Um dos convidados do Podcast Debates Esportivos – o ex-técnico do Goiás, Ney Franco, relembrou como foi enfrentar a chegada da Covid-19 no início de 2020. A adaptação às novas medidas de prevenção, o isolamento, os efeitos no trabalho em campo para os jogadores e ainda as perdas por causa da doença, marcaram aquele ano para toda a sociedade.
“Lembro que estávamos no Rio de Janeiro para um jogo de Copa do Brasil contra o Vasco e já começavam a pipocar os primeiros casos de covid no Brasil”, recorda Ney Franco.
O dia era 12 de março de 2020. O Goiás venceu em São Januário por 1 a 0 com um gol do zagueiro Fábio Sanches. O jogo de volta estava marcado para uma semana depois, porém não aconteceu. O futebol brasileiro juntamente com todos os outros setores da sociedade seriam afetados pela chegada da Covid-19.
“Estávamos em uma cidade turística, ainda não existia um cuidado e se discutia se precisava do uso da máscara. Quando voltamos do jogo contra o Vasco para Goiânia, fizemos mais um jogo pelo Campeonato Goiano. Desde já foi decretada uma paralisação de 20 dias em todos os clubes”, lembra o então técnico esmeraldino.
Isolamento, testes e volta ao trabalho
Home Office, escolas fechadas com aulas on-line e o isolamento de pessoas com a doença ou daqueles que estavam se prevenindo. No caso dos clubes de futebol, a volta foi bem antes do que em outros setores, porém com muitos cuidados, mesmo assim, em um grande clima de incerteza.
“Ficamos em casa, 20 dias sem saber o que fazer. Depois desse período, voltamos, e com tudo o que aconteceu, o impacto foi enorme. No Goiás, por exemplo, vencemos o Vasco no primeiro jogo, depois aconteceu o segundo com uma outra comissão técnica”, detalha Ney, que diante do Vasco no jogo de volta, já tinha deixado o clube esmeraldino. Na ocasião o Verdão era treinado por Thiago Larghi e foi eliminado nos pênaltis.
Porém, antes da eliminação para o Vasco, que aconteceu apenas em agosto de 2020, o Verdão já tinha começado o Brasileirão. Aliás, o início com tantos problemas por causa da Covid-19, culminou com a saída de Ney Franco após quatro jogos na competição.
“Tivemos um início de muita dificuldade no Campeonato Brasileiro. No jogo contra o São Paulo, na primeira rodada, estávamos sem 14 jogadores, todos com covid, então não aconteceu a partida”, lamenta Ney, que não esquece dos inúmeros testes antes dos jogos.
“Antes dos jogos tinha de ser feito os testes. Como o calendário do futebol brasileiro é apertado, com jogos quarta e domingo, a gente fazia, no mínimo, três testes por semana. Essa sequência de testes gerava um grande desgaste porque ninguém sabia como realmente funcionavam esses testes”.

Além dos diversos testes de Covid-19, tinha o dia a dia. As mudanças aconteciam pra todos e a adaptação foi gradual. Uso de máscara, CT – Centro de Treinamentos – fechado para a imprensa e a torcida, além uma preocupação maior com a higiene, eram pontos fundamentais para a prevenção à doença. Os casos eram constantes e o tempo para a recuperação dos jogadores fez com que o trabalho em campo fosse prejudicado.
“Não era só recuperar de Covid e voltar a jogar. Tinha a recuperação dos atletas, primordialmente na área cardiovascular e aeróbica. O Goiás pagou muito caro naquela temporada, inclusive com um desempenho bem abaixo no início do Campeonato Brasileiro, que terminou com a queda para a Série B”.
Família e perda
“Me lembro de dois jogadores com suas esposas grávidas, em casa, então eles temiam, principalmente quando viajavam para os jogos. Além dos próprios atletas que contraiam a doença e ficavam isolados. Isso tudo também tinha um impacto mental, mais do que o físico”, relata Ney Franco, que também sofreu longe da família.
“Naquele momento que ficamos paralisados, eu estava com a minha família nos Estados Unidos, então sofri emocionalmente por causa disso”, completa o técnico, que infelizmente perdeu seu pai durante a pandemia.
“Minha mãe, felizmente conseguiu se recuperar, mas eu perdi meu pai no fim de 2020 e infelizmente ele está na estatística de mortos por essa doença no Brasil”, revela Ney Franco, que trouxe esposa e filhos dos Estado Unidos para São Paulo, todos morando juntos, uma iniciativa tomada por causa da pandemia de Covid-19.
“O aprendizado que fica é estar junto. Primenramente me mudei com a minha família para São Paulo, pois assim ficamos todos juntos. Com minha esposa e meus filhos nos Estados Unidos, eu tinha dois caminhos: deixar minha carreira profissional e ficar nos Estados Unidos ou então ficar todo mundo aqui no Brasil. Preferi seguir com a minha carreira de técnico. No final de tudo, a gente percebeu que o mais importante é ficar junto com a família”, finaliza.
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