O prazo para as filiações partidárias está acabando e persiste uma dúvida: afinal, qual será o destino do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles? Candidato dos sonhos do governador Alcides Rodrigues (PP) e de seus fiéis aliados, o ministro ainda não confirmou se vai integrar os quadros do PP. Mais: nos últimos tempos, começou a ganhar força a tese de que ele pode se filiar ao PMDB e se unir ao prefeito Iris Rezende em prol de uma candidatura única da base lulista ao governo estadual. Surgem, então, duas questões: como unir essas duas forças políticas em Goiás? E, será que essa união vale a pena?

Para se filiar ao PMDB, Meirelles precisa confiar muito em Iris, já que é o prefeito quem dita os rumos do partido. Nesse caso, o presidente do BC teria de negociar e garantir seu espaço na legenda e apostar que os peemedebistas iriam cumprir sua palavra. Mas Meirelles já está escaldado. Quando se filiou ao PSDB em 2002, ele tinha fechado acordo com o então governador, Marconi Perillo (PSDB), que lhe prometeu uma vaga para a disputa ao Senado pela chapa da legenda. E o que aconteceu? O tucano não cumpriu o trato, Meirelles ficou sem a vaga e teve de disputar as eleições para deputado federal. No PMDB, a história pode se repetir.

Quem garante que o prefeito Iris Rezende vai ceder espaço a Meirelles no partido? E quem pode garantir que as bases da sigla, no interior do Estado, vão recebê-lo de braços abertos? Ninguém. O fato é que, ao se filiar ao PMDB, Meirelles fica nas mãos de Iris. Peemedebistas ouvidos pela Tribuna continuam afirmando que o prefeito é o candidato natural e o melhor nome para representar a sigla no pleito de 2010. Apesar disso, estes mesmos peemedebistas defendem que, se Iris der sua palavra a Meirelles, ele a cumprirá.

Será?
Filiado ao PMDB e com o apoio de Iris, Meirelles pode se tornar candidato ao governo, encabeçando ampla chapa composta por partidos da base do governo federal. Nesse caso, o prefeito continuaria na Prefeitura e daria suporte à candidatura meirellista. As lideranças que defendem essa tese acreditam que esta seria uma saída honrosa para o prefeito que, segundo comentários de bastidores, já não estaria tão motivado a disputar o comando do Executivo estadual. Com a filiação de Meirelles e sua postulação, o prefeito teria a desculpa perfeita para se manter no Paço.

Afinal, desde que o presidente Lula esteve na Capital, por mais que petistas e peemedebistas neguem, seu discurso gerou uma desconfiança e abalou o relacionamento entre as legendas no Estado. Nos últimos dias, inclusive, Iris esteve com Lula e com Meirelles. Não se sabe ainda ao certo o teor das conversas, mas é evidente que o peemedebista teme ficar sem a prefeitura e sem o apoio do PT, que pode apoiar uma candidatura alternativa, dentro da base lulista.

O que se comenta pelos corredores do Paço Municipal é que o prefeito teria convidado Meirelles a se filiar no PMDB, mas não teria dado garantias de que apoiaria seu nome para a disputa ao governo estadual. E mais: nos bastidores, os peemedebistas dizem que o prefeito estaria disposto a dar espaço para Meirelles tentar se viabilizar, mas, ao mesmo tempo, jogaria com as possibilidades de o ministro ser candidato a vice em sua chapa ou ao Senado. Ou seja: a filiação ao PMDB seria uma aposta na palavra e na boa vontade do prefeito Iris Rezende. Como uma aposta, pode dar certo ou errado. É preciso pagar para ver.

Polêmica
Na última semana, as declarações do secretário municipal de Habitação, Mauro Miranda (PMDB), geraram polêmica e movimentaram a cena política goiana. É público e notório que o auxiliar de Iris é seu fiel escudeiro e não dá declarações sem o seu aval. Quando Mauro fala, expressa não só suas ideias, mas, também, os pensamentos do prefeito. E das declarações do secretário pode-se fazer pelo menos duas leituras: ou Iris age para ter Meirelles no PMDB e, com isso, transformar um possível rival em aliado potencial, ou o prefeito joga para a plateia, tentando mostrar que não tem restrições a Meirelles e que seu partido sempre esteve de portas abertas para recebê-lo.

O fato é que a filiação de Meirelles ao PMDB mudaria completamente o cenário da sucessão que vem sendo desenhado nos últimos meses. E os maiores prejudicados com essa possível mudança seriam o PP e o DEM, que depositaram no presidente do BC suas esperanças para as eleições de 2010. Tanto o PP quanto uma ala do Democratas liderada pelo deputado Ronaldo Caiado veem a possibilidade de aliança com o PSDB como a última alternativa a ser considerada.

PP-DEM
Depois do rompimento da base aliada, o PP se afastou do PSDB e as trocas de farpas entre pepistas e marconistas se tornaram cada dia mais frequentes. Atualmente, são tantas as arestas entre as legendas que a reedição dessa aliança para o próximo pleito se tornou uma das hipóteses mais remotas, dentre as cogitadas por especialistas e lideranças políticas goianas.

Já entre o Democratas e o PSDB a dificuldade de relacionamento se deve, sobretudo, às diferenças pessoais entre o presidente regional do DEM, Ronaldo Caiado, e o senador Marconi Perillo. O tucano e o deputado não se bicam. No entanto, há uma ala do DEM, liderada pelo ex-deputado Vilmar Rocha que apoia a candidatura marconista. E, a tendência é de que os democratas sigam divididos para o pleito estadual, se o partido lançar candidato próprio ou se o PP conseguir bancar uma candidatura.

Se nem o PP nem o DEM conseguirem emplacar uma candidatura de peso para contrapor às postulações de Iris e Marconi, existe ainda a possibilidade de democratas e pepistas passarem por cima das diferenças e apoiarem a candidatura tucana. Por quê? No interior do Estado, muitas lideranças dos partidos do “Tempo Novo” ignoram o racha na base e depositam em Marconi suas perspectivas de poder.

Isso significa que a filiação de Meirelles ao PMDB será ruim para PP e DEM, na mesma proporção em que beneficiaria Marconi. Afinal, o tucano pode recuperar o apoio das duas legendas e aumentar sua base – que conta hoje basicamente com PPS e PTB –, reconstruindo a coligação que possibilitou sua primeira vitória ao governo, em 1998, quando enfrentou Iris Rezende.

Em resumo: a aliança entre Iris e Meirelles pode dispersar mais do que agregar. No PP, o presidente do BC atrai o DEM e outros partidos como PR e PSB, por exemplo. No PMDB, sua postulação repele o democratas e o PP. Além de política, a questão também é matemática: é preciso buscar a composição que vai somar mais e evitar a que vai dividir forças. Difícil é fechar essa conta.

Alternativas
Sobre o pleito de 2010, o que não faltam são especulações. A possibilidade de filiação do presidente do BC, Henrique Meirelles, ao PMDB é vista por alguns como alternativa para o presidente Lula à candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à sucessão presidencial. Para outros, Meirelles seria o vice ideal na chapa da petista. As especulações neste sentido aumentaram após a divulgação da pesquisa CNT-Sensus na última semana. De acordo com o levantamento, a popularidade do presidente caiu e a candidatura da ministra ainda não conseguiu decolar.

Os números, segundo especialistas, já são suficientes para o petista considerar, e trabalhar, um nome alternativo ao de Dilma. Nesse contexto, o presidente do BC ganha destaque. Com reputação e prestígio internacional, Meirelles pode ser o “Plano B”do governo federal. A questão é saber se o PT, o PMDB e os demais partidos da base lulista aceitariam sua postulação, e se ele toparia entrar nessa disputa.

Enquanto Meirelles é considerado alternativa para a chapa apoiada pelo presidente Lula em nível nacional, em Goiás, os aliados do governo cogitam a hipótese de uma alternativa ao presidente do BC para a chapa governista de 2010. Nos bastidores, comenta-se que o senador Demóstenes Torres (DEM) seria o melhor nome para encabeçar a chapa apoiada pelo governador Alcides Rodrigues, caso Meirelles não dispute o governo de Goiás ou se filie ao PMDB.

A candidatura do democrata poderia salvar PP e DEM do apoio a Marconi. Difícil é imaginar Demóstenes abrindo mão de disputar a reeleição ao Senado para concorrer com Iris e Marconi ao governo do Estado. Mais do que escaldado, o senador é pragmático, o que leva a crer que o PP vai ter de procurar outra alternativa se quiser bancar uma candidatura. Talvez Ronaldo Caiado, talvez  Rubens Otoni (PT), ou ainda o vice-governador Ademir Menezes (PR). Quem sabe?

Saiba mais

* No PMDB, Meirelles fica nas mãos de Iris. É o prefeito quem dá as cartas no partido.

* A candidatura de Meirelles no PMDB, com o apoio de Iris, poderia agregar partidos como: PT/PR/PDT/PSC/PCdoB e PSB.

* Em contrapartida, Meirelles perderia o apoio do DEM, que ficaria sem alternativa e, consequentemente, poderia compor com Marconi. Mais: a postura do PP é uma incógnita. Há, inclusive, a possibilidade de o partido do governador também apoiar a candidatura marconista.

* Uma chapa única da base lulista encabeçada pelo PMDB no Estado, só seria viável com Meirelles, porque há a possibilidade de o PP apoiar a candidatura meirellista, mesmo no PMDB. O contrário dificilmente ocorreria. Se o candidato for Iris, as chances de o PP apoiar a chapa peemedebista são quase nulas.

* No PP, Meirelles contaria com a máquina do governo estadual e, certamente, com o apoio do DEM caiadista. Partidos como PR e PSB também poderiam aderir à candidatura meirellista.

* Nesse contexto, a tendência é de isolamento do PSDB que, no caso, contaria basicamente com o apoio do PTB e do PPS.

Fonte:Tribuna do Planalto