O Novembro Azul, movimento global de conscientização sobre a saúde do homem, nasceu na Austrália em 2003 com um objetivo claro: reforçar a importância dos cuidados preventivos, especialmente no combate ao câncer de próstata. Segundo o urologista Leandro Ferro, em entrevista ao Sistema Sagres, essa campanha busca alertar sobre doenças evitáveis e incentivar os homens a procurar assistência médica regular.
“O Novembro Azul é um lembrete para que os homens priorizem sua saúde. É fundamental que eles busquem assistência médica preventiva, evitando complicações que poderiam ser evitadas, como o câncer de próstata”, explica.
O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais comum entre homens no Brasil, perdendo apenas para o câncer de pele não melanoma. A doença, muitas vezes silenciosa em suas fases iniciais, pode ser detectada precocemente com exames simples, como o PSA e o toque retal.
Fatores de risco
Conforme alerta Leandro Ferro, a idade é um dos principais fatores de risco associados ao câncer de próstata. “Homens acima de 55 anos têm maior probabilidade de desenvolver a doença, e esse risco aumenta com o passar dos anos. Além disso, homens negros apresentam maior incidência da doença em comparação aos brancos, e o histórico familiar também é relevante. Quanto maior o número de parentes próximos com câncer de próstata, maior a predisposição”, destaca o especialista.
Fatores ambientais, como exposição a toxinas ou obesidade, também podem influenciar, embora sejam menos determinantes que os fatores genéticos e étnicos. O diagnóstico precoce é a chave para o tratamento eficaz, e os exames preventivos desempenham um papel crucial nesse processo.
“O PSA, ou antígeno prostático específico, é uma proteína produzida pela próstata e dosada no sangue. Ele funciona como um ‘alarme’, apontando alterações que podem indicar doenças na próstata, incluindo o câncer”, explica o médico. No entanto, ele ressalta que o PSA não é exclusivo para o câncer: “Outras condições, como infecções e inflamações, também podem causar alterações nesse marcador.”
Já o toque retal, frequentemente cercado de preconceitos, é indispensável. “Esse exame permite ao urologista avaliar diretamente a superfície da próstata, identificando possíveis nódulos, endurecimentos ou áreas doloridas. É uma ferramenta física que complementa o PSA”, afirma o especialista.
Romper tabus e salvar vidas
Ambos os exames são complementares e não substituíveis. “Há pacientes que perguntam se podem evitar o toque, mas a verdade é que ele é essencial. A combinação dos resultados do PSA com o toque fornece ao médico informações completas para orientar o tratamento.”
O Novembro Azul vai além da prevenção ao câncer de próstata; é uma oportunidade de romper barreiras culturais e estimular os homens a cuidarem de sua saúde de forma integral. “É preciso desmistificar o exame de toque e reforçar que o cuidado com a saúde não é fraqueza, mas uma demonstração de responsabilidade consigo mesmo e com os que nos rodeiam”, conclui o médico.
Apesar da alta incidência, o preconceito e os tabus relacionados ao exame de toque retal ainda representam barreiras significativas no diagnóstico precoce. Durante o Novembro Azul, campanha voltada à conscientização sobre a saúde do homem, especialistas destacam a importância de superar essas resistências em prol da qualidade de vida masculina.
Leandro Ferro enfatiza que ações como o Novembro Azul, além do papel fundamental da imprensa e dos meios de comunicação, são cruciais para orientar e desmistificar essas questões. “O toque retal é um exame rápido, traz pouco desconforto e não interfere em questões como a sexualidade ou as preferências de cada indivíduo. O impacto maior é na saúde e na qualidade de vida, permitindo um diagnóstico precoce e melhores chances de tratamento.”
Quem deve fazer os exames e quando começar?
Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a recomendação para exames preventivos, como o PSA e o toque retal, varia de acordo com fatores de risco. “Para homens sem fatores de risco, o indicado é iniciar o acompanhamento entre 50 e 80 anos. Já para aqueles com fatores de risco, o ideal é começar aos 45 anos”, orienta o especialista.
O histórico familiar, especialmente de parentes de primeiro grau, como o pai, é um fator importante na avaliação de risco. “Se houver um caso de câncer de próstata em idade jovem, por exemplo, entre 40 e 45 anos, recomendamos que os descendentes diretos comecem os exames preventivos mais cedo”, esclarece. Parentes de grau mais distante, como tios, não apresentam o mesmo nível de risco associado.
O câncer de próstata apresenta tratamentos diversos, que variam de acordo com o estágio da doença e o perfil do paciente. “Hoje, não existe mais uma receita de bolo que serve para todo mundo. Cada indivíduo tem um planejamento individual, pensado para suas necessidades e seu momento de vida”, explica Leandro Ferro.
Os estágios e suas abordagens
O tratamento do câncer de próstata depende diretamente do momento do diagnóstico, o que resulta em três cenários principais:
- Doença localizada: quando o tumor está restrito à próstata.
- Doença localmente avançada: o tumor ultrapassou a próstata, mas ainda está na região pélvica.
- Doença metastática: o câncer já se espalhou para outros órgãos, como linfonodos, ossos ou pulmões.
Para casos de doença localizada, o foco é sempre buscar a cura enquanto se preserva a qualidade de vida. “Podemos discutir diversas abordagens, como cirurgia convencional, videolaparoscopia e até a cirurgia robótica, que já é uma realidade no estado de Goiás desde 2022”, comenta o especialista.
Radioterapia, em suas variadas formas, e até mesmo a observação ativa podem ser opções, dependendo da agressividade do tumor e do acordo entre médico e paciente. Nos casos de doença localmente avançada ou metastática, o tratamento combina diferentes abordagens.
“Utilizamos associações entre radioterapia e tratamentos hormonais. Hoje, há novidades importantes, como novos agentes hormonais de primeira e segunda linha e quimioterapias que podem ser empregadas de forma isolada ou combinada. Temos um arsenal muito grande para lidar com essas situações, seja buscando a cura ou focando na qualidade de vida”, afirma.
A importância do diagnóstico precoce
Estudos americanos mostram que, para pacientes diagnosticados precocemente com tumores de baixa agressividade, a sobrevida específica ao câncer é superior a 95% em 15 anos. “Esses dados mostram o quanto o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura de forma significativa”, reforça o especialista.
A campanha Novembro Azul destaca a relevância dos exames regulares para a saúde masculina. “Cuidar da saúde de forma rotineira impacta diretamente na possibilidade de cura. Portanto, o câncer de próstata, quando diagnosticado cedo, é uma doença com altas chances de tratamento bem-sucedido”, conclui.
Nesse sentido, a mensagem é clara: o diagnóstico precoce salva vidas, e a personalização do tratamento pode oferecer a cura e preservar a qualidade de vida dos pacientes.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem-Estar