Em abril, vemos campanhas que celebram o Dia Nacional dos Povos Indígenas. O que justifica a existência dessa data? Uma lista extensa, mas, podemos tentar resumi-la em identidade, valorização, resgate. A mudança do termo “Índio” para “Povos Indígenas” traz o esforço em expressar a diversidade que há no ser índigena.
Nesse sentido, a Literatura é uma das maneiras pelas quais podemos reconhecer essa diversidade, a partir do contato com a escrita de perfis distintos, com múltiplas culturas, ancestralidades e saberes.
Uma vez que faço o exercício de olhar para o meu histórico de leitura e vejo que há pouco assinado por essas vozes, cabe a mim fazer a escolha por mudar essa realidade. Hoje, separei 3 nomes para a minha e a sua lista literária.
Kaká Werá Jecupé
Além de escritor, também se apresenta como educador, terapeuta e empreendedor social. Na lista de obras publicadas, aparecem nomes como “A Terra dos mil povos” e “Menino-Trovão”.
Seu trabalho literário se aproxima de seu papel social, pois ambos giram em torno da valorização dos saberes tradicionais. Nascido em 1964, na última aldeia guarani na região sul da capital paulista, passou por um processo de busca por suas raízes no país paraguaio, em prol de um resgate da cultura guarani.
Desta trilha, colheu memórias que deixou registradas em livros, como no “Tupã Tenondé”, “O Trovão e o Vento” e “A Águia e o Colibri”.
Em 2023, apostou na escrita para um público mais jovem, com “Uga”, que conta a história de amizade entre Uga e Jabu, misturando elementos das fábulas dos povos originários.
Eliane Potiguara
Um dos principais nomes da literatura indígena nacional. E não é para menos, já que ela é considerada a primeira mulher indígena a publicar um livro no Brasil. Na sua produção, encontramos “A Terra é a Mãe do índio” (1989) e “Metade cara, metade máscara” (2004).
Alfabetizada aos 7 anos, precisou entender as letras para que pudesse escrever cartas em nome de sua avó, que desejava se comunicar com outra parte da família que fugia de ameaças de morte.
“Nosso ancestral dizia: Temos vida longa!
Mas caio da vida e da morte
E range o armamento contra nós.
Mas enquanto eu tiver o coração aceso
Não morre a indígena em mim
E nem tampouco o compromisso que assumi”
Trecho do poema Identidade Indígena – Eliane Potiguara
Graça Graúna
Nessa pequena lista, não poderia faltar espaço para a poesia. Indígena potiguara, se divide entre a escrita e a pesquisa em Literatura, Educação e Direitos Indígenas, focos de sua produção acadêmica.
Parece haver poesia até mesmo na escolha do nome de suas obras, como “Canto mestizo”, “Tear da palavra” e “Flor da mata”.
Apesar de ter nascido no Rio Grande do Norte, passou a maior parte da vida em terras pernambucanas. Atualmente, é professora na Universidade de Pernambuco (UPE), além disso, foi uma das responsáveis pelo fortalecimento de uma crítica literária voltada para a produção de povos indígenas.
Em uma entrevista, Graça afirmou: “Quando escrevo, acredito que em minha escrita se manifesta a literatura-assinatura de milhões de povos excluídos na história dos 500 anos”.
Entre o passado e presente, Graúna faz parte das vozes indígenas que fazem da Literatura um meio para que no futuro, esses saberes não sejam mais esquecidos. Ao lê-las, damos força para esse movimento.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS 4 – Educação de Qualidade.