Uma pesquisa inédita com mais de 170 pesquisadores envolvidos revela que  as secas extremas reduzem a produtividade do solo em cerca de 35% em todo o mundo. O estudo liderado por duas pesquisadoras da Universidade do Estado do Colorado (EUA) faz parte da Rede Internacional Drought Net e avaliou o solo de 100 regiões dos seis continentes, não tendo dados somente da Antártica.

A Universidade Federal de Goiás (UFG) contribuiu com a pesquisa. Um dos pesquisadores da instituição envolvidos no estudo é o professor do Instituto de Ciências Biológicas, Marcus Cianciaruso. O professor afirma que o experimento foi padronizado em todo o mundo, portanto, todas as regiões utilizaram a mesma metodologia para levantar os dados da pesquisa.

Com um protocolo comum definido, a rede  escolheu o período mais seco dos últimos 100 anos de cada um dos locais, sendo 44 regiões analisadas pela falta de chuva por um ano, e 56 regiões com secas menos severas com a variabilidade natural de precipitações também no período de uma ano. 

Desta forma, então, os pesquisadores conseguiram avaliar como a seca extrema interfere na capacidade do solo para nova vegetação e produção de biomassa pela fotossíntese.

Novos dados para a literatura

O biólogo Marcus Cianciaruso afirma que os impactos globais reportados até o momento na literatura estão subestimados. A pesquisa mostra que a capacidade de produção do solo após secas extremas é de 38% em vegetações campestres e de 21% em vegetações arbustivas. 

Por outro lado, as regiões com secas menos severas registraram  21% de redução da capacidade de crescimento das plantas. Assim, então, os dados revelam que, a nível global, essa redução da capacidade de produção chega a cerca de 35% em média. 

“Isso significa que o efeito negativo das secas extremas na produtividade do solo foi 60% mais grave do que o reportado até agora na literatura. Estudos anteriores estimavam uma redução no crescimento das plantas de 12,6% a 19% e nós mostramos que esses valores podem chegar a mais de 42% em alguns locais mais secos, com redução de 34,5% na média global”, explica.

Impacto da seca no Cerrado

Os dados levantados no Brasil mostram que a redução da capacidade de produção do solo após secas extremas é de 33% só no bioma Cerrado. A rede avaliou três ecossistemas de quatro áreas no país: uma do Nordeste, uma no Rio Grande do Sul e duas no Parque Nacional das Emas, em Goiás. Marcus Cianciaruso participou da pesquisa nos dois locais de Goiás.

Uma das avaliações no estado foi o manejo de fogo porque ele é utilizado para limpar áreas para plantio, mas a biomassa nesse caso já é baixa. Cianciaruso conta que  o Cerrado é o bioma com o maior impacto da seca extrema em comparação com as outras regiões avaliadas no Brasil.

A rede simulou um cenário de precipitação anual com volume de três quartos do esperado, uma redução de 25% da precipitação normal para a região. O professor conta que a biomassa produzida foi apenas de um terço do esperado. “Ou seja, as plantas cresceram 33% menos”.

O problema afeta a remoção do CO2 da atmosfera, produção de flores e frutos, fauna de herbívoros e a recarga dos aquíferos naturais. “O Cerrado, por exemplo, é conhecido como uma enorme ‘caixa d’água’ subterrânea. As maiores bacias hidrográficas da América do Sul têm rios importantes que nascem no Cerrado. Então, o problema é quase que autoexplicativo”, explica o professor.

*Com informações do Jornal UFG

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima.

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