O Sistema Sagres de Comunicação recebeu o economista, Júlio Pascoal, para destacar sobre inflação e a elevação da taxa básica de juros, a Selic. Subir essa taxa é a tentativa do Banco Central (BC) em fazer algumas compensações, em detrimento do consumo sendo freado.

“O Banco Central, ao meu ver, está dando o remédio errado para a doença. Nós temos uma inflação no Brasil de custos, puxada pelo dólar, os derivados do petróleo, a inflação acumulada puxada também pelo problema hídrico que tivemos. No entanto, não existe no país, nesse momento, um consumo excessivo para justificar esse aumento exagerado da taxa Selic por conta do Banco Central. E se nós analisarmos isso com propriedade vamos ver o seguinte: partimos de 2,75% em meados de abril do ano passado, fechamos o ano na faixa de 10 e já estamos em 11,75%. Em nenhum momento a inflação decaiu, pelo contrário, ela continua aumentando. Então, isso demonstra que o Banco Central precisa rever essa política, porque ao elevar a taxa de juros, está travando a produção em detrimento do rentismo”, explicou.

Ainda de acordo com a análise de Júlio Pascoal, o único ponto positivo que a elevação da taxa básica de juros, a Selic, trouxe foi a desvalorização do dólar frente ao real.

“De certa forma impacta positivamente nesta questão do preço, mas quando o dólar sobe, os combustíveis sobem. Quando ele cai, como caiu para R$ 4,60, os combustíveis continuaram aumentando, porque as empresas tinham feito a compra com o dólar mais alto. Então, enquanto não acabar essa compra com o dólar mais alto, essa queda no dólar não influencia na inflação, que não é de demanda, ou seja, não há pressão de consumo sobre a oferta. Nossa inflação é de custos”, argumentou.

Na semana passada, um dado mostrou a maior inflação para o mês de março desde 1994, antes mesmo do plano real, já que este é de 1º de julho de 1994. Na época, existia uma hiperinflação no final dos anos 80 e início dos 90, a transição para uma moeda.

“Quando nós passamos para o plano real, o governo usou a taxa de câmbio para reduzir os preços internamente, favorecendo a valorização do real frente ao dólar. Então, isso puxava produtos importados e forçava a queda dos preços aqui dentro. Hoje, temos ao contrário, em que o real está muito desvalorizado em relação ao dólar, essa desvalorização, mesmo que o dólar esteja a R$ 4,60, isso implica no aumento dos custos dos produtos importados”, destacou.

“E tem um problema que não estamos cumprindo nesse governo, que é fundamental para que o plano real volte a ser de estabilização para a moeda: o plano real tem um tripé macroeconômico em que se baseia no regime de metas de inflação nas taxas de câmbio flutuantes no equilíbrio fiscal. Infelizmente, esse governo não está cumprindo nenhum dos três pilares. Por essa razão, estamos voltando a apresentar inflação de dois dígitos”, completou.