O cyberbullying é a prática da humilhação, intimidação, perseguição, exposição, calúnia e difamação em ambientes virtuais. Geralmente, ele ocorre em ambientes como redes sociais e aplicativos de mensagens. Escolas têm atuado para coibir este tipo de prática, e investido em disiciplinas como ética.

É na escola, local onde esse público passa a maior parte do dia, que ações podem ser realizadas para prevenir e minimizar os riscos dessa prática que machuca e traz muito sofrimento. Além disso, pais ou os responsáveis também devem ensinar às crianças e aos adolescentes que eles devem ter uma postura acolhedora na internet, evitando participar de brigas ou xingar as pessoas. 

A maior incidência de casos ocorre entre os adolescentes, porém existe um alto número de jovens adultos que violentam outras pela internet. A ação pode prejudicar muito o desenvolvimento da criança e do adolescente.

A equipe de reportagem da Sagres conversou com um grupo de jovens sobre esse tema, com isso percebemos que eles já estão bem conscientes sobre o assunto. A estudante Júlia Régís passou por uma experiência desagradável na época da pandemia. A menina estava em um período difícil e não conseguiu contar com a empatia dos colegas.

“Durante essa época fizeram muitas figurinhas, porque eu não estava arrumada, falavam mal em grupos e eu acabei descobrindo”, conta a adolescente.

(Foto: Palloma Rabêllo)

Sentimentos ruins, como a raiva, acabaram tomando conta da garota, mas Júlia conseguiu passar por essa fase com a ajuda dos amigos. 

“Eu acabei fazendo amigos fora da escola. Eles me ajudaram a entender que eu não era aquilo que me falavam. Na verdade, me mostraram que sou totalmente o contrário disso”, diz Júlia.

Comentários maldosos

A estudante Marina Bulcão também precisou enfrentar os comentários maldosos dos colegas de sala, por conta de sua altura. A adolescente conseguiu superar quando começou a praticar vôlei. 

“Em 2018, eu era muito alta para a minha idade e os meus colegas sempre me chamavam de girafa e perguntavam se estava frio aqui em cima. Eu sofria bastante com isso,  me incomodava muito. Hoje em dia, percebi que é uma característica minha e com o vôlei aprendi a amar a minha altura”, ressalta a aluna. 

Convivência ética

Aula de convivência ética com a professora Danusa Crislei (Foto: Palloma Rabêllo)

Assim como Júlia e Marina, milhares de adolescentes sofrem com ofensas disfarçadas de piadas na internet. Pensando em manter esse ato fora dos portões da escola, um colégio de Goiânia investiu em uma disciplina chamada convivência ética.

De acordo com a professora Danusa Crislei a política da escola é preventiva. O corpo docente acredita que apenas informar sobre uma lei punitiva não vai fazer com que o aluno se regule.

“É preciso ter um desenvolvimento moral. Então, o programa de convivência ética estuda os valores como, a generosidade, empatia e honestidade. Com isso, os alunos constroem uma personalidade mais ética”, explica a professora.

Segundo a educadora, as aulas de convivência ética sobre a internet pegam os mesmos valores do mundo real. 

“Nós mostramos para eles que não é porque estão na internet que não haverá dor. A dor e os prejuízos que acontecem no ciberespaço também são reais. Por isso, trabalhamos muito com empatia e compaixão”, ressalta. 

Prejuízos do cyberbullying 

O cyberbullying pode trazer sérios prejuízos para quem é alvo dos comentários, como um quadro de isolamento e tristeza que pode evoluir para depressão, transtorno de ansiedade e síndrome do pânico. De acordo com a psicóloga Grisiele Silva uma das características da adolescência é a insegurança e a necessidade de aprovação.

“Quando alguém de fora destaca algo que não é tão positivo, colocando isso com muita maldade faz com que a autoestima desse adolescente fique cada vez menor. E é isso que, normalmente, acontece no cyberbullying”, esclarece a psicóloga.

Educação 

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), não basta denunciar os agressores, é preciso reconhecer que todos merecem respeito, dentro e fora das redes sociais, e isso, só será possível através da educação. O mais interessante é que os alunos reconhecem a importância de falar sobre ética na internet em sala de aula e valorizam o espaço que é destinado a esse tema. 

Marina Bulcão,Sofia Vilela, Júlia Rodrigues, Júlia Régis (Foto: Palloma Rabêllo)

A estudante  Júlia Rodrigues conta que os professores sempre falam sobre situações que ocorreram o bullying. Durante as aulas os docentes explicam que às vezes uma palavra pode afetar uma pessoa pelo resto da vida. 

“Os professores sempre falam sobre isso principalmente nas aulas de convivência ética e nas assembleias que é onde a gente consegue expressar como foi o processo da autoaceitação”, conta.

A Júlia Régis ressalta que esse momento é importante tanto para demonstrar a opinião do aluno, quanto para aprender a ouvir o colega. 

“A gente pode reclamar sobre o que não está certo. As assembleias falam sobre o cyberbullying e como isso afeta os outros. É um momento para a gente aprender a ouvir e falar.”

Coibir o cyberbullying

A psicóloga Grisiele Silva explica que o principal caminho para controlar o cyberbullying é a educação, a informação e incentivar a empatia ao próximo. É importante lembrar que o cérebro do adolescente ainda está em desenvolvimento. De acordo com Grisiele muitas vezes o jovem tem uma ação e não faz ideia de como isso pode impactar no seu futuro.

“Tudo isso é muito importante! Ele realmente não tem essa parte desenvolvida, então nós adultos precisamos ajudá-lo nessa condução. É importante fazer essa análise de que tudo que é feito terá uma consequência, das coisas mais simples até as mais complexas”, finaliza.

Punições

Apesar de não haver lei específica para tipificar o cyberbullying como crime, ele é passível de punição no Brasil.

O cyberbullying é passível de punição por meio do Código Penal quando configura os crimes contra a honra (calúnia, difamação e injúria – Artigo 138 do Código Penal Brasileiro), crime de injúria racial (ataques racistas – Artigo 140 do Código Penal Brasileiro) e exposição de imagens de conteúdo íntimo, erótico ou sexual (Artigo 218-C do Código Penal).

Em todos os casos, as punições previstas no Código Penal Brasileiro podem chegar a quatro anos de reclusão. Na esfera civil, os agressores podem ser condenados a pagar indenizações por dano moral.

O tema é alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), ODS 3—Saúde e Bem-Estar.

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