Uma pesquisa da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP descobriu que pode ser possível tratar insuficiência cardíaca com treinamento físico. A partir de experimentos com animais, o estudo identificou microRNAs alterados pela condição e, com o exercício, normalizou sua expressão.

MicroRNAs são moléculas que tem função regulatória fundamental para o metabolismo do nosso corpo. Inibindo a expressão de alguns genes, eles agem em vias bioquímicas e processos celulares essenciais para o organismo. Além disso, essa alteração dos microRNAs pode associar com várias outras doenças, não só insuficiência cardíaca.

A insuficiência cardíaca afeta o micro-RNA 205, que é diretamente responsável pelo metabolismo do músculo esquelético. Para desenvolver medicamentos para a doença, o primeiro passo é descobrir os microRNAs como alvos terapêuticos.

“Nosso trabalho contribui com mais uma peça para o grande quebra-cabeça que é a busca por ferramentas e tratamentos para as doenças cardiovasculares”, explica Bruno Rocha de Avila Pelozin. Ele realizou a pesquisa, sob orientação do professor Tiago Fernandes, da EEFE. “Também demonstramos uma regulação das alterações musculoesqueléticas por meio do microRNA-205. Por fim, mostramos o efeito dos treinamentos nesses mecanismos e alterações”, justifica em entrevista ao Jornal da USP.

Metodologia

A pesquisa mapeou os microRNAs expressos em ratos que apresentam insuficiência cardíaca. Sendo assim, os animais foram separados em dois grupos, aqueles mais sedentários e os que praticaram exercício físico aeróbio regularmente durante dez semanas.

De acordo com os resultados, houve um padrão de expressão completamente diferente entre os ratos doentes e os que fizeram atividades. Dos microRNAs que o estudo analisou, a insuficiência cardíaca alterou a expressão de 15, mas eles restabeleceram pelo exercício físico. O microRNA-205 foi responsável por controlar as características estruturais e o metaabolismo do músculo esquelético.

Após o período de dez semanas, avaliou-se: pressão arterial, função cardíaca, consumo de oxigênio (VO2 pico) e alterações metabólicas – Imagem: EEFE/USP

Exercício físico

O estudo constatou, por meio de biópsias em pessoas com insuficiência cardíaca, que o microRNA-205 estava aumentando. Nesse sentido, com treinamento físico aeróbio, os pacientes conseguiram normalizar a expressão da molécula. A relevância da conclusão se dá porque, como a insuficiência reduz a capacidade do coração em bombear o sangue, ocorre diminuição da irrigação sanguínea nos tecidos do corpo.

Especificamente no músculo esquelético, pode causar miopatia, cujo principal sintoma é a intolerância ao esforço físico, o que dificulta atividades do dia a dia como caminhar, ou subir escadas. Nesse sentido, o microRNA-205 é objeto de estudo por conta de sua alteração em quadros de insuficiência e sua normalização com o exercício físico, o que o torna um potencial alvo terapêutico para o desenvolvimento de tratamentos futuros para essa doença.

Pelozin, em sua dissertação de mestrado, ressalta que a utilização farmacológica dos microRNAs ainda está em estágio inicial, mas acredita que eles podem desempenhar um papel importante no combate às doenças cardiovasculares e seus efeitos periféricos. Pelozin descreveu na dissertação de mestrado a pesquisa do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular do Exercício da EEFE.

Um artigo sobre o trabalho foi apresentado no XXX Congresso da Sociedade Brasileira de Hipertensão, que ocorreu entre os dias 10 e 22 de agosto de 2022, e recebeu o prêmio de Melhor Pesquisa Básica. Atualmente, o pesquisador encontra-se na fase final dos experimentos em laboratório com cultura celular, utilizando células primárias musculares para avaliar o ganho e perda de função do microRNA-205. Em seguida, após a conclusão dessa etapa, o trabalho será publicado e os estudos sobre o microRNA-205 serão expandidos.

*Esse conteúdo está alinhado com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU 03 – Saúde e Bem Estar

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