Foto: Rafael Bessa/Sagres On

As investigações da Operação Metástase apontam a utilização de medicamentos vencidos em unidades do Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia (Ingoh). De acordo com o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, o suposto esquema fraudulento envolvendo o Ingoh e o Instituto de Assistência ao Servidor do Estado de Goiás (Ipasgo) vem ocorrendo há pelo menos seis anos. 

“Esses medicamentos estavam ainda em uso, já comprovado pela perícia. Quer dizer, já mataram um paciente, já colocaram em risco, não sei quais as consequências de outros tantos, porque esse esquema é antigo, já vem desde 2013, e ainda continuavam, mesmo sabendo que são investigados porque eles já foram ouvidos em algumas fases do processo”, afirma. 

O paciente em questão é Alexandre Francisco de Abreu que fazia tratamento contra o câncer no Ingoh. As investigações apontas que ele recebeu medicamento inadequado, o que teria causado a morte. 

“Nesse caso, se o paciente tem um período de sobrevida, são aplicados medicamentos para a sobrevida do paciente, não para buscar a cura do câncer, que já não seria mais possível. Ou seja, teria uma melhor qualidade de vida, viveria seis meses, 1 ano. Esse paciente morreu em poucos dias após a ministração do medicamento errado”, explica o delegado Luiz Gonzaga, coordenador da Operação Metástase. 

Em 2013, o então presidente do Ipasgo, Francisco Taveira Neto, anunciou que os pacientes do instituto teriam acesso gratuito ao tratamento de quimioterapia. O procedimento seria 100% custeado pelo Ingoh. 

Ainda de acordo com o delegado, dezenas de atendimentos foram realizados durante o período investigado. Dados preliminares mostram que valores públicos foram apropriados indevidamente pela organização criminosa, e que somam uma quantia de mais de R$ 50 milhões. Isso porque o desconto de 15% previsto no regime de credenciamento especial do Ingoh, somado à desproporcionalidade da tabela de medicamentos oncológicos, não eram aplicados. “Não tenho dúvida de que esse valor é muito superior. À medida em que forem avançando as investigações, nós vamos detalhando”, afirma o delegado. 

Médicos do Ipasgo, diretores e um ex-presidente do Ingoh estão entre os suspeitos. O pedido de prisão ainda não foi acatado pela Justiça. O delegado explica como ocorriam os desvios milionários do Ipasgo. 

“Havia a criação de um auditor-robô, ou seja, tinha uma auditoria automática das contas do Ingoh. Nesse levantamento nós identificamos que a ordem partiu de um dos membros do alto escalão do Ipasgo para a constituição desse auditor robô. Um segundo plano seria empresas que auditavam contas, isso totalmente fora do padrão. O correto seria servidor público concursado auditar conta de qualquer prestador, mas a empresa terceirizada que tinha ligações com membros do alto escalão, diretor, gerente, presidente do Ipasgo, e as empresas tinham auditorias viciadas de acordo com a conveniência da organização criminosa. Um terceiro ponto seria um nítido conflito de interesses a participação e a execução de auditorias por médicos do Ingoh em contas do próprio Ingoh dentro do Ipasgo”, relata. 

Em nota o Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo) afirmou que apoia o andamento da Operação Metástase, da Polícia Civil do Estado de Goiás, que investiga um esquema criminoso que ocorria no órgão nas gestões passadas. Segundo a nota, os primeiros indícios de fraudes e desvios apareceram em auditoria promovida pela atual gestão do Ipasgo, cujos dados foram reportados à Controladoria Geral do Estado.  

Também por meio de nota, o Ingoh informa que “manifesta sua total tranquilidade com a operação policial de buscas promovida pela investigação nominada como Operação Metástase, especialmente porque vem colaborando permanentemente com as investigações, tendo se posicionado junto ao GAECO/MP-GO, em documento formal, pela abertura de todos os documentos, sistemas e fontes de dados e informações do instituto e seus diretores para quaisquer busca de informações de interesse da investigação policial” e que está certo de que “ficará comprovado que o Instituto não tem qualquer envolvimento com os supostos atos de ilegal.