CÉZAR FEITOZA / BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou nesta segunda-feira (23) que o novo comandante do Exército, Tomás Paiva, terá de fazer costuras internas na Força para retomar a normalidade após a demissão do general Júlio César de Arruda.

“Ele (Tomás) prometeu servir ao país no comando do Exército. Está entusiasmado. Evidentemente que existem algumas costuras internas para fazer, a coisa foi muito rápida, mas nós tínhamos que fazer o que foi feito”, disse Múcio.

A declaração foi dada após Múcio se encontrar com Tomás durante um café da manhã. O novo comandante já foi nomeado e trabalha na sede do Quartel-General do Exército.

Ainda há dúvidas sobre a realização da transmissão do cargo -radicional cerimônia em que o antigo comandante passa a função ao sucessor, com a entrega da réplica da espada de Duque de Caxias.

Durante a conversa com a imprensa, Múcio tentou apresentar tranquilidade. Ele disse que conversou pela manhã com Júlio César de Arruda e que a cirurgia do general, realizada no sábado (21), foi bem-sucedida.

“Desde a questão dos acampamentos, do dia 8, houve uma quebra de confiança, entendeu? De maneira que fica muito difícil trabalhar quando as coisas ficam sob suspeita, se ia ou não tomar a providência. Mas está tudo em paz, tudo calmo. Foi um final de semana evidentemente de muito trabalho”

O ministro da Defesa ainda disse que não deu orientações para Tomás cuidar dos militares porque “ele sabe muito melhor [do que eu] como lidar com as tropas”. “As coisas estão tranquilas”, reforçou Múcio.

No domingo (22), o ministro disse ao jornal Folha de S.Paulo que a ordem do Planalto é não abrir mão da punição dos responsáveis pela invasão e depredação dos Três Poderes. “Lula não vai perdoar ataques golpistas. Investigações vão até o fim”, completou.

Tomás convocou para esta semana uma reunião do Alto Comando do Exército –o colegiado de 16 generais quatro estrelas responsável pelas principais decisões da Força. O encontro deveria ocorrer nesta segunda, mas foi adiado para terça (24) porque alguns dos militares não conseguiriam chegar a Brasília a tempo.

A convocação é extraordinária e servirá para o novo comandante dar esclarecimentos ao generalato, após uma reunião considerada confusa realizada no sábado (21), quando Arruda anunciou aos pares que deixaria o cargo.

Um dos grandes receios é que o governo Lula realize pressão pela retirada de oficiais que estejam em cargos de comando, como é o caso do comandante Militar do Planalto, general Gustavo Dutra.

A avaliação interna é que Dutra agiu conforme as orientações pela retirada gradual do acampamento golpista em frente ao QG do Exército e foi prudente ao negociar a desmobilização dos bolsonaristas no dia seguinte aos atos de vandalismo contra as sedes dos Três Poderes.

A situação considerada irreversível é a do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele é alvo de investigação da Polícia Federal por ter realizado transações consideradas suspeitas a pedido do mandatário, como mostrou a Folha.

Cid assumiria em fevereiro o comando do 1º Batalhão de Ações de Comando, em Goiânia. Segundo relatos, Tomás recebeu ordem de Múcio para reverter a nomeação. Entre as possibilidades, generais apostam que Cid possa assumir outra função na estrutura do Exército ao invés de ser afastado da Força.

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