Em entrevista à Sagres, o Mestre em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e oficial da reserva do Exército, Marcelo Pimentel Jorge de Souza, analisou a participação dos militares no governo de Jair Bolsonaro, com oficiais que não são “obrigados” a estarem lá e que “montaram” a estrutura de maneira semelhante como fazem os partidos políticos. “Só que desta vez não estamos numa ditadura e nem o poder foi tomado a força, foi conquistado nas urnas”.

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Marcelo explicou que o “partido militar”, que está no poder atualmente, pode ser o “herdeiro político ideológico do grupo que governou o Brasil durante a ditadura”. Os generais que, hoje, comandam o exército e ajudam a governar o país, eram cadetes ou jovens tenentes e capitães durante a ditadura militar, entre 1965 e 1984. “A minha preocupação é que a geração atual de cadetes, tenentes e capitães está tendo a mesma experiência”.

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O oficial da reserva explicou que esse “mesmo fenômeno em que tenentes e capitães veem com naturalidade, militares da reserva e até da ativa exercendo cargos executivos” o preocupa, pois pode “criar uma semente nas mentes dos jovens oficiais”.

“Ela poderá germinar ao longo da sua carreira profissional, de modo que quando eles forem, daqui a 20 ou 30 anos, os generais dos anos 2040, 2050, possam reascender ou agravar esse fenômeno de continuar dando poder político para militares, algo que a história já provou que é, pelo menos, indevido”.

Um outro ponto de crítica do mestre em Ciências Militares é a diferença de representatividade, já que “nenhuma outra classe está representada politicamente dessa forma como estão as instituições de Estado”. Para Marcelo, o fato dos militares representarem, hoje, um governo de direita pode causar divisões no exército, porque também podem surgir oficiais dispostos a apoiar governos de esquerda.

“Cada militar pode ter seu pensamento político, conservador, progressista, mas não deve militar o seu pensamento político em organização ou em cargos governamentais”, afimou o oficial que ainda detalhou que é preciso que os militares entendam que não são como qualquer outro funcionário público ou profissional liberal. “Tanto não somos, que mesmo na inatividade, que pode ser uma situação de reserva ou reforma, o militar está sujeito no estatuto a medidas, inclusive na aplicação da disciplina”.

Partido Militar

O oficial da Reserva e mestre em ciências militares Marcelo Pimentel contou que a expressão “partido militar”, foi empregada ao longo do tempo para explicar o protagonismo político dos militares. Segundo o oficial, nos últimos 30 anos, os militares estiveram em seu “lugar institucional, do outro lado da muralha, construída juntos com a sociedade para afastar as forças armadas da política e militares de qualquer governo e de qualquer orientação política ideológica”.

No entanto, hoje, o “partido militar” é responsável por dois processos na sociedade brasileira. “Por um lado, a politização das forças armadas, dos militares e, de modo geral, poderíamos ampliar para aqueles integrantes dos órgãos de segurança pública, não somente às polícias militares. Por outro lado, um processo de militarização da política por intermédio da ocupação de cargos políticos no executivo e legislativo por militares em profusão e, por intermédio da política, a militarização da própria sociedade brasileira”. Para Marcelo, isso compromete a “muralha”, que precisará ser reconstruída pelas próximas gerações.

Assista a entrevista no Sagres Sinal Aberto: