A cidade ficou alarmada com o fato dos menores infratores realizarem um motim e uma tentativa de fuga do Centro de Internação de Adolescentes, no Batalhão Anhanguera. A rebelião foi motivada por uma portaria do judiciário que antecipou a análise das medidas socioeducativas, o que poderia colocar em liberdade alguns dos menores apreendidos a tempo dos feriados do final de ano. O motivo da revolta foi que simplesmente nenhum dos adolescentes atendia aos critérios e não poderiam ganhar a liberdade. Entre as exigências para conseguir o benefício, o mais básico: não terem cometido crimes violentos.

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Em um Brasil que está acostumado a tratar assassinos como meros meninos travessos, a decisão provocou a revolta dos internos. Insatisfeitos em não poder deixar as grades, resolveram simplesmente fugir. Um policial cumpriu seu dever e atirou em um dos menores para conter a fuga em massa. O adolescente passa bem e os demais internos não conseguiram escapar. Justamente como deve ocorrer no Estado de Direito.

Antes que os defensores os direitos humanos iniciem protestos contra a ação dos policiais e o rigor do judiciário, é preciso esclarecer que a tentativa de fuga não foi motivada pela saudade dos familiares e um irresistível desejo de participar da ceia e comungar do espírito natalino. As experiências anteriores mostram que o intuito dos menores era apenas engrossar as estatísticas de criminalidade no final de ano, contando com a legislação débil que cedo ou tarde os coloca de novo nas ruas para continuar o ciclo da violência.

Uma realidade que apenas os congressistas parecem não enxergar. As seguidas pesquisas de opinião mostram que a sociedade está cansada dos crimes violentos cometidos por assassinos frios em corpos de adolescentes. A redução da maioridade penal é um tema que não pode mais ser postergado para atender os caprichos de quem acredita que sequestros, assassinatos, estupros são cometidos unicamente por falta de amor, uma inversão absurda sobre quem realmente é a vítima.

Não é simplesmente uma questão de aceitar que adolescentes entrem para o crime, mas sim de impedir que voltem a cometê-los. Essa é uma das principais funções da prisão, ao lado da ressocialização. O poder público precisa tomar atitudes para evitar essa aproximação perigosa entre crianças e o crime, como a implantação da escola em tempo integral em todo país. A partir daí, pais e professores podem ter um controle maior das amizades e sobre como as crianças passam o seu tempo.

Esse é um aspecto importante: os pais precisam participar mais da vida dos filhos, protege-los das emboscadas da vida. O trabalho, as contas, a pressão do dia a dia tem afastado os familiares do convívio com as crianças e essa é a porta ideal para a aproximação das más influências. O reflexo disso também pode ser observado no motim em Goiânia. Poucos familiares compareceram na porta do batalhão para obter informações sobre os adolescentes. No final da rebelião, eram apenas dez.

Enquanto o Brasil não enfrentar o problema do recrutamento de adolescentes para o crime organizado, punindo e protegendo os menores, o índice de violência continuará estratosférico. É preciso ouvir a população, a principal vítima da violência, e começar a agir. Adiar o problema simplesmente derrama mais sangue inocente.