Imagine disputar uma paralimpíada por duas vezes no tênis-de-mesa. Agora pense em alguém que dispute os jogos mais duas vezes no tiro com arco. Sim, é possível, e a Jane Karla é o exemplo.

Natural de Aparecida de Goiânia, Jane Karla esteve nas paralimpíadas de Pequim (2008) e Londres (2012) no tênis-de-mesa; Rio (2016) e Tóquio (2020) no tiro com arco. Com a raquete ou o arco nas mãos, mais do que o desafio esportivo, Jane viu no esporte um caminho seguro para superar um grave momento pessoal.

“Em 2010 tive um câncer de mama e foi bem complicado. Minha mãe teve primeiro, depois eu tive. Foi um momento bem difícil para a minha família. O esporte me ajudou a ter um foco e não ter uma sentença de morte”.

3ª do ranking mundial, Jane foi a primeira do mundo em 2019. Referência brasileira no tiro com arco, participou da edição 134 do Podcast Debates Esportivos. Ao lado de outras goianas olímpicas: a ciclista Janildes Fernandes e a lutadora de wrestling Laís Nunes, a atleta, que atualmente mora e treina em Lisboa, superou a falta de perspectiva para começar a praticar esporte.

“Quando era criança, achava que não seria possível. Não tinha incentivo como hoje em dia. Eu não tinha contato, ficava sempre no meu cantinho, mas depois de adulta que eu passei a conhecer o esporte através da ADFEGO”, lembra Jane, que em Portugal compete pelo Sporting, enquanto que no Brasil, defende o o Goiás Esporte Clube.

E foi na ADFEGO – Associação dos Deficientes Físicos do Estado de Goiás – que Jane passou de curiosa à praticante. Experimentou de tudo, mas foi o tênis-de-mesa que a cativou.

“Fui de curiosidade ver como era. Tinha basquete em cadeira de rodas, tênis-de-mesa, natação, vôlei sentado, então experimentei um pouco de cada, mas quando cheguei no tênis-de-mesa, foi amor a primeira raquetada”, brinca Jane, 11 vezes campeã brasileira na modalidade.

Jane Karla em disputa no tênis-de-mesa Foto: Arquivo Pessoal

Mudança para o tiro com arco

Segundo Jane Karla, a mudança do tênis-de-mesa para o tiro com arco aconteceu por causa de um motivo pessoal. Ficar ao lado da família após o conturbado período de recuperação do câncer de mama, pesou na decisão.

“Quando era a preparação para o Rio, teria de me mudar para São Paulo para treinar, mas por amor pela minha família, decidi não ir. Então procurei um outro esporte pra fazer aqui em Aparecida. O primeiro esporte foi o esgrima, era muito legal, adorei, mas era só uma apresentação em Goiânia, então teria de ir pra outra cidade para garantir vaga para Rio 2016. Aí surgiu o tiro com arco”, detalha Jane.

Inclusão

E com a carreira consolidada, Jane Karla procura ser exemplo de inclusão e também deixar um legado. A atleta reconhece que as condições para o paradesporto melhoraram, o que aumenta também a inclusão.

“O esporte é muito inclusivo e como sou mãe e dona de casa, preciso estar conectada a todo momento”, destaca Jane, que vê na filha Lethicia Rodrigues, hoje paratleta do tênis-de-mesa, a continuidade da história de superação no esporte.

“Consegui passar um exemplo pra ela, que mesmo com deficiência, você realiza seus sonhos, pratica um esporte e consegue trilhar um caminho”.

Letícia Rodrigues, filha de Jane Karla, em disputa do tênis-de-mesa Foto: CPB

E Jane Karla espera que a filha Lethicia desfrute das boas condições oferecidas pelo Comite Paralímpico Brasileiro. Com a experiência de quem está há mito tempo competindo, reconhece que o momento para os paratletas melhorou.

“O Comite Paralímpico Brasileiro tem um trabalho lindo, porque nos coloca de fato como atletas. Até mesmo nas premiações, como a Brasil Paralímpico, que é igual a premiação Olímpica, então é muito bacana. Da minha época pra cá, as condições melhoraram muito. A cada dia a gente ganha mais espaço na mídia, que ajuda a mostrar que não somos apenas um social, mas que competimos alto rendimento e temos muita força para representar nossa cidade e nosso país”.

Sem desistir

E perto das competições qualificatórias para a Paris 2024, Jane Karla vive o sonho de disputar sua quinta paralimpíada. “Raquetando”, atirando ou simplesmente nas atividades simples do dia a dia, mais difíceis para um portador de deficiência física, o importante é não desistir.

Não podemos apagar os nosso sonhos. Obstáculos vão acontecer, como muitos aconteceram. A vida é uma superação em tudo e sempre acredito em dias melhores.

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