O doutor em direito e mestre em economia Bruno Carazza analisou, em entrevista à Sagres, os dados das migrações partidárias para as eleições 2022, além das pesquisas que têm apontado para uma recuperação do presidente e pré-candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL). “Os números sinalizam para um crescimento da candidatura de Bolsonaro, o que torna a eleição ainda mais competitiva, acirrada e incerta”, afirmou.

Pesquisa divulgada nesta quinta-feira (7) pela Quaest mostra o ex-presidente Lula em 1º lugar, com 45% das intenções de voto e Bolsonaro em 2º, com 31%. Desde novembro de 2021, Lula tem oscilado entre 48% e 44%, enquanto Bolsonaro registra seguidos crescimentos nas pesquisas. Nos últimos cinco meses, o atual presidente cresceu 10 pontos percentuais nas intenções de voto.

Divulgação: Quaest Pesquisa e Consultoria

Segundo Bruno, há uma conjunção de fatores para o crescimento de Bolsonaro, a começar pelo fato de Jair ser o atual presidente. “No comando do país, ele usa o governo para atrair voto, tanto em termo de orçamento quanto de políticas públicas e econômicas, além de estar na mídia o tempo todo”, detalhou o especialista, que ressaltou que nenhum presidente, desde a criação da reeleição no Brasil, foi derrotado nas eleições.

A falta de um nome forte da terceira via também pode contribuir para essa recuperação. “Com o uso cada vez mais frequente de recursos orçamentários e políticas sociais, com apoio político que Bolsonaro recebeu dos caciques do Centrão, a tendência é que daqui para frente, o presidente cresça e comece a diminuir essa vantagem, por enquanto folgada. Temos seis meses até a eleição com o governo utilizando de todos esses mecanismos para aumentar as chances de reeleição”.

Ouça a entrevista completa:

A terceira via, com um nome forte poderia capitalizar cerca de 25% dos votos, correspondentes às pessoas que afirmam nas pesquisas que não querem votar nem em Bolsonaro e nem em Lula. Porém, diante da falta de consenso não só Bolsonaro, como Lula também deve correr atrás desses eleitores.

“Perdeu-se muito tempo com candidatos que tinham um nível de rejeição muito alto, como João Dória (PSDB) e Sérgio Moro (UB). Perdeu-se muito tempo para viabilizar a campanha, o que não quer dizer que seja inviável, mas a medida que o tempo passa, mais complicado fica de ter chances de ser competitivo”, declarou Bruno, que ainda disse o que Bolsonaro e Lula farão para conquistar a preferência desses eleitores: “Bolsonaro tentará resgatar pessoas que votaram nele e se arrependeram e Lula tentará ampliar o apoio para além da esquerda”.

Migrações partidárias

Para além das pesquisas de intenção de voto, que podem apontar para o apoio da população, há a busca por apoio político. Nos últimos meses, os partidos se movimentaram para as eleições proporcionais, com a mudança de siglas por parte de vários pré-candidatos. Com dados preliminares, Bruno Carazza identificou “um fortalecimento muito grande dos partidos que apoiam o presidente Bolsonaro”.

“Isso aconteceu no Congresso e em várias assembleias legislativas, praticamente, no Brasil todo. A campanha do Bolsonaro, agora comandada por partidos do Centrão conseguiu aglutinar ao redor de si uma série de políticos que estavam dispersos em outras legendas”, disse o doutor em direito, que analisou que agora Bolsonaro conta com uma lógica eleitoral que não existiu em 2018. “Há uma estratégia, capitaneada pelos partidos do Centrão, que muda bastante o cenário eleitoral para este ano”.

Leia também: “Imunidade parlamentar para as redes sociais é contrassenso em PL das Fake News”, analisa advogado

Para Bruno, o fim das coligações, aliado aos “valores cada vez mais altos do fundo eleitoral e dos recursos orçamentários, tanto do oficial, transparente, como os bilionários do orçamento secreto”, estão entre os motivos dessa movimentação. “São coisas que se completam e fizeram com que os partidos do Centrão, que controlam o Congresso e a execução orçamentária tivessem mais força para atrair políticos dispersos”.

Do outro lado, Bruno observou que o PT e a esquerda não conseguiram realizar o que Lula anunciou ao se colocar como candidato. Segundo ele, Lula disse que trabalharia para construir uma frente ampla que iria desde a esquerda até a centro-direita, mas não houve nenhuma migração de peso para o bloco do ex-presidente até este momento, a não ser a do ex-tucano Geraldo Alckmin, pré-candidato a vice-presidente.

“Isso mostra uma dificuldade da candidatura de Lula de atrair esses políticos, de ampliar o apoio, o que pode ser um problema na medida que as pesquisas já revelam crescimento na intenção de votos em Bolsonaro. O que a gente percebe é que as migrações que aconteceram foram no campo da própria esquerda”, destacou.

Leia mais:

Assista a entrevista no Sagres Sinal Aberto: