Paulinho em treino da seleção brasileira (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

 O Barcelona é um dos maiores clubes da história do futebol. É, também, uma espécie de moedor de jogadores: paciência nunca foi o forte da torcida blaugrana; e, muitas vezes, a imprensa e a diretoria do clube vão pelo mesmo caminho. 

Lembro-me bem dos meses de julho e agosto do ano passado, desde as primeiras especulações até o anúncio da contratação de Paulinho. Poucas vezes – eu diria que nunca, mas a memória pode me trair – vi um jogador ser tão criticado antes mesmo de chutar a bola pela primeira vez com a camisa de um time. 

Enquanto as redes sociais explodiam em críticas infundadas, conclusões e análises de quem nunca tinha visto um jogo inteiro de Paulinho, meu telefone não parava de tocar. Era rádio catalã perguntando como o brasileiro jogava, TV espanhola convidando para programa de debate, amigo francês pedindo referências de jogos para fazer uma análise tática para um blog… 

Defender a contratação de Paulinho, analisando o estilo do Barcelona, era difícil. O clube, historicamente, baseia seu jogo em posses de bola longas, triangulações, movimentos laterais constantes em busca de superioridade numérica. No Barcelona histórico de Cruyff e Guardiola, chute de fora da área é último recurso; volante que chega ao ataque é aberração; jogador que não tenha a paciência de trabalhar uma bola com várias repetições de passes laterais é intruso.

Do ponto de vista mercadológico, também era complicado defender a opção pelo brasileiro: é difícil ver times de ponta contratando jogadores de 29 anos, o início da curva descendente para a maioria dos profissionais. Muito menos por 40 milhões de euros. Menos ainda saindo de um clube do futebol chinês. 

Era difícil defender Paulinho no Barcelona, mas era preciso tentar. Titular da seleção brasileira, jogador de chegada ao ataque, interessante para romper defesas com chutes de fora da área ou gols de bola parada, bom cabeceador… Paulinho era útil ao Barcelona justamente por ser o anti-Barcelona. Porque muitas vezes – cada vez mais – o time precisar buscar opções fora de sua estratégia clássica. Um plano de emergência, forjado em tempos nos quais La Masia – a histórica fábrica de talentos do clube – não revela mais ninguém, num mundo em que Xavi está no Catar, Iniesta não está ficando mais jovem e Busquets começa a dar sinais de que precisa descansar de vez em quando. 

Oito meses depois, Paulinho já não é mais massacrado no Barcelona. Discutido, sim, e sempre será. Mas com argumentos, não apenas com a ignorância de quem o criticava sem conhecê-lo, só pela idade, pelo clube anterior e (acreditem!) pelo país. Depois de Ronaldo, Romário, Rivaldo e Ronaldinho, ainda há quem torça o nariz para brasileiros em Barcelona. 

Após um início arrasador, com gols, muita confiança e sem qualquer sinal de ser afetado pelas críticas, Paulinho ganhou espaço no time. Depois, veio a queda de rendimento, mas as atuações na seleção continuaram em bom nível. E, quando o Barcelona caiu diante da Roma na fase de quartas de final da Champions League, a impressão é de que, num jogo tão estranho e distante das bases teóricas do time catalão, faltou justamente alguém que soubesse falar uma língua diferente em campo: num jogo anti-Barça, o meio-campo tinha Rakitic, Iniesta e Busquets, jogadores de altíssimo nível, mas não para aquele tipo de situação. Justamente a melhor característica de Paulinho. 

Diante do Celta, no empate por 2 a 2 no sempre difícil campo de Balaídos, em Vigo, Paulinho foi destaque. No fim de semana, diante do Valencia, já tinha participado bem. Agora, uma parte da imprensa e dos torcedores já pede que o brasileiro seja titular contra o Sevilla, na final da Copa do Rei. 

O fim da temporada de Paulinho pode nem ser brilhante como o início; na verdade, é difícil que seja. Mas o fato de ele ter sobrevivido por uma temporada, e de terminá-la em fase ascendente é uma ótima notícia. Para ele, para o Barcelona e para a seleção brasileira.

Na Rússia, Paulinho pode ser a diferença entre um empate amarrado e um 1 a 0 sofrido.