Um grupo de pesquisadores do Laboratório de Toxicologia Aplicada ao Meio Ambiente, do Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí, desenvolve uma pesquisa que pode atingir diretamente a qualidade do meio ambiente e a vida de milhares de pessoas no país – e de outras regiões tropicais do globo.

O projeto “Nanocristais de celulose como nova estratégia para controle de vetores de doenças tropicais: eficiência inseticida contra Culex quinquefasciatus e avaliação de segurança (eco)toxicológica” foi um dos contemplados na 7ª edição do Programa para Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS).

A ideia do estudo é verificar como a celulose, componente básico dos tecidos vegetais, pode ajudar no combate ao Culex quinquefasciatus, também conhecidos como  “pernilongos” e “muriçocas”, e consequentemente evitar a transmissão vetorial de doenças como a filariose linfática (Elefantíase) e de outras arboviroses humanas de grande importância epidemiológica, incluindo aquelas causadas pelo vírus do Nilo Ocidental e da encefalite de Saint Louis; vírus Oropouche, causador da febre Oropouche, tida como uma doença emergente no Brasil, e de agentes virais causadores de encefalomielite.

A espécie C. quinquefasciatus engloba mosquitos antropofílicos, ou seja, que vive perto do homem, sendo abundante especialmente em áreas urbanas. Foi descrita originalmente nos Estados Unidos, mas atualmente ocupa uma ampla distribuição geográfica, principalmente nas porções meridionais da Ásia, na África, na Oceania e nas Américas, na faixa entre o sul dos EUA ao norte da Argentina, ocorrendo em todo o Brasil.

Ainda mais abundante na natureza são os polímeros de celulose, matéria-prima para a produção dos nanocristais estudados nesta pesquisa. “Estas nanocristais possuem aspecto de minúsculos bastonetes cristalinos e se assemelham a agulhas ou grãos de arroz, porém com espessura cerca de 200 mil vezes menor”, explica Guilherme Malafaia, coordenador do grupo de pesquisadores.

Os nanocristais de celulose foram escolhidos para o trabalho por apresentarem alta proporção entre a área de superfície e o volume, baixo custo, abundância natural e inerente inércia ambiental, as quais podem conjugar eficiência inseticida com sustentabilidade.

Vários ensaios em mais de 6 mil larvas já foram realizados para definir a concentração de nanocristais de celulose que apresentam melhor potencial larvicida e estes resultados, segundo o pesquisador, foram comparados com os resultados da exposição dos animais à um larvicida sintético de ação conhecida.

“Notamos que os nanocristais, quando aplicados diretamente na água onde os ovos dos mosquitos são depositados, causam a morte das larvas em concentração inferior à do larvicida sintético testado, o que confirma seu potencial inseticida”, revela.

Os efeitos nas larvas estão relacionados à indução de mudanças bioquímicas preditivas de estresse oxidativo e alterações na atividade de neurotransmissores.

Foto: Fapeg Goiás

O estudo também mostrou que os nanocristais de celulose induziram deformidades morfológicas nos animais, impedindo a continuidade do seu ciclo de vida e, consequentemente, causando a morte. Os pesquisadores agora avaliam se os nanocristais afetam outros organismos, como plantas aquáticas, peixes e girinos.

“Isso é importante uma vez que a ação larvicida dos nanocristais deve representar um baixo risco às espécies não-alvo, pois do contrário, podemos resolver um problema e causar outros. Acreditamos que avaliar a possibilidade de utilização de um nanomaterial de origem biológica como inseticida pode contribuir para o controle de mosquitos transmissores de doenças, dispensando a utilização de compostos/produtos químicos potencialmente tóxicos aos organismos não-alvos”, aponta Guilherme Malafaia.

Atualmente, os compostos comumente utilizados nesta função são organofosforados, carbamato, DDT e piretróides, que afetam diferentes compartimentos ambientais e diversos organismos não-alvos.

*Com informações da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg)

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