência, que tem a capacidade para mitigar e adaptar-se ao problema, quando é preciso transformar”.

“Na COP 30, o Brasil precisa liderar pelo exemplo, nosso plano de ação tem que ser robusto”, disse a ministra. O desafio para todos os países, segundo ela, “é transformar um modelo insustentável em sustentável”, propagar aos quatro ventos que “sustentabilidade é uma maneira de ser, não só de fazer”.

Palestra

Durante sua palestra, que seguiu a apresentação da ministra Marina Silva, Nobre utilizou uma série de slides para ilustrar a gravidade da crise climática atual. Ao final, ele destacou uma série de medidas que o Brasil precisa adotar para enfrentar o problema:

  • O Brasil retomou um papel de destaque na busca por soluções para a emergência climática global, papel esse arduamente conquistado ao longo dos anos.
  • É essencial que o país implemente suas ambiciosas metas de NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) até 2030, com o objetivo de se tornar a próxima grande nação emissora a alcançar o net zero antes de 2040.
  • O Brasil deve intensificar suas políticas públicas e práticas de adaptação, aumentar a resiliência em todos os setores e continuar apoiando a produção de conhecimento científico.
  • É fundamental aprimorar os sistemas de previsão e alerta para desastres climáticos, protegendo as populações em áreas de risco e as mais vulneráveis a ondas de calor.
  • A recente tragédia climática no Rio Grande do Sul, marcada por eventos extremos de precipitação, alerta para os riscos não apenas dessa região, mas de todo o Brasil e do planeta.
  • As projeções indicam um aumento na intensidade e frequência de eventos extremos, como chuvas intensas, inundações, deslizamentos de terra, secas e ondas de calor, o que evidencia o tamanho do desafio.
  • É crucial intensificar as ações de prevenção e controle do desmatamento na Amazônia Legal, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Pampa e Mata Atlântica.
  • Desenvolver políticas públicas de arborização urbana e investir no planejamento integrado de soluções baseadas na natureza são essenciais para a resiliência das cidades. O futuro das cidades, como as “cidades-esponja”, está diretamente ligado ao futuro da humanidade.
  • Combater o ponto de não retorno da Amazônia, incluindo o desmatamento zero, a restauração florestal em grande escala e o desenvolvimento de uma economia baseada na biodiversidade, é urgente.
  • O Brasil, em parceria com seus Estados, cidades, comunidades, sociedade em geral, setor privado e financeiro, deve agir urgentemente em prol da sustentabilidade, garantindo um legado para as futuras gerações.
  • A educação sobre extremos climáticos, riscos e prevenção de desastres em escolas e comunidades é de suma importância.
  • As novas gerações devem assumir a liderança na busca por trajetórias sustentáveis para o planeta, com foco em justiça social e climática, além do empoderamento dos jovens e das mulheres.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática

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