Um novo relatório revelado nesta terça-feira (09) pelo Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S) aponta que o ano de 2023 foi o mais quente já documentado desde o início dos registros, em 1850. Ainda segundo a agência, é bem provável que o último ano tenha sido o mais quente dos últimos 100 mil anos.

Para chegar a tal hipótese, os cientistas utilizam como base a paleoclimatologia. Esse estudo visa reconstruir como seriam os climas passados, a partir de vestígios naturais. Alguns dos vestígios pesquisados são fontes como anéis de árvores e bolhas de ar em geleiras. Os pesquisadores conseguem assim ter uma noção das tendências climáticas em longos períodos de tempo. 

É dessa forma, por exemplo, que cientistas afirmam com precisão períodos como as eras glaciais (Era do Gelo) ou de aquecimento, que atingiram o planeta Terra durante os seus 4 bilhões de anos de existência. 

Cientista já esperavam recorde

Os pesquisadores da agência, que faz parte da União Europeia, já esperavam que o recorde de ano mais quente fosse quebrado em 2023. Desde junho, todos os meses foram os mais quentes registrados no mundo, em comparação com o mesmo mês dos anos anteriores.

De acordo com a pesquisa, a temperatura média da terra em 2023 foi 1,48ºC acima do período pré-industrial, de 1850 a 1900. Esse número fica próximo dos 1,5ºC estabelecido pelo Acordo de Paris, de 2015, como limite para evitar mudanças catastróficas no planeta. 

Apesar da média anual não ter passado o chamado limiar de perigo, os estudiosos alertam que mais de 50% dos dias de 2023 ficaram acima dos 1,5ºC. O estudo ainda apontou que dois dias de novembro ultrapassaram 2ºC. 

A média de temperatura global no último ano foi de 14,98ºC. Esse número ultrapassou em 0,17°C do até então ano mais quente da história, registrado em 2016.

“Foi um ano excepcional, em termos de clima, mesmo quando comparado a outros anos muito quentes”, disse o diretor Copernicus, Carlo Buontempo.

Aquecimento global também causa frio extremo 

A pesquisa aponta que o aquecimento global também é um dos maiores causadores do frio extremo que aflige boa parte da Europa, principalmente os países nórdicos. Na região norte da Suécia, a temperatura mínima atingiu um recorde de  -43,6°, a mais baixa registrada no país (em janeiro) nos últimos 25 anos.

Em entrevista para o Sistema Sagres, o cientista Paulo Artaxo, especialista em física aplicada e problemas ambientais, revela que o aumento de gases de efeito estufa na atmosfera terrestre é um dos responsáveis pelas baixas temperaturas no inverno. 

“Com certeza, nós estamos observando essa mudança do clima. Tanto do ponto de vista de ondas de calor e de frio. Tudo isso é causado pelo aquecimento global e o aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera terrestre”, disse o cientista. 

Influência do El Niño e emissões recordes

Apesar de influenciar bastante o aumento substancial das temperaturas, o El Niño não pode ser considerado o maior culpado pelo calor. Os pesquisadores afirmam que o principal motivo para esse aumento foram as mudanças climáticas causadas pelo homem, uma vez que o fenômeno do El Niño só começou a se formar na segunda metade do ano. 

Para se ter uma ideia, apesar de acordos climáticos e discussões sobre utilização de combustíveis fósseis, 2023 também foi recordista na emissão de dióxido de carbono (CO2). A concentração de CO2 na atmosfera subiu para o nível mais alto já notificado, de 419 partes por milhão.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática

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