Pedala, pedala, pedala… a vida de Janildes Fernandes se passa em cima de uma bicicleta. Competindo ou ensinando, a mato-grossense de São Félix do Araguaia, mas que por muitos e muitos anos atua por Goiás, já não compete como em temporadas anteriores, mas como ela mesmo disse, não dá pra parar de uma hora pra outra.

“Estou em um momento de transição, mas não consigo tirar a atleta de mim”.

Aos 42 anos, Janildes pedalou muito. Com três olímpiadas na carreira – Sidney (2000), Atenas (2004) e Londres (2012), diversas conquistas – entre elas a medalha de bronze no Panamericano de Winnipeg em 1999 e outra de prata em no Pan de Santo Domingo em 2003, a ainda atleta, atualmente dedica boa parte do seu tempo para ensinar.

“Sigo na luta, estou com um projeto, apoiando o pessoal do paraciclismo, escolinha de ciclismo em todas as suas modalidades para a criançada. Meu nome é trabalhar com o esporte. Mas sempre que dá, estou em uma competição ou outra”, diz Janildes.

Uma das entrevistadas do Podcast Debates Esportivos – Goianas Olímpicas – Janildes Fernandes, referência no ciclismo brasileiro, contou um pouco sobre suas experiências. Também participaram do podcast, a lutadora de wrestling, Laís Nunes, goiana de Barro Alto, e Jane Karla, paratleta do tiro com arco, que também têm participações olímpicas, natural de Aparecida de Goiânia.

Janildes Fernandes exibe uma de suas medalhas Foto: arquivo pessoal

Corrida por espaço

“Mulher ou homem, o esporte é pra quem treina mais”. A definição utilizada por Janildes tem um motivo: a falta de competitividade no ciclismo feminino em Goiás.

“Aqui tem poucas mulheres na nossa modalidade, então a gente podia largar com o pessoal do masculino, pra melhorar a nossa competitividade, mas não deixam. Sofremos no nosso próprio Estado, porque quando conseguimos convencer o organizador das provas, de deixar as mulheres largarem juntamente com os homens, os próprios atletas não deixam”, reclama Janildes, que nos dias de hoje também atua como dirigente e espera que nova Ministra dos Esportes, a ex-jogadora de vôlei Ana Mozer, faça algo que mude a realidade dos atletas brasileiros.

“Esperamos que ela mude a realidade e faça, de fato, algo para as mulheres. Mas vou te falar: o maior erro está mesmo entre as mulheres”.

Falta união

E na busca por dias melhores, a falta de união entre a mulheres é um problema. Janildes não esconde a sua insatisfação, inclusive com quem poderia ajudar a fomentar o esporte na base, nos bairros.

“Esses dias estive na Câmara, acho que por umas três vezes, pra tentar falar com as vereadoras, e elas não me atenderam. Sou melhor atendida pelos vereadores do que pelas vereadoras. Acho um pena, mas não vou dizer quem são elas”, revela a ciclista, que também cita um outro problema.

“Ainda tem muita diferença nas premiações. Nas provas nacionais e internacionais, de elite, em todas a premiação para as mulheres é menor”.

Segue no pedal

Em meio aos desafios para fomentar o ciclismo, Janildes e a família Fernandes, seguem no pedal. Sem esquecer do início aos 14 anos e das dificuldades, como a perda do irmão Neilson, que também era ciclista, e que morreu durante a disputa do Panamericano de Winnipeg em 1999.

“Foi uma troca. Deus me deu a medalha e ao mesmo tempo me tirou algo precioso”, disse Janildes, que só ficou sabendo da morte do irmão quando voltou ao Brasil”, lamenta Janildes, uma goiana olímpica, que tenta deixar um legado.

“Me sinto honrada, porque muitos não conseguem, enquanto fui em três jogos olímpicos. Acho que tudo o que eu podia fazer pelo esporte, eu fiz, mas ficou o gostinho da medalha, mas quem sabe a minha trajetória não estimule um outro atleta. Tenho um filho de 9 anos e que sabe a medalha não venha com ele? Estou plantando essa sementinha”.

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