Pesquisadores do Laboratório de Diversidade, Ecologia e Evolução de Peixes do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo encontraram lixo no oceano profundo do Brasil. Integrante do laboratório, Marcelo Melo disse que a pesquisa tinha outro objeto, mas a presença de resíduos em grande quantidade chamou atenção no estudo.

“Nosso projeto tem como objetivo estudar os peixes e outros animais de mar profundo, entre 200 e 1.500 metros de profundidade, e percebemos que em praticamente todas as coletas também vinha uma grande quantidade de lixo”, contou.

Há poucas avaliações sobre esses resíduos no mundo, portanto, os pesquisadores decidiram guardar os materiais para estudos. Os resíduos são de águas do Sul e Sudeste do Brasil, sendo 16 pontos de coleta em São Paulo e 15 em estações de Santa Catarina. No total, os pesquisadores recolheram 603 itens com uma massa de 13,78 quilos.

Nova pesquisa

Algumas coletas saíram com mais resíduos do que peixes e invertebrados. Por isso, Flávia Masumoto contou que se espantou com a audiência de pesquisas sobre a presença de lixo na costa do oceano profundo do Brasil.

“Apesar de o oceano profundo ser uma área bastante vasta, a luz solar não chega de forma eficiente para produção de fotossíntese, então não tem plantas nem algas. É, portanto, uma área com pouca biomassa. É importante ter isso em mente para analisar esses 13 quilos de lixo encontrados, pois em algumas áreas coletamos uma massa maior de lixo do que de peixes e invertebrados”, explicou.

Não há um padrão específico de lixo nas áreas de coleta. Então, os pesquisadores atribuíram a proximidade com o Porto de Santos e a Bacia de Santos, onde há intenso tráfego de navios e plataformas de petróleo. De toda forma, não há origem determinada para o lixo marinho encontrado. 

“Avaliamos, pelo tipo do lixo encontrado e pela distância do continente, que a maior parte veio de embarcações ou plataformas. Encontramos muitas latas de milho e ervilha, por exemplo, e produtos de pelo menos oito países estrangeiros que identificamos pelo rótulo. Ou seja, nós conseguimos determinar com certeza onde o material foi produzido, mas não onde ele foi descartado, isso é um dos desafios para a análise de lixo no oceano”, contou Melo.

Descarte irregular

A coleta retirou do mar plástico (58,5%), tecidos (14%) e metais (11%). Além desses materiais predominantes também apareceram vidro, concreto e tintas catalisadas para barcos. O descarte direto de lixo no mar por embarcações e plataformas é proibido por lei desde 2000, mas a coleta de resíduos apontou que há pessoas burlando a lei.

“Isso tem um impacto muito grande nos organismos que vivem nessa região e nós ainda precisamos estudar sobre isso”, disse Masumoto. Na pesquisa original sobre os animais, os pesquisadores identificaram esponjas marinhas crescendo associadas ao lixo e a presença de milho e soja no conteúdo estomacal de um peixe-granadeiro. Um dos focos dos pesquisadores é avaliar se os peixes estão consumindo microplásticos.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 14 – Vida na água.

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