A perda de um familiar para a Covid-19 gera dor e incertezas. Uma nova etapa de um estudo feito com contribuição da Universidade Federal de Goiás (UFG) aponta que, entre os jovens estudantes, essa realidade pode ser ainda mais afetada, resultando em medo, ansiedade e depressão.

No entanto, um fator pode ajudar a superar este cenário com mais facilidade: ser ativo fisicamente. É o que explica o docente do programa de pós-graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da UFG, Claudio André Barbosa de Lira.

Confira a entrevista com o professor Claudio André Barbosa de Lira, da UFG, a seguir

”Estudantes universitários que perderam algum membro da família para a Covid-19 relatam um maior nível de medo e um maior nível de ansiedade e depressão. Paralelamente, aqueles estudantes universitários que perderam um membro da família, mas que são fisicamente mais ativos, relatam um menor nível de medo, de ansiedade e de depressão”, argumenta o professor.

Em um período de quase dois anos após a restrição de atividades devido à pandemia da covid-19, o estudo mostrou que o número de participantes com ansiedade e sintomas depressivos diminuiu de 2020 para 2022.

”Em junho de 2020, grande parcela dos participantes afirmaram que estavam aderindo ao isolamento social, estavam em casa etc. Em janeiro de 2022, essa participação na restrição e isolamento social diminuiu sobremaneira”, argumenta o docente da UFG.

De acordo com o levantamento, em 2020, 23,2% dos participantes do estudo apresentaram ansiedade e 29,6% apresentavam sintomas depressivos moderados e graves. Entretanto, em 2022, os dois percentuais foram reduzidos, respectivamente, para 14,8% e 19,3%.

A pesquisa analisou ainda os níveis de depressão e ansiedade em relação aos índices de atividade física e restrições de mobilidade entre a primeira onda de contágio em junho de 2020 e a quarta onda em janeiro de 2022 no Brasil.

”A atividade física regular é um tratamento não farmacológico muito importante para a prevenção e tratamento de transtornos psiquiátricos tais como a ansiedade e depressão. Então fato de termos encontrado um aumento do nível de atividade física regular nos participantes da pesquisa é uma das justificativas para a diminuição dos sintomas de ansiedade e depressão. A gente também não pode esquecer a diminuição do isolamento social”, aponta o professor.

Vacinação e economia

Os dados apontados na pesquisa fazem parte do artigo “Comparison of the levels of depression and anxiety during the first and fourth waves of coronavirus disease-2019 pandemic in Brazil”, que foi divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O trabalho foi coordenado pela professora Marília dos Santos Andrade, docente do departamento de fisiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e contou com colaborações da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e da Universidade de Zurique, na Suíça.

O questionário conteve perguntas relacionadas às informações pessoais, níveis de restrição de mobilidade, níveis de atividade física e variações de humor dos participantes. De acordo com o levantamento, outro fator que contribuiu para a melhoria da saúde mental dos participantes foi a retomada da economia e a vacinação contra a Covid-19.

”Muita gente perdeu seus empregos e, com a retomada da economia, isso tudo em conjunto, contribuiu para os resultados da nossa pesquisa”, afirma. ”A vacinação deu uma segurança para a população começar a sair de casa. Temos uma melhora da percepção do futuro entre as pessoas e isso, com certeza, reforça o que nós encontramos”, afirma Lira.

Claudio André Barbosa de Lira (Foto: Sagres TV)

Resultados e nova fase da pesquisa

Apesar da redução, a taxa de ansiedade e depressão ainda permaneceu alta. Para combatê-la, os pesquisadores propuseram a adoção de medidas de incentivo à atividade física e promoção da saúde mental.

Entre os indicadores que potencializaram os transtornos depressivos e de ansiedade durante a pandemia da covid-19, de acordo com os pesquisadores, estão: as incertezas em relação ao futuro, preocupações com a saúde, frustração, tédio, crise econômica mundial, redução da renda familiar, turbulência política e diminuição dos níveis de exercício físico.

Outro resultado expressivo diz respeito ao percentual de participantes classificados como muito ativos, pois houve o aumento de 39% em junho de 2020 para 48% em janeiro de 2022. Consequentemente, o nível de atividade física entre os pacientes cresceu de forma significativa entre os dois períodos, o que ocasionou em um resultado positivo na perspectiva de estabilidade mental e controle emocional.

Agora, uma terceira fase da pesquisa está sendo idealizada para quando for decretado o fim da pandemia.