Cerca de 75% da superfície do planeta Terra é coberta por água. Apenas cerca de 3% desse total é de água doce. Deste total, um terço da água está presente nos rios, lagos, lençóis freáticos superficiais e atmosfera.

Dados da Agência Nacional de Águas (ANA) mostram que a demanda por uso de água no Brasil deve aumentar em 30% até 2030. Pesquisadores, órgãos públicos e empresas buscam soluções para evitar o desperdício e aumentar a disponibilidade do recurso hídrico.

O aproveitamento da água da chuva, a partir do reuso, e com construções sustentáveis são algumas medidas possíveis para que não falte água.

A analista ambiental, Patrícia Pereira Afonso Lima, que trabalha em uma construtora que tem práticas sustentáveis explica que há ações sustentáveis como o Selo Verde, que ajuda a padronizar práticas.

“Em 2016 a empresa criou o Selo Verde que padroniza algumas ações ambientais para o canteiro de obras. Cada obra precisa ter, no mínimo, dois tipos de reuso. Ao todo são quatro tipos: reuso da água da chuva, decantador do lava bicas do caminhão e reuso da água da pia para o mictório”, explica.

No canteiro de uma obra localizado em Aparecida de Goiânia, região metropolitana de Goiânia, os funcionários utilizam três das quatro ações citadas pela Patrícia. Na prática são diferentes etapas dentro do mesmo sistema.

Lava bica na construção. Foto: Patrícia Lima.

Etapas

A primeira delas é o sistema de decantação que é um processo físico de separação de misturas heterogêneas do tipo líquido sólido e líquido-líquido.

Ela se baseia na diferença de densidade entre seus componentes e no fato de serem insolúveis um no outro. Esse sistema é utilizado no lava bica dos caminhões.

A água que usada é reaproveitada, passando pelos três tanques e saindo mais limpa no último. Essa água pode ser usada para umectação do solo em época de seca e para limpeza de áreas próximas.

A segunda ação é o reuso da água da chuva. A água da chuva passa pela calha e é armazenada em um reservatório.

Essa água é reutilizar para fazer a limpeza do canteiro, da área de convivência e do refeitório.

E a terceira delas é o reuso da água da pia para mictório. Quando os colaboradores lavam as mãos, ao invés da dessa água ser dispensada, é reutilizada para as descargas do mictório.

Água é usada para descarga nos mictórios. Foto: Patrícia Lima.

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Economia

A analista ambiental afirmou que nos últimos meses a economia tem sido ainda maior devido ao período de chuvas.

“Se a gente somar as cinco obras da nossa regional, a economia chega a 15 mil litros de água por mês. Fizemos também o levantamento do ano de 2022 e percebemos que foram mais de 100 mil litros economizados com práticas simples. Quando a gente soma todas as obras a economia é bem significante”, ressalta.

“Em relação ao reuso o principal benefício é a própria economia de água potável, ou seja, a gente vai reutilizar, para fins não potáveis, a água que seria descartada. Assim a água potável será destinada para fins mais nobres, como consumo humano. Com isso, a gente economiza água, reduz o uso de recursos naturais, gera economia financeira e é claro faz bem para o meio ambiente”, frisa.

Água da chuva é armazenada em reservatório. Foto: Patrícia Lima.

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Capacitações

A construtora também realiza capacitações com os funcionários sobre temas ambientais. São diferentes temáticas que agregam na rotina dos trabalhadores.

“São relacionados assuntos sobre economia de água e separação dos resíduos, economia de energia, conscientização sobre biodiversidade e ações que a empresa pratica. Isso é necessário para os funcionários entenderem as iniciativas como segregação dos resíduos que precisa muito do envolvimento deles”, diz a analista.

Um fator bem interessante é que essas medidas tomadas pela empresa surtem efeito. Com o passar do tempo os próprios funcionários começam a cobrar que as ações continuem sendo realizadas.

“Muitas pessoas trabalham com construção civil há anos e antigamente não existiam essas práticas. Os colaboradores falam para a gente que estão aprendendo coisas novas, antes não tinha separação de resíduos, preocupação com o reuso de água e economia de energia e agora tem. Depois das capacitações os funcionários observam para que as cumpridas”.

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Água da Chuva

Existem medidas para o reuso de água em prédios conhecidos de Goiânia, como é o caso do Órion Complex que tem duas ações para gerar economia.

“Hoje no nosso sistema de reaproveitamento de água temos a captação da água da chuva e drenos do ar-condicionado que é o sistema mais inovador que utilizamos. Nós usamos um reservatório e toda a água da chuva é acumulada nele que tem uma alimentação constante dos drenos do ar-condicionado”, explica o engenheiro eletricista do Órion Complex, Leopoldo Gouthier.

Ar condicionado

O engenheiro ressalta que em todos os equipamentos de ar-condicionado existe a água de condensação e um dreno para descartá-la, porém o sistema utilizado no edifício reaproveita o que seria desperdiçado para gerar economia.

“Aqui no empreendimento a gente fez uma rede exclusiva que capta o dreno do ar-condicionado de todas as salas. Com isso, eu canalizo a captação até chegar nos reservatórios de reuso. O melhor é que conseguimos ter água nos períodos mais quentes do ano, que são os períodos de seca onde não há chuva”, pontuou.

A segunda ação é o reuso da água da chuva. Leopoldo explica que na prática há uma dinâmica para acumular a água.

“É bem simples, a minha rede de água pluvial é canalizada e tem um trajeto até chegar no mesmo reservatório de reuso, onde está água coletada do ar-condicionado. Isso funciona, porque eu tenho um acúmulo de água e eu vou conseguir chegar no limite do meu reservatório”, ressaltou.

E aos poucos de gota em gota surge uma grande economia de água e de dinheiro.

“No período mais quente eu tenho mais pessoas usando o ar-condicionado, isso gera um fornecimento maior e eu consigo economizar até 20 m3 em fornecimento de água pelo ar-condicionado. Quando eu converto isso em valores dá aproximadamente R$ 450 por dia, em um mês eu teria uma economia de R$13.500 que é algo bem expressivo.”

Decantador utilizado no processo de reaproveitamento da água. Foto: Patrícia Lima

Repense

Esta reportagem integra a segunda temporada da série Repense desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Renapsi e da  Fundação Pró Cerrado. Ao longo de 48 episódios abordamos temas relativos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) da Organização das Nações Unidas ONU. Nesta reportagem a temática inclui os ODS: 06 – Água potável e saneamento, 11 – Cidades e comunidades sustentáveis e 12 – Consumo e produção sustentáveis.

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