Neste 8 de março, dia que escolhemos chamar por Dia Internacional das Mulheres, podemos nos fazer muitas perguntas, mas aqui, me atenho a uma: quantas mulheres estão em sua estante? Indo um pouco além, sobre o que elas estão falando?

Hoje e em todos os outros dias, leitores precisam saber que mulheres têm muito a dizer. Nesse sentido, o Clube Leia Mulheres parece ter feito dessa missão um dos seus objetivos principais. Isto é, incentivar a leitura das múltiplas vozes femininas.

Clube de Leitura

Aqui mesmo na coluna, já escrevi sobre os motivos que me fazem acreditar que integrar um Clube de Leitura é uma ótima opção para quem deseja diversificar os livros nas prateleiras (das físicas às digitais). Mas, no Leia Mulheres, a proposta ultrapassa o fato de se ler apenas mulheres, são elas que também sempre mediam as discussões.

“Mulheres são menos lidas, menos publicadas e consequentemente, menos premiadas e reconhecidas”, me disse Juliana Leuenroth, uma das fundadoras do clube e mediadora na capital paulista.

A ideia que nasceu entre três amigas, todas com alguma ligação com o universo editorial, hoje já está em mais de cem municípios brasileiros. Só de mediadoras, são mais de 400 mulheres participantes do Clube que já virou movimento.

O Leia Mulheres foi inspirado justamente em outro tipo de movimento, o “Reading Woman”. Em 2014, impulsionado pela autora britânica Joana Walsh, a hashtag estimulou a leitura de mulheres e gerou algumas mudanças em editoras que “prometeram” publicar apenas mulheres no ano seguinte.

Quem são as clássicas?

Pense nos tempos de escola e naquelas “listas de leituras obrigatórias”. Quantos nomes masculinos vêm à mente? E femininos? Por diferentes motivos, ao deixar de fora obras de grandes escritoras ao longo dos tempos, estamos dizendo que apenas vozes masculinas podem permanecer por gerações. Visto que isso é exatamente o que um clássico alcança. Eles ecoam para além do seu tempo de escrita.

“Temos várias outras autoras que não fazem ainda parte desse ‘cânone’. Temos autoras escrevendo o tempo todo. Por que não as lemos nas escolas? Nas universidades? Primeiro, a gente olha pra nossa estante e depois, aumentamos a discussão”, provoca Juliane.

Depois da conversa sobre o Leia Mulheres, (a entrevista completa foi ao ar no programa Tom Maior, na Sagres TV), pensei nas minhas aulas de Literatura. Lembro de achar incrível ouvir o nome de uma mulher, seguido por “escritora” como apresentação. Soava quase como uma habilidade secreta, um super-poder. 

Quando adolescente, li muitas mulheres, mas a maioria no gênero dos “romances românticos”. Claro que podemos falar de amor. Mas há mais para ser dito e hoje, esse tem sido o meu exercício. Quando quero aprender sobre algo novo, procuro saber quais são as mulheres que têm se dedicado a escrever acerca do assunto.

Não porque não existem homens bons e qualificados escrevendo por aí sobre os temas do meu interesse. Ainda há muitos homens na minha estante, é claro. Mas, torno isso uma atitude intencional pois quero mesmo que esse “super-poder”, o de habitar em mentes por palavras, seja parte do universo o qual faço parte.

Extra: mulheres para a sua estante

Lygia Fagundes Telles
Foto: Acervo IMS

Lygia Fagundes Telles, nascida em 1923, na capital paulista. Reconhecida pela escrita íntima e sensível, chegou a ser membro da Academia Brasileira de Letras. Algumas de suas obras são “As Meninas” e “Ciranda de Pedra”.

Eliane Potiguara

Escritora indígena, professora e ativista contemporânea. Em 1990, foi a primeira mulher indígena a conseguir uma petição no 47º Congresso dos Índios Norte-Americanos, no Novo México, em apresentação para a Organização das Nações Unidas. É autora de obras como “A Terra É Mãe do Índio” (1989) e “O Vento Espalha Minha Voz Originária” (2023).

Isabel Allende

Escritora chilena, ascida em 1942, conhecida por suas narrativas ricas em elementos mágicos e históricos. Algumas de suas obras são “A Casa dos Espíritos”, “Eva Luna” e “Violeta” (o próximo livro em minha lista). 

Aline Bei

Paulista, a escritora de 36 anos tem sido colocada como uma das promessas do mercado editorial atual. Até o momento, publicou “O peso do pássaro morto”, que será adaptado para os cinemas, e “Pequena coreografia do Adeus”. Em uma mistura de prosa e poesia (só lendo para compreender), Bei escreve sobre sofrimento, amor e despedidas, de um modo excepcional.  Foi finalista do Prêmio Jabuti.

Maya Angelou

Escritora estadunidense, nascida em 1928. Suas obras incluem “Eu sei por que o pássaro canta na gaiola” e “Coração de uma Mulher”. Racismo, identidade, lembranças. É a primeira mulher negra a estampar uma moeda nos Estados Unidos.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS 4 – Educação de Qualidade.

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