Números divulgados recentemente têm preocupado autoridades médicas no Brasil. Segundo levantamento do Atlas da Obesidade, o problema pode atingir 41% dos brasileiros em 2035. O número é bem maior que o estimado para a média mundial, que é de 24% entre a população adulta, principalmente no pós-pandemia. É que foi nesse período de isolamento que as pessoas passaram mais tempo reclusas e sem fazer atividade física regularmente ou nenhuma.

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“Pessoas reclusas, muita ansiedade, isso fez com que a população ganhasse peso. O consumo de álcool e de alimentos ultraprocessados (ricos em sódio, gordura, açúcares e pobre em fibras) aumentou nesse período de reclusão. Muitas pessoas ganharam peso durante esta pandemia e, obviamente, piorou ainda mais o quadro de doença que afeta a nossa população”, alerta o médico cirurgião bariátrico Leonardo Sebba, em entrevista à Sagres.

No entanto, profissionais de saúde alertam que o risco de ganho de peso vem crescendo em um ritmo maior também entre crianças e adolescentes. De acordo com o levantamento, até um terço das crianças e adolescentes pode ter de conviver com a obesidade no Brasil, até 2035. “São crianças que sofrem bullying, que não querem mais ir para a escola. Ou, se vão para a escola, tiram notas baixas, são reprovadas. Vira um problema não só para quem sofre da obesidade, mas para a família”, afirma.

Projeção

Os números mostram ainda que as taxas de obesidade crescem rapidamente entre as crianças nos países mais pobres. Segundo o relatório, os índices de pequenos obesos em todo o mundo podem mais que dobrar em relação a 2020. Ou seja, passando para 208 milhões de meninos e 175 milhões de meninas obesas até 2035. Desse modo, serão aproximadamente 400 milhões de crianças acima do peso.

Ainda conforme o Atlas da Obesidade, estima-se que, em 12 anos, cerca de 23% das meninas e 33% dos meninos serão obesos no país. Até 2020, 12,5% das meninas e 18% dos meninos estavam nessa condição. Segundo Sebba, são necessárias ações efetivas na prevenção e tratamento da obesidade.

“A melhor medida são as profiláticas, ou seja, evitar que essas crianças ganhem peso. Porém, a partir do momento que já ganharam, é preciso fazer tratamento. Não se pode simplesmente culpar a pessoa de ser obesa e colocar na cabeça dela que é uma fracassada porque não consegue perder peso”, orienta.

Cirurgia

De acordo com o cirurgião bariátrico, cada vez mais adolescentes obesos têm realizado a cirurgia bariátrica. Sebba enumera os benefícios da operação. “Hoje estamos operando pacientes  com idades um pouco mais baixas, de 14, 15, 16 anos, porque hoje sabemos que isso traz grandes benefícios para essa pessoa quando ela atinge a sua vida adulta”, afirma. “Ele melhora o seu convívio social, melhora sua autoestima. Os pais também precisam se conscientizar de uma alimentação mais regular, com atividade física, evitar certos alimentos no seu dia a dia como doces, chocolates. Não deve ser abolido, mas sim evitado”, complementa. 

De acordo com o cirurgião, a proposta da cirurgia não é trazer a cura, mas sim dar o pontapé para o tratamento para obesidade. “As pessoas precisam se conscientizar em relação a isso. A cirurgia traz mecanismos que vão ajudar essa pessoa a se alimentar menos, a ter menos apetite, saciedade com pouca comida, altera o seu metabolismo. O que ela come, a sua dieta, a prática de atividade física ela tem que querer fazer, ela precisa querer essa mudança”, argumenta.

Saúde emocional

Ainda segundo Leonardo Sebba, o pré-requisito para a realização da cirurgia bariátrica atualmente não é apenas o Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 40%. “Avaliamos o histórico de obesidade, o histórico familiar, o prejuízo que essa obesidade já traz para a família, as tentativas de perda de peso sem sucesso. Enfim, avaliamos o histórico da pessoa para que possamos indicar ou não uma cirurgia”, afirma.

Ademais, são três os pontos observados para a realização da cirurgia: indicação médica, a pessoa tem de querer passar pela operação, e os pontos de vista psicológico e cardiológico. O objetivo, porém, é que o paciente inicie uma perda de peso saudável e longeva, de modo a proporcionar o bem-estar emocional do paciente.

“A obesidade está muito ligada a problemas de depressão, de suicídio, problemas graves de o ponto de vista psicossocial. Sabemos também que o tratamento cirúrgico da obesidade tem melhorado esse quadro. É claro que existem casos pontuais de pessoas que, após a cirurgia, podem sim desenvolver uma depressão. No entanto, em matéria de incidência e prevalência, nós sabemos que o tratamento cirúrgico da obesidade também tem o poder de melhorar essa questão psicológica e social do paciente. É claro que necessita de um acompanhamento, e por isso é que existe a equipe multidisciplinar”, conclui.

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