O último relatório da pesquisa “Retratos da leitura” aponta que apenas pouco mais da metade da população (52%) tem hábitos de leitura no Brasil, com a Bíblia e os livros religiosos dominando a preferência. Os dados mostram ainda que o país perdeu 4,6 milhões de leitores entre os anos de 2016 e 2020.

Umas das constatações é que essa diminuição se deu principalmente entre adultos das classes A e B e predominantemente com curso superior. “Esse foi um dado bem diferente porque mostra que não se trata do acesso. São pessoas que em tese têm acesso e escolaridade, mesmo assim foi o grupo onde os números mais demostraram a diminuição de leitores”, explica Cristina Araújo, vice-diretora do Centro de Estudos Aplicados à Educação da Universidade Federal de Goiás (Cepae/UFG).

Cristina também integra a Rede de Ancoragem do Programa Escrevendo o Futuro, ligada ao Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC), que começou a pesquisar os motivos para a queda de leitura neste público.

“A princípio o que se percebeu é que o tempo livre dos adultos e pessoas escolarizadas de classes A e B, têm sido utilizados em redes sociais e plataformas de streaming de filmes. Até agora, o que nós constatamos é que essas atividades têm concorrido com a prática de leitura naqueles moldes que nós conhecemos dentro do perfil de leitor”, revela.

A pesquisa “Retratos da leitura” foi feita pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural e considera como leitor toda pessoa que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos 3 meses antes de sua realização. Para a vice-diretora do Cepae/UFG, o padrão de definição de leitor é baixo. “Isso é muito pouco. A métrica é muito baixa e mesmo assim o brasileiro lê pouco. Mas ele lê pouco essa leitura estruturada porque as outras práticas de leitura são muito cotidianas”, explica.

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Como os adultos podem inserir a leitura no cotidiano

Um dos pontos avaliados pela especialista é o adulto se perguntar o que gostaria de ler e refletir sobre os motivos para estar lendo pouco.
“O ideal seria que o adulto começasse por aquilo que ele gosta de ler e buscar relacionar a leitura com seu estágio de vida e seus interesses. Permita-se começar a ler algo mesmo que não vá terminar, sem que haja o sentimento de punição. O leitor tem o direito de começar a ler um livro abandoná-lo quando quiser e retomar a leitura quando puder”, diz.

Dedicar tempo

Outra dica é separar um tempo para leitura e criar metas que permitam acompanhar diariamente o progresso. De forma gradativa, o leitor passa a ter a sensação de dever cumprido, o que é importante para manter a motivação. “É preciso fazer a leitura da forma mais sistemática possível. Ninguém vai ter vontade de ler se não criar uma disciplina. Se há um nível de consciência de leitura, então isso precisa criar hábitos”, frisa.

Estabeleça uma meta diária que seja fácil de ser cumprida, por exemplo, 10 páginas. No dia seguinte experimente dobrar a meta, e assim sucessivamente.

Local agradável

A escolha de um bom ambiente para leitura é fundamental para permitir total concentração na leitura. Muitos leitores costumam ter um lugar favorito para ler como parques, praças, livrarias e bibliotecas. A preferência por locais mais calmos e confortáveis pode fazer a diferença para o rendimento da leitura.

“Se você é uma pessoa que se distrai facilmente, não vai poder ler qualquer em lugar. Além de um momento para se dedicar a leitura, é preciso também pensar um lugar adequado”, ressalta.

Inverta a ordem do livro

Os livros têm uma ordem progressiva de páginas, mas quem caminha pelo livro é o leitor. Existem leituras que precisam ser lineares, da primeira à última página, mas outras não. Começar com livros de crônicas, contos ou até mesmo de romances mais curtos, os quais o leitor possa ter a liberdade de circular, é o ideal.

“Analisar o sumário e ver onde eu quero começar, isso dá ao leitor a sensação de que ele não é escravo de leitura. Ele é aquele que vai transitar pela leitura. O fato de não fazer a leitura linear como se espera, associa a uma ideia de fracasso e de que não gosta de ler. Mas, às vezes, a pessoa apenas não encontrou a melhor maneira de ler o gênero que o faça ficar envolvido na leitura”, finaliza.

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