O Tom Maior desta terça feita (7), abordou sobre o trabalho do Grupo de Pesquisa Lugares e Patrimônios (LUPA), que realizou, no mês passado de forma remora, o I Colóquio LUPA, no qual integrantes do grupo apresentaram as pesquisas realizadas nos últimos anos e também as que ainda estão em andamento, de forma virtual. Os estudos falam sobre lugares, patrimônio cultural, e as dinâmicas materiais e simbólicas que integram as formas de apropriação do espaço.

Para conversar sobre o assunto a Sagres convidou o consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), na área de Patrimônio Cultural, Raul Lanari.

O consultor explicou que a ideia de patrimônio surgiu na cultura ocidental em meados do século XIX e inicialmente esteve associada a bens materiais como construções, coleções, bens móveis e imóveis. Segundo ele, esses bens se transformam em focos de políticas públicas voltadas para a preservação e restauração desses patrimônios.

“No Brasil as primeiras configurações das Políticas de Patrimônio Cultural surgem ligadas aos bens materiais, pois a matriz de construção dessas políticas vem da história da arte e da arquitetura. Por isso as políticas tiveram que ser mais concentradas nas obras de arte e nos bens móveis como mobiliário e coleções”, explicou.

De acordo com Raul, a partir da década de 1960, outras abordagens começaram a conviver com a visão que existia até o momento, que eram ligadas às características arquitetônicas e artísticas do patrimônio histórico. As novas abordagens exigiam um olhar para aspectos culturais voltados para as permanências históricas e para as novas apropriações dos elementos culturais, por comunidades que tinham esses patrimônios.

“A ação da Unesco foi muito importante para incorporar essa visão antropológica e cultural de patrimônio, que passou a envolver, muito além de edificações, mas também os lugares, não se restringindo apenas a locais físicos e sim modos de vida, as celebrações, formas de expressão religiosa e não religiosa e toda dimensão intangível”, esclareceu.

O consultor explicou também que a mudança de nomenclatura de Políticas de Patrimônio Histórico e Artístico, para Políticas de Patrimônio Cultural mostra a maior dimensão e como a ideia de patrimônio foi ampliada.

Segundo o consultor existem patrimônios que precisam de apoio para sobreviver e outros que não necessitam, por que fazem parte das práticas cotidianas da comunidade estabelecidas naquele espaço.

“O LUPA surgiu justamente para buscar entender as múltiplas formas de apropriação dos lugares, dando origem a modos de vida que geram patrimônio como práticas, bens materiais, coleções, edificações, templos religiosos, monumentos e todas as manifestações materiais e imateriais no patrimônio que acontecem em lugares socialmente construídos, pois diferentes grupos sociais olham de forma diferente para os espaços”, afirmou.

Confira a entrevista na integra com Raul Lanari no Tom Maior  #52