A cidade de Porto Nacional, a 59 quilômetros da capital Palmas-TO, tornou-se a primeira da região Norte do país a receber uma solução inovadora e sustentável contra o Aedes agypti, o mosquito transmissor de várias doenças, entre elas a dengue. O número de casos no município, que possui pouco mais de 50 mil habitantes, chegou a 657 em 2022.

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Trata-se da ação “Aedes do Bem™”, uma caixa reutilizável com refis contendo os ovos de mosquitos com a característica autolimitante. A iniciativa é uma parceria da prefeitura de Porto Nacional com empresa multinacional de biotecnologia Oxitec, fundada na Universidade de Oxford.

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Basicamente, o combate ao Aedes é feito utilizando o próprio mosquito fazendo o controle da população de fêmeas, já que são elas as responsáveis pela picada que transmite as doenças. É o que explica a coordenadora das Operações de Campo da Oxitec Brasil, Luciana Medeiros. 

Caixa fabrica mosquitos viáveis machos capazes de procriar e eliminar fêmeas responsáveis pela transmissão de doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela (Foto: Instagram/@oxitec)

“Cada caixa é como se fosse uma mini-fábrica. Ela contém uma cápsula de ovos que são ativados por adição de água e esses ovos eclodem em larvas. As larvas levam de 10 a 15 dias para virarem adultos e só produzem mosquitos machos, que são os que não picam. Estes voam, encontram as fêmeas do ambiente, e quando elas cruzam com esses machos elas só irão produzir novos machos viáveis”, esclarece. 

Segundo a Oxitec, deste cruzamento, as fêmeas não sobrevivem e apenas os descendentes machos chegam à fase adulta, herdando dos pais a característica autolimitante. O resultado é a queda do número de fêmeas que picam e transmitem doenças, e, consequentemente, o controle populacional direcionado do Aedes aegypti. 

Ao todo, 102 caixas do Aedes do Bem™ foram instalados em pontos diferentes e considerados estratégicos em três bairros: Nova Capital, Jardim Brasília e Vila Nova.

Segudo a Oxitec, atualmente existem dois modelos de caixa: o Pro, que é maior e feito para ambientes que precisam de controle massivo de mosquitos como shoppings, clubes e indústrias. Em breve, o Aedes do Bem também estará disponível para controle residencial. 

“Em fevereiro iremos lançar uma caixinha mini, com uma dose menor, mais adequada para ambientes residenciais, e o consumidor final vai poder adquirir também pela rede varejista. Queremos que haja essa acessbilidade e aceitação do público”, conclui Luciana. 

Sustentabilidade

A solução inovadora e sustentável chamada Aedes do Bem™, foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em 2020 e, além de ser livre de inseticidas químicos, é altamente eficaz no controle biológico do mosquito Aedes aegypti, não afeta outros insetos e tampouco agride o meio ambiente como acontece com métodos tradicionais de controle. 

“A gente não causa nenhum tipo de impacto em qualquer outro inseto que esteja nas redondezas do tratamento, e só atinge o Aedes aegypti. É um tratamento específico, focado que faz com que a diminuição da população seja só do inseto-alvo”, argumenta. 

Além disso, a empresa garante que os produtos não são tóxicos nem alergênicos, não se concentram ao longo da cadeia alimentar e não causam efeitos adversos caso sejam consumidos por outros animais.

96% de supressão do Aedes aegypti em Indaiatuba-SP

De acordo com a Oxitec, as liberações de mosquitos Aedes do Bem™ em comunidades urbanas densamente povoadas e afetadas pela dengue como o município de Indaiatuba, no interior de São Paulo, levaram à supressão significativa da população de Aedes aegypti local em até 96%.

O estudo, que foi publicado na revista científica Frontiers in Bioengineering and Biotechnology e revisado por pares, testou duas doses diferentes de liberação de mosquitos machos Aedes do Bem™ em comunidades densamente povoadas do município. Populações de mosquitos Aedes aegypti — transmissor da dengue, zika, chikungunya e febre amarela — foram monitoradas nessas regiões durante o período e sua presença no ambiente foi comparada com populações de outros bairros que não receberam mosquitos machos Aedes do Bem™.  

Durante o pico da temporada de mosquitos (novembro de 2018 a abril de 2019), as populações do Aedes aegypti em áreas tratadas foram suprimidas entre 88% e 96% em relação às áreas não tratadas.

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