Sete Vidas, filme de 2008, está longe de ser um clássico ou um blockbuster do cinema, mas foi o que mais me tocou, entre todos que assisti de Will Smith.

Não que não tenha me divertido com MIB – Men in Black, me impressionado com Independence Day ou me encantado com À Procura da Felicidade. Na verdade, a admiração começou em 1998, nos tempos de Disk MTV, quando Gettin’ Jiggy Wit It sempre aparecia no Top 10.

Vinte anos depois, nem precisei ligar a TV às 18h para ver o homem de preto. Às 15h do dia 13 de julho de 2018, em Moscou, ele veio de branco, e, como um alienígena, invadiu a sala de imprensa da FIFA pra falar sobre a cerimônia de encerramento da Copa do Mundo.

Lá esperava ver muitas estrelas. Mas minha maior entrevista na Copa acabou sendo com um ator. Não, não é Neymar, embora ele tenha mandado bem na função: “Ele fez um trabalho espetacular, ele é o cara!”, disse Will sobre as “atuações” do camisa 10 do Brasil.

Fazendo analogia à Live it Up, música oficial da Copa, Will também mandou bem na performance. “Uma vida, uma vida, viva ao máximo”, chegou gritando no local da entrevista. Pela primeira vez, fiquei em dúvida sobre Sete Vidas.

https://www.youtube.com/watch?v=V15BYnSr0P8

Depois de interagir com jornalistas, brincar com o país de cada um deles e mostrar o showman que é e o porquê de todo o sucesso, enfim, estava aberta a coletiva de imprensa. “Uma vida”, lembrei. “Uma oportunidade”, pensei. “Uma pergunta”. É tudo o que eu preciso.

Corri e levantei a mão. Olhei para o lado, todo mundo tinha feito o mesmo.

A assessora de comunicação, responsável pela escolha daqueles que fariam as perguntas, parecia garçonete, treinada pra não olhar para o cliente. Com meu 1,58m também não é nada fácil chamar atenção. O mais comum nessas horas é você abaixar o braço e aguardar a pergunta do escolhido para, logo depois, tentar a sorte novamente.

Já estávamos na terceira pergunta, a de um brasileiro. Eu, com a bandeira do Brasil estampada no uniforme, pensei: “Ela vai priorizar outros países”. Incorporando a onda de atuações na Copa, mantive o braço estendido, tapando nosso símbolo. Ela escolheu um russo, um francês, uma colombiana e uma mexicana. Sete perguntas. Foi a segunda vez que duvidei de Sete Vidas.

Confesso que, a essa altura, eu já estava no automático. O braço, de erguido, passou a travado. Mas travei mesmo foi quando ela apontou o dedo pra mim. “Me?”. Ela balançou positivamente a cabeça. Me senti ganhando um Oscar.

“Hello, Will, I’m Monara, from Brazil”, já identifiquei um olhar de arrependimento na assessora. Pra minha sorte, contrastava com o sorriso de Smith, que já tinha elegido o Brasil sua seleção preferida; Neymar, seu parça; e 2014, suas melhores lembranças.

“Ainda sobre o Brasil”, peguei o gancho,“qual dos seus filmes melhor representa a participação da seleção brasileira nessa Copa?”

Foi quando eu percebi que a surpresa não era exclusividade minha. “Meu Deus! Não sei nem por onde começar. Não tenho a menor ideia”.

Pegar um entrevistado no contrapé é sempre gratificante para qualquer jornalista. Pegar Will Smith é tão ficção quanto o hexa. “Deixa eu ver. Acho que tenho um chute aqui”. O chute dele talvez tenha sido meu gol mais bonito.

“Provavelmente, (a seleção brasileira está) no nível de atuação de Eu, Robô. Foi bom, foi ok, mas não foi um MIB – Homens de Preto (um dos grandes sucessos de Will Smith como ator), nem um As loucas aventuras de James West (filme que recebeu muitas críticas).”respondeu, aos risos.

Sim, consegui uma pergunta, uma resposta, três filmes e um sorriso. Seis grandes conquistas. Ao final, quando já nem estava mais à procura da felicidade, pintou uma selfie. Era Sete Vidas fazendo sentido novamente.

Foto: Monara Marques/Sagres On