Depois de estrear na Copa Sul-Americana de 2021 com um empate em casa, por 0 a 0 com o Newell’s Old Boys-ARG, o Atlético Goianiense se prepara para duas partidas longe do estádio Antônio Accioly nas próximas rodadas da competição continental. A primeira acontece nesta quinta-feira (29), quando enfrenta o Palestino-CHI no estádio El Teniente, em Rancagua, no Chile, às 21h30 no horário de Brasília.

Leia também
A mensagem “mais do que uma equipe, todo um povo” estampada em espanhol e árabe no uniforme do Palestino (Foto: José Manuel García Montes/Arquivo Pessoal)
“Más que un equipo, todo un pueblo”

Fundado há mais de cem anos, o Club Deportivo Palestino não carrega esse nome à toa. O Chile possui a maior comunidade palestina fora do Oriente Médio, com uma estimativa em torno de 300 a 500 mil de descendentes palestinos no país, após uma forte emigração iniciada no começo do século 20 e que ainda não cessou na atualidade. Em 1920, os membros da colônia fundaram o clube na capital chilena, Santiago.

O governo responsável pela Autoridade Nacional Palestiniana, que controla a Faixa de Gaza e duas áreas da Cisjordânia, mantém um vínculo com o clube sul-americano. As participações internacionais recentes, inclusive, reforçaram essa ligação. Por sua vez, o Palestino promove ações sociais e assume um papel importante de apoio à causa palestina, que reivindica o seu reconhecimento enquanto estado nacional.

As cores pan-árabes – vermelho, preto, branco e verde – estão simbolizadas na marca e no uniforme do Palestino, assim como nas redes sociais do clube, que também utiliza a bandeira da Palestina em suas mensagens. O apoio é mútuo, e o uniforme registra com destaque a marca do Bank of Palestine, uma das principais instituições financeiras do Oriente Médio e que tem um acordo de duas décadas anos com os chilenos.

O Bank of Palestino é o principal patrocinador do Palestino. Em destaque, o meia Luis Jiménez, capitão e camisa 10 do time (Foto: Francisco Longa/Club Deportivo Palestino)

Em contato com o Sagres Online, o jornalista José Manuel García Montes reforçou a mensagem estampada no uniforme do Palestino, em espanhol e árabe: ‘más que un equipo, todo un pueblo’ (em tradução livre do espanhol, “mais do que uma equipe, todo um povo”). “Apesar da diferença no fuso horário”, explica, “as partidas são acompanhadas no Oriente Médio. As participações nas copas Libertadores e Sul-Americana fortaleceram o vínculo”.

“A presença palestina no Chile é forte. Abumohor, Saieh, Hirmas e Yarur são sobrenomes que representam uma força econômica, com uma grande capacidade de recursos e investimentos. Algumas dessas famílias estão mais próximas do clube. Inclusive, a família Abumohor está historicamente ligada ao Palestino”, relatou o jornalista chileno, que acompanha o dia a dia do clube.

Por outro lado, o Palestino não conta com forte apoio popular, atrás de clubes tradicionais como Colo-Colo, Universidad Católica e Universidade de Chile. Na sua última final disputada, quando conquistou a Copa do Chile, em 2018, sobre o Audax Italiano – outro clube que também representa uma comunidade estrangeira -, levou somente cerca de 5 mil pessoas ao estádio Municipal de La Cisterna, onde realiza seus os jogos como mandante.

A casa para a Sul-Americana

Localizado no sul de Santiago, La Cisterna fica em uma região de difícil acesso por transporte público, embora atendida pelo Metro de Santiago, porém longe do centro da capital. Por isso, há pouca presença nos jogos do Palestino, que antes da pandemia de covid-19 tinha uma média de 2 mil espectadores. A própria estrutura do estádio não é boa, um tanto quanto inóspita, de acordo com José Manuel García Montes.

Por não possuir torres de iluminação, La Cisterna não recebe jogos noturnos, um dos motivos pelo qual não pode realizar jogos internacionais. Na primeira fase da Sul-Americana, o estádio San Carlos de Apoquindo foi a casa do Palestino, quando eliminou o Cobresal. Contudo, por pertencer à Universidad Católica, envolvida na Libertadores, a diretoria do clube teve que escolher outro local pelo conflito de datas.

Contra Atlético, Newell’s e Libertad, o Palestino optou pelo estádio El Teniente, que fica na cidade de Rancagua, a cerca de 80 quilômetros e uma hora de distância do centro de Santiago. Segundo ponderou García, os rubro-negros campineiros não deverão ter problemas de logística e o estádio já recebeu outros jogos internacionais, como o da Universidad de Chile, eliminado na fase preliminar da Libertadores.

El Teniente é utilizado pelo O’Higgins, clube da região e também controlado pela família Abumohor. Com o Nacional de Santiago fechado para preparativos para os Jogos Pan-Americanos 2023 e o Municipal de La Florida utilizado como centro de vacinação, o estádio de Rancagua está sendo bastante utilizado. Por estar próximo da capital e ter boa estrutura, atende aos protocolos exigidos pela Conmebol nesta temporada.

Estádio El Teniente, em Rancagua, no Chile, a casa do Palestino no Sul-Americana 2021 (Foto: Divulgação/Conmebol)
Informações sobre o time

Bicampeão chileno, com títulos conquistados em 1955 e 1978, o Palestino se tornou presença constante nos torneios internacionais desde a última década. São seis participações na Libertadores, enquanto nesta temporada participa da Sul-Americana pela quarta vez. Eliminado na segunda fase em 2017 e 2019, teve o seu melhor desempenho em 2016, quando chegou até às quartas de final, caindo diante do San Lorenzo-ARG.

A sua classificação para o torneio de 2021 veio graças ao quinto lugar no Campeonato Chileno da última temporada, quando somou 51 pontos em 34 jogos e perdeu a vaga na Libertadores na última rodada. Melhor colocado entre os classificados à Sul-Americana, chegou na fase de grupos após eliminar o conterrâneo Cobresal na primeira fase do torneio. Depois do empate em 0 a 0 no primeiro jogo, venceu como mandante por 2 a 1.

Nesta temporada, o time somou apenas quatro pontos em quatro rodadas no torneio nacional, na 14ª colocação entre 17 equipes. Após duas derrotas seguidas, para Antofagasta (4-2) e Católica (2-1), empatou com o Everton (1-1) e venceu o Deportes Melipilla (1-0). Já na 1ª rodada da Sul-Americana, foi dominado pelo Libertad em Assunção, no Paraguai, onde perdeu por 2 a 0 na última quinta-feira (22).

Luis Jiménez, do Palestino, durante jogo contra o Libertad (Foto: Divulgação/Conmebol)

Conhecido pelo bom trabalho conduzido no rival Unión Española na última década, José Luis Sierra é o treinador desde novembro. O time parte prioritariamente de um 4-2-3-1, embora contra o Libertad tenha optado por uma formação mais defensiva, com três volantes, a partir do ingresso de Misael Dávila no lugar do centroavante Juan Sánchez Sotelo, enquanto o meia-atacante Luis Jiménez assumiu a função mais adiantada.

Para esta quinta-feira, o volante Agustín Farías está suspenso depois de ter sido expulso na estreia. Já o meia-atacante Carlos Villanueva é outra ausência importante, fora por uma ruptura do menisco lateral sofrida no final da última temporada. Contra o Atlético, o Palestino chega “folgado” depois do jogo contra o Huachipato ter sido adiado, tendo portanto descansado no final de semana, diferente dos rubro-negros, que venceram o Goiás no Goianão.

José Manuel García Montes destacou que o jogo contra o Libertad “deixou uma imagem muito apagada. Não conseguiu atacar, exceto apenas uma vez no primeiro tempo, e no decorrer do segundo tempo perdeu o jogo depois que o seu adversário fez as duas primeiras substituições. De forma geral, está tendo um problema de intensidade no jogo. A opção com Jiménez de falso 9 perdeu relevância com a ausência de Villanueva, seu ‘sócio natural’. Perdeu o funcionamento ofensivo e tampouco está sendo sólido atrás”.

“Como Farías foi expulso, acredito que Sebastián Martínez jogará em seu lugar, na dupla com César Cortés. De resto, tem que ver como Sierra planejará, mas é vital que consiga ser mais intenso e gere mais oportunidades. Algo básico é que se ataca mais pela esquerda: Vicente Fernández sobe bastante e se junta a Jonathan Benítez. No lado direito, falta um lateral 100% titular para acompanhar Bryan Carrasco”, completou o jornalista.

Provável Palestino: Cristopher Toselli; Ignacio Mesina (Bruno Romo), Pablo Alvarado, Cristián Suárez e Vicente Fernández; Sebastián Martínez e César Cortés; Bryan Carrasco, Misael Dávila (Juan Sánchez Sotelo) e Jonathan Benítez; Luis Jiménez. Treinador: José Luis Sierra

Melhores momentos de Libertad 2-0 Palestino, pela 1ª rodada da Sul-Americana