Hora e vez da troca de partidos
Ao contrário das eleições anteriores, nas quais o troca-troca partidário foi deflagrado de forma mais transparente e com maior antecedência, as filiações dos infiéis que buscam acomodação partidária para as eleições de 2010 está ficando para os últimos dias do encerramento do prazo para filiações. O limite estabelecido pela Justiça Eleitoral é 3 de outubro e, se as negociações continuarem da forma como estão, haverá muita gente assinando ficha de filiação depois dos 45 minutos do segundo tempo.

Preocupados com a possibilidade de uma debandada de parlamentares, as direções estaduais do PSDB e do PTB trataram de divulgar, na última semana, que irão exigir o mandato daqueles que forem para outro partido. As direções dos dois partidos, que já anunciaram que estarão juntos nas eleições do ano que vem, apoiando a candidatura do senador Marconi Perillo ao governo do Estado, informaram que irão recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para ter de volta o mandato dos infiéis.

PSDB e PTB trabalham intensamente, assim como todos os demais partidos, para montar chapas competitivas de candidatos a deputado estadual e federal. O anúncio de que irão exigir os mandatos é resultado da preocupação de ter suas chapas esvaziadas de candidatos com potencial de voto, que venham a se posicionar contrários ao projeto de eleger Marconi Perillo. A maior preocupação é com a possibilidade de parlamentares se filiarem em partidos próximos ao governador Alcides Rodrigues, ou no próprio PP.

Na última eleição, o PSDB e o PP formaram uma só chapa proporcional de candidatos. Como os partidos estavam unidos em 2006 e até pouco tempo integravam uma base aliada, a troca do PSDB pelo PP parece viável pois não traria grandes desgastes para um deputado com suas bases como poderia provocar a troca por um partido adversário tradicional, como o PMDB. Alguns deputados já se defendem afirmando que foram eleitos pela coligação, e não pelo partido e, portando, se trocarem o PSDB pelo PP não devem perder o mandato, pois continuam na coligação.
 
Silêncio
O processo para um partido resgatar o mandato de um infiel pode ser longo, visto que os deputados que trocarem de partido estarão dispostos a recorrer e brigar até a última instância, o que pode demorar até outubro do ano que vem. Portanto, perder do mandato por conta das regras eleitorais não é a principal preocupação daqueles que vivem a angústia de escolher o melhor partido para garantir o sucesso de seu projeto eleitoral. O que tem feito a maioria adiar a escolha é a indefinição das candidaturas majoritárias, sobretudo da candidatura que será apoiada pelo governador Alcides Rodrigues para a sua sucessão. Afinal, Henrique Meirelles vai ou não vai ser candidato a governador pelo PP?

Essa indefinição é a responsável pelo fato do troca-troca ainda não ter sido deflagrado. Deputados, principalmente os detentores de mandato, adotam a estratégia de não revelar suas intenções e de adiar a filiação enquanto o quadro não for definido. Os que não definiram ainda para onde vão querem esperar o quadro se definir mais claramente para saber em qual grupo estará melhor abrigado. Os que já decidiram trocar de partido e já sabem para onde vão não querem revelar agora pois podem ter de enfrentar a fúria dos ex-companheiros e  do partido que abandonou a partir de agora. Por isso, as negociações sobre troca de partido tem acontecido de forma discreta, no apagar das luzes.

Os menos preocupados são os deputados que assumiram vaga na Assembleia como suplentes, que não correm o risco de perder o mandato. Entre estes estão o secretário de governo Daniel Messac (PSDB), Evandro Magal (PSDB), Laudeni  Lemes (PSDB) e Júlio da Retífica (PSDB). Todos eles já teriam cogitado trocar de partido. Há duas semanas, Messac afirmou à Tribuna que estuda a possibilidade de mudar de partido para viabilizar sua eleição e disse ter recebido propostas de diversas siglas e que ainda está avaliando. Especula-se também que a tucana Flávia Morais, secretária da Cidadania do governo Alcides, deputada que mais teve votos na coligação PP-PSDB, possa trocar de partido para se candidatar a deputada federal.

Partidos
A indefinição das candidaturas que disputarão o governo no ano que vem não tem adiado os planos somente dos candidatos, mas também dos partidos. Legendas de menor porte, que sempre buscam coligação com uma sigla maior, e outras que sempre buscam estar com o governo, como o PR, ainda não sabem que rumo vão tomar no ano que vem. O vice-governador Ademir Menezes, que até o dia 22 ocupa o lugar de Alcides Rodrigues, afirmou na última-quinta-feira que o PR ainda não definiu se estará ou não na mesma aliança que o PP no ano que vem. O PT está dividido quanto ao apoio à candidatura de Íris Rezende ao governo.

Até o momento, somente o PTB e o PPS declararam que estão fechados com a candidatura de Marconi Perillo ao Executivo estadual. No sábado, o senador participou de encontro com partidos pequenos na Assembleia Legislativa. PHS, PTC, PSDC, PMN, PRP e PV participaram da reunião. A novidade foi a participação do PV, que também mantém diálogo com os articuladores do governador Alcides Rodrigues.

Os partidos pequenos sabem que unidos e dentro de uma coligação tem maiores chances de chegar ao poder e, por isso, a aproximação com o pré-candidato do PSDB. Mas, como as candidaturas ainda não estão definidas, tudo indica que serão bem quentes as convenções partidárias do ano que vem, quando serão votadas as chapas e coligações e definidas as candidaturas.  

Além da definição do quadro, os tucanos que podem migrar para o projeto eleitoral do governador Alcides Rodrigues esperam que este retorne de sua viagem à China e à Rússia, o que só ocorrerá no dia 22. Eles querem saber se o governador irá apoiá-los caso decidam deixar seus partidos. A demora da definição de Henrique Meirelles quanto a sua filiação e à sua candidatura também angustia os políticos que querem estar do lado do governo no ano que vem. Entre alguns pepistas, há o desejo de que Meirelles se filie logo ao partido, para que haja tempo suficiente para que aqueles que queiram segui-lo se filiem à legenda e contribuam para a formação de uma chapa de candidatos mais competitiva.    
 
Sem janela
Embora pesquisa realizada pelo DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) em junho deste ano tenha demonstrado que 58,3 % dos deputados federais e 54% de todos os parlamentares (Câmara e Senado) concordam com a criação da janela que permitiria a troca de partido 13 meses antes das eleições do ano que vem, esta não foi aprovada. O troca-troca foi proibido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para coibir a infidelidade partidária.

Também foi apresentado à Câmara projeto de autoria do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), adiando de outubro deste ano para março de 2010 o prazo limite para as mudanças partidárias. Caso seja aprovado, o troca-troca estaria liberado, pois não restaria tempo hábil para a conclusão do processo por infidelidade partidária na Justiça Eleitoral até outubro de 2010. Também há poucas chances dessa medida ser aprovada.

As duas iniciativas e a pesquisa do DIAP evidenciam como é comum o troca-troca partidário no período que antecede as eleições e como uma mudança, como a proibição do STF à infidelidade, encontrou resistências junto aos parlamentares. Isso porque todos que almejam eleger-se deputados estaduais, federais ou senadores em 2010 querem liberdade e tempo suficiente para escolher, de forma pragmática, qual o melhor cenário para as suas candidaturas e as melhores alternativas para vencer as eleições.

 

Fonte:Tribuna do Planalto