Matéria da BBC publicada no site BBC Earth destaca a pressa de cientistas para estudar a Antártida. O texto de Chris Baraniuk aponta os desafios dos pesquisadores no gelo mole e as tentativas de estudar a Antártida enquanto ela derrete.
“Temos a tendência de pensar na Antártida como um mundo perenemente coberto de gelo. Mas, embora o continente continue sendo um ambiente desafiador e inóspito para os humanos, ele está mudando”, escreve Baraniuk.
Ele conversou com Simon Morley, um cientista que mergulha nas águas geladas da Antártida há 20 anos. O biólogo marinho do British Antarctic Survey (BAS) já encontrou na vida marinha do mar da Antártida esponjas, ascídias, mas afirma que o gelo está ficando tão fino que está complicado viajar e mergulhar na região.
“Nós fazíamos 100 ou mais mergulhos no gelo marinho no período de inverno [no passado]”, contou. Mas “no ano passado, eu acho que [meus colegas] conseguiram talvez cinco a dez mergulhos no gelo marinho”, diz.
Mudanças climáticas
Os cientistas vão à Antártida para estudar os padrões passados de mudanças climáticas e para isso coletam núcleos de gelo que estão no local há milênios. Esses núcleos podem revelar como eram as temperaturas em épocas passadas e os bolsões de gás ajudam os pesquisadores a entender como era a composição da atmosfera e como ela mudou.
A pressa dos cientistas está na coleta desses registros, pois as regiões polares estão aquecendo e eles estão ameaçados. Simon Morley e seus colegas cientistas que visitam a Antártida estão tentando coletar o máximo de “registros preciosos” antes que o gelo derreta. Morley explica a situação atual para estudar na Antártida.
“[O gelo] é muito espesso para eles tirarem os barcos, mas não é espesso o suficiente para cortar buracos com a motosserra e realmente fazer o mergulho”.
Para conseguir mergulhar e coletar os dados eles estão deixando os bancos de prontidão durante o inverno e se lançam imediatamente na primeira janela de oportunidade.
Vegetação onde tinha gelo
As montanhas de gelo estão se transformando e agora é possível ver a vegetação no solo. “A geleira na qual aprendi a esquiar na Geórgia do Sul não é mais uma geleira, não está mais lá”, diz Morley. A Geórgia do Sul é uma ilha na Península Antártica que ganhou manchas de grama por causa do solo descoberto de gelo.
O degelo está deixando o trabalho dos cientistas mais difícil. Antes contínuo, o estudo agora é realizado no verão e no inverno para comparações sazonais. Segundo o cientista Jeremy Wilkinson, também do BAS, a situação não é diferente no Ártico, porque o gelo marinho está menos confiável e ele precisa ajustar experimentos por causa dos equipamentos.
“Agora, com o gelo recuando tão rápido, não podemos fazer isso [colocar malas à prova d’água no gelo] porque o gelo derrete e seus instrumentos caem no oceano”, diz. “Todos os nossos sistemas agora são projetados para flutuar”, acrescenta.
A Antártida está mudando
Outra pesquisadora que conversou com Chris Baraniuk foi Natalie Robinson, física marinha do Instituto Nacional de Pesquisa Aquática e Atmosférica (NIWA) da Nova Zelândia. Robinson e os colegas projetaram de cristais de gelo de aparência difusa cheia de cavidades cheias de água um sistema de extração de gelo para estudar o gelo de plaquetas – massa do mar.
O sistema permite que eles recuperem o gelo que é delicado intacto. Mas em sete anos eles ainda não conseguiram chegar ao local desejado para a pesquisa.
O local que eles desejam alcançar está próximo a Plataforma de Gelo Ross, uma área de mais de meio milhão de quilômetros quadrados. No entanto, tiveram que coletar as amostras perto da Base Scott, estação de pesquisa antártica da Nova Zelândia.
“Era efetivamente uma parte totalmente diferente do oceano que estávamos estudando”, diz Natalie Robinson. “Não era nada do que estávamos planejando”, afirma.
Corrida contra o degelo
As temperaturas estão mais quentes e isso dificulta a formação de gelo. Robinson conta que em 22 anos de experiências na Antártida vê a região atualmente como um lugar “sóbrio”.
O que preocupa os cientistas é que essa transformação pode por fim nos trabalhos de campo e experimentos científicos na Antártida.
“Estamos correndo para reunir todos os dados que pudermos antes que essas grandes mudanças aconteçam”, diz Robinson.
*Acesse o texto de Chris Baraniuk na íntegra no site BBC Earth.
*Este conteúdo segue os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 13 – Ação Global Contra a Mudanças Climática.
Leia mais: